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Bala na Cesta

Alex revela segredos de sua defesa e diz que marcação em Ginóbili foi a melhor da carreira

Fábio Balassiano

14/03/2013 11h30

Melhor defensor do Brasil há quase uma década, Alex Garcia não é o cestinha de Brasília (Nezinho), talvez não seja a válvula técnica de escape da equipe (Giovannoni) e tampouco responde pelos chutes de perímetro com precisão (Arthur). Mas deste canto eu não hesito em dizer que Brasília só conseguiu a hegemonia do NBB nos últimos três anos por conta do atlético e raçudo ala-armador que comanda a marcação do time da capital com maestria. Bati um papo bacana sobre defesa com o Brabo, de 33 anos. Vamos lá.

BALA NA CESTA: Você é um dos caras mais exigentes do time em termos de defesa, dá pra ver você cobrando da garotada um pouco mais de postura, um pouco mais de pegada na marcação. O que o Isaac e o Ronald, dois dos mais jovens, escutam no treinamento diariamente?
ALEX GARCIA: Olha, tento passar pra eles um pouco do que aprendi sobre defesa. Tento passar pra eles quão importante é marcar, cobrir os espaços. É algo que brigo muito com eles mesmo, todo mundo sabe. Defesa você pode aprimorar, mas você não ganha, sabe. É igual a impulsão – ou você tem ou você não tem. Sempre gostei de marcar, sempre gostei de chegar junto mesmo. Pra mim, parar um jogador importante, como foi recentemente com o Marquinhos (leia mais aqui) é como se tivesse feito 30 pontos. Fico feliz do mesmo jeito por ter ajudado a equipe. Esse é meu jogo. Se eu estou bem na defesa, o ataque pra mim não importa. Se é o oposto, fico preocupado porque meu foco é lá atrás mesmo. Voltando sobre os dois garotos. Principalmente com o Isaac eu pego no pé, porque é da minha posição, tem uma boa força física e dou uns toques nele. Peço pra ele usar as pernas diferente do que ele está usando e isso vem ajudando para que eles evoluam na carreira.

BNC: Quando você joga contra um Marquinhos da vida, um Shamell, um Larry Taylor, como é seu trabalho antes das partidas? Você estuda, pega vídeo, como é?
AG: É vídeo mesmo, é muito estudo. É mais de observação, mas como gravo muito jogo na televisão é ficar olhando e observando mesmo. Tenho jogo em casa de todo time do NBB e quando tem jogo eu coloco pra assistir contra quem iremos jogar. Pego dois, três dias antes, mas eu não vejo nossa parte de ataque, não. Foco na parte ofensiva do cara que vou marcar e vou vendo como posso pará-lo. Para que lado ele gosta de cortar, onde ele tem mais dificuldade pra driblar, que tipo de arremesso eu posso tirá-lo de sua zona de conforto, essas coisas.

BNC: Quem é o jogador mais difícil de marcar no Brasil?
AG: Olha, aqui no Brasil tem muitos, muitos mesmo. Marquinhos é difícil porque é um jogador alto, e quando dá um fade-away (giro de costas pra cesta) é complicar marcar. Shamell é complicado, o Robert Day e o Collum, de Uberlândia, são também, o Benite entra nessa lista. Pra ser sincero, eu prefiro marcar jogador mais forte que eu, mais alto, isso me facilita. Às vezes, marcar caras mais baixos, como foi na Olimpíada com o Juan Carlos Navarro ou Rudy Fernandez (Espanha), é mais enrolado porque os caras são muito leves e qualquer contato é falta. Nos treinos, contra o Nezinho, procuro sempre cercar, porque se encostar o tranco é forte a chance de cometer uma infração é grande.

BNC: Você se sente pouco valorizado pelo tipo de jogador que você é, visto que no Brasil o foco acaba recaindo sempre no ataque?
AG: Olha, não, não mesmo. A nossa cultura aqui é assim, né. É normal. É fazer gol, é fazer muitos pontos. Eu não me sinto desvalorizado, não. Eu sei minha posição, minha função, e meu time e a seleção sabem o que posso fazer. Sou muito bem resolvido em relação a isso e tento fazer da melhor maneira possível. Independente de ser no ataque ou na defesa, se fizer bem feito a gente sempre vai ser reconhecido. Alguém vai reconhecer. Sinto-me assim.

BNC: Pra fechar, qual foi a atuação que você chegou em casa e falou pra sua esposa 'Olha, hoje eu marquei pra cacete. Moí o cara o jogo todo'?
AG: Essa do Marquinhos foi uma boa. Algumas ano passado contra Bauru nos playoffs em que marquei o Larry Taylor eu fui muito bem. Jogo difícil, e cai naquilo que te falei. É um cara forte, porém mais baixo. Tinha que tomar muito cuidado, mas consegui ter sucesso. Mas, pra ser sincero, a que eu vejo até hoje e me lembro muito foi contra a Argentina no Pré-Olímpico de 2011, aquele primeiro jogo contra eles. Marquei o Manu Ginóbili e foi uma defesa importante (Nota do Editor: naquele jogo o argentino chutou 5/12 de quadra, 0/3 de fora, teve dois erros e o Brasil venceu por 73-71). Contribuí muito e a seleção saiu vitoriosa.

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