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Bala na Cesta

Alberto Bial fala sobre estreia do Basquete Cearense e do começo do trabalho em Fortaleza

Fábio Balassiano

16/04/2013 15h30

Por Thiago Carvalho, direto de Fortaleza (CE)

Alberto Bial é um desses guerreiros e desbravadores do basquete brasileiro. Técnico de Vasco e Fluminense no final dos anos 90 e começo do século, ele decidiu sair do Rio de Janeiro para conhecer e abrir novos polos da modalidade. Foi para Goiânia, onde treinou o Universo/Ajax e depois fincou pé em Joinville, onde comandou o projeto um sucesso na cidade do Sul do país. Depois de um ano "sabático", o treinador de 61 anos está em sua primeira temporada no Basquete Cearense que inicia hoje a sua luta nos playoffs do NBB contra o Paulistano em São Paulo. Adaptado a Fortaleza, ele fala sobre o começo de sua experiência no Nordeste, o campeonato do time e as expectativas para o mata-mata da competição.

THIAGO CARVALHO: O que esperar do Paulistano, adversário do seu time nos playoffs do NBB?
ALBERTO BIAL: O campeonato é o mesmo, mas com uma característica totalmente diferente nesta fase – a eliminação. Temos que estar preparados para tudo, para ganhar dentro e fora, para perder dentro e fora. Tem que estar preparado para cinco jogos. Ganhar os dois jogos do Paulistano na fase regular não quer dizer absolutamente nada. Ano passado, por exemplo, o time de Paulistano ganhou as duas de Franca na temporada e perdeu de 3×0 pro mesmo Franca nas oitavas-de-final. Então, precisamos mentalizar o que necessitaremos fazer durante as partidas e encarar o adversário com grande respeito pela grande equipe que tem, um clube já tradicional no NBB.

TC: O fator emocional, mais do que nunca, é decisivo nos playoffs e pode pesar. No jogo contra Vila Velha, tivemos uma prova bem clara disso, onde o time conseguiu a sua maior virada na competição (perdia por 21). Essa vitória serviu para elevar ainda mais o moral?
AB: Sim, o jogo sempre vale algo. Não era um amistoso como alguns pregavam e nem poupei jogadores. A vitória trouxe um alento, elevou a autoestima por causa dessa virada histórica e sensacional. Isso é um trunfo a mais que levamos pra série. Sobre os erros, estamos trabalhando para minimizá-los. Precisamos diminuir ao máximo para que as nossas chances aumentem. (Os erros) Vão acontecer, mas temos que estar preparados para não mexer com as estrutura emocional da equipe.

TC: Te preocupa o fato de o Paulistano ter jogado seu último jogo no dia 06/04 e não precisar viajar para o 1º jogo da série? E os jogos em dias seguidos, algum receito?
AB: Não, a minha maior preocupação é no momento das partidas, durante os 40 minutos. Esses fatores contras como viagem, desgaste, não me importam. Posso pensar também no aspecto positivo, pensar que o time está com ritmo de jogo, que está com uma moral elevada. O que me preocupa é jogo em si, pensar jogo por jogo. Sobre a sequência, nós teremos 17 horas de descanso entre o jogo 2 (sexta) e o jogo 3 (sábado). Mas todas as equipes terão que passar por isso, é mais um teste, mais um desafio pra todos os clubes. Acho que estão preparados.

TC: A respeito da campanha do time, alguma surpresa?
AB: Vou te confessar uma coisa que não falei para ninguém. No começo do campeonato, quando terminou a segunda rodada e tínhamos duas derrotas, estávamos com dificuldades, pois o time estava se sentindo ainda muito novo na competição, sem aquela harmonia. Aí falei com eles: "A partir de hoje, temos uma meta: ao final da 34ª rodada, buscaremos 18 vitórias". Quatro meses atrás. Foi legal alcançar o objetivo, já que tivemos que ter uma melhoria no sistema ofensivo, no jogo coletivo, tivemos bons e maus jogos, oscilando. Durante a competição nós aprendemos muito não com os nossos erros, mas consertando nossos erros. Sofremos com o desgaste das viagens, no qual em determinado momento do ano (janeiro) fomos a equipe que mais viajou com menos tempo de descanso. Mas a gente se preparou muito desde julho-agosto e o time foi ganhando corpo, uma identidade. Por isso é uma alegria muito grande conseguir tal meta. A gente ficou praticamente o tempo todo no G12, só nas primeiras rodadas que não. Quando as dificuldades apareceram, tivemos que trabalhar na busca dos motivos dentro da gente. Acho que tirando Flamengo e Brasília, todos tiveram uma fase de oscilação. Posso dizer que sou muito orgulhoso dessa campanha.

TC: Para quem não sabe, como surgiu a Associação de Basquete Cearense?
AB: Sou um apaixonado pelo basquetebol. A minha vida se confunde com o basquete. Quando saí de Santa Catarina e comecei a palestrar pelo Brasil, tive uma palestra no Ceará e identifiquei o potencial que seria fazer uma equipe inédita aqui. Então essa ideia surgiu e fui atrás do secretário de esportes (Gony Arruda) e do governador do Ceará (Cid Gomes). Durante a busca de apoio financeiro, eu ouvi muitos "nãos", "você não vai conseguir" e "isso é impossível", mas isso só me dava mais motivação pra continuar. Aí a gente foi atrás da SKY e, depois de algumas conversas, conseguimos concretizar a formação do clube em junho de 2012. Acho que o nosso projeto é um grande movimento para trazer à tona a importância do esporte na educação, na socialização do jovem. Já fomos a mais de 20 escolas e temos a meta de visitar 50 até o final do ano. Temos esse papel, essa missão de massificar e trazer milhares de crianças pro basquetebol. Estamos com um projeto de fazer mais de 1000 núcleos nos estado do Ceará. É um sonho, mas está sendo trabalhado e os recursos estão sendo captados. Além da peneira, estamos trazendo uma equipe da Itália pra fazer um Camp aqui para capacitar nossos professores.

TC: Nesse tempo em que você ficou ausente da função de treinador numa equipe de alto rendimento (cerca de 1 ano entre agosto de 2011 a julho de 2012), no qual fostes até comentarista, tivestes alguma dificuldade para voltar a comandar?
AB: Não, porque na verdade eu sempre estive no ramo, seja na equipe da Marinha do Brasil ou dando palestras. Olhei as questões do lado de fora, as críticas para aprender e desenvolver mais os meus conceitos. Foi muito bom para mim esse ano sabático, me senti renovado. Aproveitei para estudar mais sobre o assunto, tanto que tomei muito cuidado para montar esta equipe. Usei critérios de escolhas que incluem além da capacidade técnica a questão do caráter. Quero que as duas coisas caminhem juntas, porque, mais cedo ou mais tarde, há um desgaste e não quero isso na minha equipe.

TC: Tocarei num assunto meio chato. O que houve com o ala americano Robinson (dispensado)?
AB: Foi um jogador que não acertamos na contratação. Um atleta que teve muitos problemas físicos e acabou não se adaptando ao nosso ritmo de trabalho. O seu joelho estava bem deteriorado e não teríamos como recuperá-lo na competição. Por fim, achamos melhor liberá-lo para fazer tratamento nos EUA. A gente erra, foi um erro meu. Não acertamos tudo.

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