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Bala na Cesta

Lucas Bebê confirma inscrição no Draft de 2013 da NBA - será um bom momento pra isso?

Fábio Balassiano

19/04/2013 00h47

Na tarde desta quinta-feira a assessoria de imprensa de Lucas Bebê confirmou que o pivô, atualmente no Estudiantes, da Espanha, será inscrito no Draft da NBA que acontecerá em 27 de junho em Nova Iorque. Bebê participará de treinamentos nos EUA, de Camps, será avaliado pelos olheiros das franquias e tudo mais que faz parte do processo de seleção da NBA, mas a pergunta que fica é: será que realmente é um bom momento para ele fazer esse salto?

Sinto-me muito à vontade para falar do Bebê, pois é um cara que converso com razoável frequência e tenho um respeito muito grande. Surgiu muito bem dois anos atrás na Copa América Sub-18, não teve um 2012 muito bacana (jogou pouco na Espanha, foi mal no Mundial Sub-19 e retirou seu nome do Draft), mas nesse ano ele está bem no Estudiantes. Aos 21 anos, o rubro-negro (ele é torcedor doente do Flamengo) joga em média 13 minutos, tem 4,6 pontos, 3,3 rebotes e 1,03 toco por partida em um time que ainda luta por vaga em playoff (números que o colocam como um dos candidatos a revelação da temporada da liga ACB).

De todo modo, alguns números chamam bastante atenção: ele está entre os 20 primeiros que mais pegam rebotes ofensivos (1,6) e entre os seis com mais enterradas na Liga ACB (0,97). No campeonato espanhol, Lucas converteu 28 de seus 82 arremessos em enterradas (34%). Não dá pra afirmar, porque nem todos os jogos são exibidos pra cá, mas parece claro que, tal qual Nenê no começo de carreira, Bebê usa sua força física para pontuar em cravadas ferozes.

E aí, em minha opinião, reside o maior problema para ele fazer o difícil salto para a melhor liga de basquete do mundo. Se sua defesa é bem boa e precisa de alguns ajustes para se tornar excelente, Lucas ainda tem um arsenal ofensivo muito reduzido, muito dependente das enterradas e da força que consegue impor contra pivôs europeus (imaginem o brasileiro trombando com Dwight Howard em uma noite, Tiago Splitter em outra, Tyson Chandler na seguinte…). Na NBA, suas fragilidades seriam expostas rapidamente, e nem todo time tem paciência para cuidar e evoluir seus atletas, visto que a oferta de bons jogadores a cada ano em Draft, janela de transferências e trocas é imensa.

Pouco importa, aqui, o que eu faria, obviamente. A decisão é dele, de seus agentes, de sua família e de quem o cerca. Mas com um ano mais de contrato e uma possível multa a pagar ao Estudiantes em caso de escolha no Draft talvez seja mais recomendável ficar outro ano na Europa para evoluir ainda mais, ter treinos específicos de ataque e ser uma das referências ofensivas do time para sentir o peso de uma marcação mais pesada, mais concentrada. Só lembrando: ele não passa de 15 minutos por jogo e nem de 5 pontos por partida de média em seu primeiro ano jogando ativamente no time adulto – reflitam.

Depois disso tudo, aí sim, ele poderia tentar o recrutamento de 2014 com ótimas chances de ser escolhido entre os dez primeiros, ganhando, assim, um contrato maior, uma franquia que lhe dará mais atenção e menos responsabilidade de brilhar logo de cara (tal qual aconteceu com Nenê em Denver há uma década quando o brasileiro foi tratado com todo o carinho pelos técnicos da franquia – os treinadores do Nuggets tiveram paciência, carta branca da diretoria e um plano para fazer com que o ex-jogador do Vasco evoluísse gradativamente, sem queimar etapas ou desesperados por um rendimento imediato em quadra).

No final do primeiro round, como ele está sendo cogitado atualmente, provavelmente Bebê teria caminho parecido com o de Fab Melo no Boston. Seria colocado na D-League e ficaria um ano viajando de um lado para o outro, sem evoluir tanto como se estivesse em atividade ou treinando duas vezes por dia (até hoje não me conformo com Fab ter aprontado em Syracuse e não ter cumprido seu último ano na faculdade). Pensar na carreira a longo prazo e não em um emprego no curto prazo seja o mais apropriado, mas não a única forma de ver, agir ou pensar. Depende, como disse acima, da família, de Lucas e de seus agentes. Que todos tenham a cabeça no lugar para a melhor tomada de decisão.

E você, amigo leitor, o que faria caso fosse Lucas Bebê? Iria direto para a NBA ou esperaria mais um ano?

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