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Bala na Cesta

Paulinho ‘esquece’ oscilações e, maduro, guia o Pinheiros a mais uma decisão do Paulista

Fábio Balassiano

22/11/2012 00h55

Quando surgiu no time de Mogi no começo de século, o armador Paulo Heitor Boracini era visto como o futuro do time e também da seleção brasileira. Mas não foi bem assim que a carreira de Paulinho caminhou. Mogi acabou fechando as portas, e a camisa amarela ficou um pouco mais distante dele com performances muito irregulares. Dono de absurda velocidade e muita técnica, o agora titular absoluto da equipe que enfrenta São José pelo jogo 1 das finais do Paulista nesta noite em São Paulo passou por poucas e boas até ser visto como um dos jogadores de elite no basquete brasileiro. Ele passou pelo próprio Pinheiros, jogou na Itália, Paulistano e Joinville até voltar ao Pinheiros no começo da temporada passada para dividir minutos com o argentino Figueroa. O cara rodou tanto que seu filho mais velho, o intrépido Luca (6 anos), perguntou a ele no final do último NBB: "Papai, para que cidade nós vamos agora?". O camisa 9 não iria a lugar algum, decidiu ficar, ganhou o posto de armador titular com a saída de Figueroa, mostrou seu valor (deu a classificação ao clube na Liga das Américas com chute milagroso de três) e tem mantido as consistentes médias de 17,1 pontos e 5,5 assistências por partida na competição. Nesta entrevista o maduro e falante Paulinho, com 27 anos, fala sobre sua carreira, do duelo especial contra Fúlvio, de quem é padrinho de casamento, e de seleção brasileira. Confira!

BALA NA CESTA: O que você está esperando dessa final, uma revanche contra Sao José?
PAULINHO BORACINI: Estamos nos preparando para jogos difíceis contra um time que sempre tem chegado às finais. Isso mostra a qualidade que eles têm e estamos cientes disso. Esse papo de remanche a gente deixa pra eles, já que na ultima decisão quem levou foi o Pinheiros…

BNC: Há um duelo especial e interessante entre você e o Fúlvio na armação. São estilos diferentes, mas ambos têm jogado muito bem. Pelo que vejo no Twitter, vocês se dão bem fora de quadra, não? Como será enfrentá-lo?
PB: Conheço o Fúlvio desde que ele atuou em Mogi, minha cidade em 2002 e desde então criamos uma grande amizade. Ele até casou com uma mogiana que já era conhecida da minha esposa, então sempre estamos em contato (nota do editor: Paulinho é padrinho de casamento de Fúlvio). Sobre o estilo de jogo, Fúlvio de uns anos pra cá prioriza mais o passe, mas consegue atacar a cesta quando seu time não está fluindo. Já eu sou mais acelerado e sempre tento criar uma situação de perigo, tanto indo pra cesta ou forçando uma ajuda para abrir espaço para meus companheiros.

BNC: O Pinheiros se classificou quase 15 dias antes da primeira partida final do Paulista. A falta de ritmo de jogo pode atrapalhar, ou é melhor estar descansado? O calendário de Paulista, NBB e Sul-Americana preocupa vocês?
PB: A gente vem treinando direto pra se manter focado e tentar não perder ritmo de jogo, mas sabemos que treino não é igual a jogo. Acredito que muito disso está na cabeça também. Sabemos o que queremos e vamos buscar isso na Final. O calendário desse ano ficou a desejar, temos pela frente muitos jogos e todos praticamente decisivos entre final paulista, semifinal da Sul-Americana e começo do NBB. O jeito, porém, é pensar jogo a jogo e deixar acontecer. Se pensar no tanto de jogos e no tempo em que serão jogados dá até uma preocupação.

BNC: Você é um cara que assiste tudo, é antenado e queria que falasse um pouco sobre o estilo brasileiro que vemos no basquete atual. Brasileiro gosta de correr e argentino gosta de pensar, é isso mesmo?
PB: Cara, já está melhorando um pouco isso, e não pode-se dizer que a gente não gosta de atacar. Isso está no nosso sangue, na nossa essência. É do brasileiro isso e não é fácil de mudar, não. Acredito que precisamos, e até queremos, adquirir isso de jogar no cinco contra cinco de maneira consistente, mas toda vez que entramos neste tipo de jogo os argentinos levam uma baita vantagem contra nós. Agora, quando partimos pra correria, pro jogo de contra-ataque, eles têm dificuldades de nos parar também. É meio contraditório, mas é assim que tem funcionado. Temos que melhorar muito, sim, na defesa, na paciência para definir os ataques e nos lances-livres. O que eu vejo muito, e você cansa de falar isso no seu blog, é que jogos na Europa e na Argentina, quando os times abrem dez, 15 pontos, acabou o jogo, a vitória não muda de lado. Aqui ainda oscilamos demais, muda-se a frequência do time em quadra demais durante as partidas.

BNC: Queria falar um pouco sobre você, que surgiu muito bem no Mogi, depois rodou um bocado e chegou ao Pinheiros ano passado. Ano passado você chegou pra ser reserva do Figueroa e agora consegue a titularidade da equipe.
PB: Já rodei um bocado, né (risos). Vim pra cá de Joinville já com o Paulista do ano passado em andamento depois de conversar com a diretoria e mesmo com o time fechado eu vim focado para agarrar esta oportunidade ótima que tive. Entrei bem nos jogos, e com o Figueroa a nossa equipe tinha dois estilos diferentes, complementares. Fala-se muito hoje em dia que armador chuta muito, mas cada liga tem quatro, cinco armadores puros, daqueles que só passam a bola pros companheiros. O resto hoje em dia pontua e passa bem. É o meu estilo. Eu sou mais acelerado, e gosto mesmo de ir pra cesta. Aqui no Pinheiros temos o Fernando Penna, o Joe e eu, e desde que eles chegaram ainda não perdemos.

BNC: E seleção, ainda passa pela sua cabeça? Você está com 27 anos, tem jogado em alto nível aqui, mas a concorrência é fortíssima na sua posição, não? Onde você mais precisa melhorar?
PB: Já tive oportunidade de jogar em seleção, mas nunca tive sequência. Pegava seleção um ano, mas não no seguinte. Hoje a concorrência de fato é grande, ainda mais com os meninos na Europa. Às vezes eles não estão muito bem lá, não, mas fala-se que estar na Europa é importante, é fundamental, né. Eu já fui por ser novo, e hoje eles estão tendo a oportunidade. Tenho 27, ainda é uma idade boa para jogar em seleção, e penso, sim, em voltar. Sei que é muito difícil, mas não posso parar de sonhar. Só preciso jogar bem. Não adianta ficar pensando sem jogar legal. Onde preciso evoluir mais sem dúvida é a defesa, isso tenho muito claro.

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