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Bala na Cesta

Discreto, técnico Raul Togni evita previsões, mas quer recolocar o Minas na elite do NBB

Fábio Balassiano

13/12/2012 07h39

Discreto. Esta talvez seja a melhor palavra para descrever o técnico Raul Togni, no comando do time adulto do Minas Tênis Clube pelo segundo ano consecutivo. Aos 47 anos e depois de longa carreira como armador de times como Bauru e o próprio Minas, ele abraçou a carreira de técnico e começou muito bem o NBB5 com quatro vitórias em cinco partidas pelo time da capital mineira (hoje seu time mede forças com o Paulistano, até então invicto, em São Paulo às 20h). Conversei com ele após o triunfo contra o Palmeiras sobre as expectativas para a temporada, o que ele almeja para sua vida profissional e, claro, sobre seu filho, o armador Raulzinho.

BALA NA CESTA: No jogo contra o Palmeiras (vitória por 89-77), um momento me chamou muito a atenção. O Minas ganhava no terceiro período quando você trocou a defesa (para uma por zona). O Palmeiras matou quatro, cinco bolas longas e você pediu tempo. Mas manteve a tranquilidade, disse que faltava um pouco de atitude ao time para não aceitar passivamente o ataque do rival e modificou o panorama com a marcação individual. Poderia falar sobre este momento?
RAUL TOGNI: Momento legal este mesmo. O basquete brasileiro está muito acostumado a marcar por zona e ficar descansando. É o que chamo aqui de "Zona Avião", ou seja, o atleta para, abre os dois braços e fica lá, esperando a definição do ataque. Não é assim, né. Deveria ser o mesmo princípio da individual, com o homem mais próximo da bola chegando para fazer o abafa. Parece simples, mas meu time ainda não está preparado para este tipo de marcação, e eu fiz questão de mostrar isso a eles. Vamos ter que treinar demais este tipo de defesa por aqui ainda.

BNC: E o que você está planejando pro campeonato? Começaram bem, e diferente do ano passado neste ano você possui atletas mais rodados e pode almejar algo maior.
RT: Verdade. Temos o Beal, o Renato, o Douglas Nunes, Betinho e o Borders. São 18 equipes, e o primeiro objetivo é estar entre os 12. Parece pouco, mas no NBB passado não conseguimos nem isso, lembra? Mas só durante a competição saberemos em que patamar estamos. Temos dez jogadores que chegaram há pouco tempo, e entrosamento demanda tempo, treinamento, muita dedicação. O começo tem sido bacana, o time está começando a ganhar corpo. Mas só com o tempo vamos saber se podemos realmente brigar pra ficar entre os quatro, o que seria bem bacana pra gente.

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BNC: Na temporada passada, você me disse que o time não tinha uma característica importante pra qualquer grupo – liderança. A vinda do Renato, ala experiente pacas, foi justamente pra suprir este tipo de deficiência da sua equipe no NBB4?
RT: Matou, é isso mesmo. Eu trouxe o Renato por este motivo. Por vezes ele é um pouco áspero na forma de liderar, mas ele tem um objetivo claro que é fazer com que a equipe evolua. Isso é muito bacana e todos estão cientes que ele só quer o melhor do Minas. Eu o vejo como um líder, assim como  Mark em outro extremo (são lideranças bem diferentes e que complementam), e o grupo está entendendo isso, o que é ótimo.

BNC: E pra sua carreira, o que você está esperando? Você está em seu segundo ano como técnico principal do Minas e queria entender o que está na sua cabeça para sua vida profissional.
RT: A posição de técnico você precisa estar sempre estudando, não tem muito jeito. Tive vários bons técnicos (Mortari, Hélio Rubens, Mike Frink aqui no Minas, entre outros), e estive recentemente na Espanha com o Sito Alonso (técnico do Lagun Aro) onde aprendi horrores também. Você ouve daqui, aprende dali e acaba se moldando como técnico da maneira que acredita ser a mais apropriada para seu perfil. Fiz vários cursos aqui no Brasil e minha intenção é viver no basquete. Ter uma equipe boa, como a desse ano, é muito legal e sei que vou crescer. Administrar pessoas não é fácil, mas é algo que me anima, me apaixona. Quero evoluir para um dia, quem sabe, chegar à seleção brasileira. Não é algo que coloco como foco principal, não, mas não posso deixar de sonhar com isso. Meu presente e o que me alimenta é o basquete, minha paixão. Quero compartilhar isso diariamente com meus atletas, e é isso que me motiva todos os dias. Basquete é um jogo de paixão e disciplina, e passar isso a eles é minha missão.

BNC: Sobre o trabalho do Minas, queria que você falasse um pouco sobre a integração do adulto com a base, comandada pelo Flávio Davis.
RT: A gente tem uma estrutura esportiva muito grande, e por ser grande é bastante complexa. No basquete a gente está sempre procurando conversar com o Flávio e o pessoal que cuida da base para seguirmos a mesma linha de raciocínio. Por mais que o clube queira revelar, nem sempre é o que acaba se refletindo no adulto. O que eu busco, sempre, é que os meninos da base entendam que faz parte do processo de crescimento deles. Alguns, como o Cristiano Felício e o Cauê, não entendem isso e acabam buscando seu próprio espaço. Outros, como o Leonardo Demétiro e o Bruno, entendem e permanecem conosco. Eles sabem que aqui há uma estrutura de trabalho fenomenal e raro no país.

BNC: Pra fechar uma provocação: já dá pra dizer que você virou pai do Raulzinho, ao invés de o Raulzinho ser seu filho, dado o sucesso dele na Espanha?
RT: (Risos) Faz tempo, cara. E isso me deixa feliz pacas porque o Raulzinho hoje é uma realidade. Lógico que pelo que conheço dele há muito a evoluir e a crescer, e espero que este desenvolvimento dele como pessoa e profissional continue. Mas pra idade dele, jogar na Espanha como armador principal na ACB, com média de quase 30 minutos, é um sinal de que ele está indo muito bem. Está sofrendo um pouco neste começo de carreira, o que é normal, mas vai colher os frutos. É um menino que me dá muito orgulho como amante do basquete, e muito mais ainda como pai.

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