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Bala na Cesta

Feliz no Sport, Adrianinha repensa aposentadoria da seleção: 'Se for pra ajudar eu volto'

Fábio Balassiano

02/04/2013 12h00

No dia 5 de agosto de 2012 Adriana Moises Pinto registrou 15 pontos e 12 assistências contra a Grã-Bretanha antes de anunciar a sua aposentadoria da seleção. Naquela tarde nas Olimpíadas de Londres Adrianinha, bronze com o time nacional feminino em Sydney-2000 e quarto lugar em Atenas-2004, fechava um ciclo de mais de uma década e abria espaço para a nova geração dizendo-se cansada e um pouco frustrada com os dois últimos Jogos Olímpicos (penúltima em Pequim-2008 e nona em Londres-2012).

Mas o tempo passou, a armadora de 34 anos voltou a jogar no Brasil depois de mais de 10 anos (e ainda em altíssimo nível), o carinho do torcedor do Sport-PE, que venceu Americana no último sábado e agora pode conquistar o título da LBF no próximo fim de semana em casa, o deixou balançada e ela confirmou pela primeira vez que pode, sim, voltar a jogar pela seleção brasileira feminina adulta. Entre um pedido de casamento e outro da torcida de Americana ("é bom ouvir isso, né") ela concedeu entrevista exclusiva ao Bala na Cesta.

BALA NA CESTA: Queria que você falasse um pouco deste primeiro jogo e da expectativa para o segundo duelo contra Americana que pode decidir o título no Recife.
ADRIANINHA: Foi bem difícil, como a gente já esperava, né. Elas têm uma defesa muito forte, e tiraram a gente do nosso melhor jogo no começo da partida. E pra vencer uma marcação como é a de Americana não dá pra individualizar muito, não. A gente conversou, ouviu o Roberto (técnico) e jogou coletivamente. Não tem mais essa de uma ou duas jogarem sozinhas para ganhar um jogo, isso é muito claro. Como equipe fomos muito bem na segunda etapa. Para o segundo jogo temos que repetir os 20 minutos finais, é isso que precisamos. Caso ganhemos será um fato inédito e será uma emoção muito grande. Quem sabe isso incentiva outros times de futebol a investirem no basquete, né. Está sendo muito bacana a experiência, só posso agradecer ao Sport-PE, que acreditou na gente desde o começo. O basquete feminino está muito carente de investimentos.

BNC: Você falou sobre essa "carência", e queria falar com você sobre a LBF. Foram apenas sete times, não houve returno, o campeonato demorou a começar. É um absurdo isso, não? E como reverter?
ADRIANINHA: É falta de respeito, não dá pra dizer o contrário. Para reverter temos que repatriar as que ainda estão fora e dando forças as que estão aqui no país e não conseguem jogar. Houve times que fecharam as portas (Presidente Venceslau, Catanduva, São Caetano, Mangueira) e as meninas ficaram sem emprego, sem condição de atuar. É muito triste isso. A gente fica na expectativa de ter 10 times pra jogar, só isso. Olho pro masculino e vejo 18 no NBB e acho o máximo, Bala. A gente não tem isso. Precisamos nos unir, falta muita coisa. Pelo menos um playoff final com melhor de cinco jogos poderia ter ocorrido para chamar mais atenção para a competição, mas nem isso houve. É uma pena, é uma pena mesmo. Precisamos reagir.

BNC: No ano passado você jogou Olimpíada e terminou aquele jogo contra a Grã-Bretanha dizendo que era sua última participação com a seleção brasileira. Mas a Copa América vem aí, há um técnico novo e um comando novo na Confederação. Dá pra pensar em voltar ou acabou mesmo o seu ciclo?
ADRIANINHA: Olha, eu falei aquilo porque eu estava muito chateada com a situação do basquete. Não só com a campanha na Olimpíada mas principalmente com os quatro anos anteriores, com tudo o que passamos na seleção. Não foi legal. A gente estava precisando ter uma mudança. Para te citar um exemplo, a troca de técnicos não ajudou em nada a gente. A seleção, hoje, não tem uma cara. E te cito como exemplo times como a Argentina e o Canadá, que não têm muito talento mas que possuem a mesma filosofia de jogo, a mesma cara há anos. Por isso são respeitados. Não pelo time, pela colocação que chegam, mas sim por todo mundo saber que ali está uma equipe nacional com uma identidade. A Austrália a mesma coisa, mas em um nível técnico superior. Já nós não temos isso há algum tempo já. Nós trocamos de técnico o tempo todo. A gente não conseguiu criar uma identidade nossa, infelizmente. Agora trouxeram o Zanon, que pelo menos conhece do basquete feminino brasileiro e as meninas que atuarão pra ele na seleção. Isso vai dar muito certo. Não chegaram e jogaram ele lá, como fizeram com o Carlos Colinas, por exemplo. O Tarallo, por sua vez, nunca tinha tido uma experiência em uma equipe adulta. O Ênio, por sua vez, não conhecia muito do feminino e teve dificuldade. Então eu desejo sorte ao Zanon e torço de coração para o trabalho ter continuidade, ter sequência. Isso é o mais importante.

BNC: Tá legal, Adrianinha, mas você não respondeu. Joga ou não pela seleção?
ADRIANINHA: (Risos) Ah, eu volto. Se eu puder ajudar, nem que seja só pra treinar, eu volto. Se for pra ajudar as meninas e o basquete brasileiro eu volto, eu faço o que for. Se for só pra treino, pra dar conselho, eu contribuo. Eu só não quero tirar a vaga de ninguém, ocupar um espaço que poderia ser de outra pessoa. Mas se eu puder auxiliar, se eu ainda for útil, jogo na seleção, sim, sem problema algum e com o amor de sempre.

BNC: Pra fechar, uma perguntinha pessoal. Como tem sido este retorno ao Brasil? Você jogava há dez anos na Europa e agora tem a possibilidade de ficar com sua filha, Aaliyah, de seis anos (foto: Marcos do Carmo), ainda mais próxima da família.
ADRIANINHA: Cara, você não tem ideia, mas esta será a primeira vez que, em 10 anos, eu passei a Páscoa em casa. Isso não tem preço. Depois desses anos lá fora morar em Recife com minha filha tem sido o paraíso. Só quem já morou lá fora sabe que há momentos difíceis pacas. Há uma cultura nova, uma língua que você aprende, mas não é seu país, entende? Estou descascando no rosto por causa do sol, mas tem sido maravilhoso viver com minha filha em meu país. Passei dez anos passando frio e estou recuperando os 10 anos de neve no calor do Recife (risos).

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