Referência, comentarista Álvaro José relembra com saudade começo da NBA em TV aberta
No começo da década de 90, quem via as partidas da NBA na TV Bandeirantes ouvia aquela voz forte e empolgada nos comentários. Era de Álvaro José, que, ao lado do narrador Luciano do Valle, trazia as emoções da melhor liga de basquete do mundo pela primeira vez para o Brasil. Era a época de surgimento de Michael Jordan, Magic Johnson, Shawn Kemp, Karl Malone, Patrick Ewing e de toda efervescência que cercava aquele campeonato que cativava o público daqui e de lá. Por isso o blog decidiu, seguindo a sugestão de um leitor (não vou me lembrar de quem, sinceramente), ouvir aquele que foi uma espécie de "padrinho" de todos aqueles que tiveram a sua iniciação no basquete em TV aberta com aquela magnífica fase da NBA (eu me incluo neste grupo).
BALA NA CESTA: Para quem começou a acompanhar a NBA na década de 90 (o meu caso), sua voz sempre foi a do comentarista naquelas transmissões da Rede Bandeirantes. Passados quase 20 anos, qual é a sensação que fica? Dá saudade?
ALVARO JOSÉ: A sensação é de muita saudade. Sei que aqueles tempos não voltam e também não sou de olhar para trás, mas sei que poucos viram a alguns metros de distância Michael Jordan, Larry Bird, Patrick Ewing e Magic Johnson. De lá para cá muita coisa mudou, mas o talento deles é incontestável.
BNC: Já parou pra pensar que grande parte desta molecada que hoje escreve e consome tudo sobre NBA te tem como grande "padrinho" quando o assunto é a iniciação no basquete norte-americano lá naquela década de 90?
AJ: Será? (Risos) Começamos a transmissão da NBA com o VT da temporada anterior, em 1987, e sentimos a repercussão. O primeiro jogo, defasado há mais de um ano, foi o terceiro das finais de 1986 entre Houston e Boston, confronto vencido pelos Celtics. Nos anos 80 foram muitas as transmissões de Boston e Lakers, isso me lembro bem. Em 1988, fizemos ao vivo do Fórum de Inglewood os dois últimos jogos da série Lakers x Detroit naquele que acabou sendo o adeus de Kareem Abdul-Jabbar. Eram 12 televisões do mundo inteiro. Hoje são mais de 200 canais diferentes. Naqueles tempos vimos o crescimento da NBA. Nos anos 90 a consolidação. Os anos do Chicago Bulls de Michael Jordan e do bicampeonato do Houston de Hakeem Olajuwon. Creio que ali todos que olharam a TV foram contaminados com a magia de Jordan. Tivemos audiências com pico de 16 pontos, médias altas e muita promoção. Isso fez com que surgisse uma legião de fãs da NBA e eu fui apenas um elo, um condutor.
BNC: Como era para um profissional brasileiro trabalhar na e com a NBA no começo daqueles anos 90 em que a globalização da liga não era tão forte e nem as tecnologias eram tão avançadas (sem internet, sem estatísticas tão apuradas e sem TV a cabo)?
AJ: Lá nos EUA e na Europa tinha TV a cabo e os jornais locais forneciam boas informações quando viajávamos. Por aqui vivíamos a caça de revistas americanas e montávamos cadernos com recortes. Eram outros tempos. Veja só, eu estava habituado a marcar pontos e rebotes, mesmo comentando as partidas. A partir de 1991 , passamos a contar com um sistema de estatísticas igual ao atual num monitor na posição de transmissão. Isso foi o divisor de águas.
BNC: Você acha que é possível traçar um paralelo entre a saída da NBA da TV aberta na Bandeirantes e o declínio do basquete brasileiro como um todo? Digo isso porque era através da TV Aberta que muita gente começou a se interessar pela modalidade.
AJ: Justiça seja feita, creio que sim. Luciano do Valle revolucionou o esporte. Primeiro com o vôlei, depois com o basquete. O feminino teve muito apoio da TV aberta e hoje quando você conversa com Paula e Hortência elas reconhecem o que foi feito pelo esporte campeão mundial em 94 e prata olímpica em 96. O masculino teve seu auge no Pan-87 e era para ter ido muito mais longe em 1984 e 1988. A TV Aberta democratizou os outros esportes. Olhando para trás vejo que o basquete perdeu sua chance. Agora é um esporte de TV por assinatura. Uma pena.
BNC: Por mais contraditório que possa parecer, quando o Brasil não tinha representante na NBA havia TV Aberta para exibir as partidas, e agora, quando há quatro, cinco atletas, não há exibição para o grande público. A que se deve isso? E você acha que é um cenário que pode mudar em breve?
AJ: Acho que não vai mudar. Os direitos e obrigações da transmissão da TV Aberta são muitos e além de pagar, tem que engolir um comercial da NBA. É difícil.
BNC: Dos jogadores que você viu em quadra naquela época que comentava, conseguiria fazer o seu quinteto ideal?
AJ: Essa é fácil. Os titulares do Dream-Team (Magic, Jordan, Barkley, Malone e Ewing), com Bird como sexto homem.
BNC: Depois que deixou de comentar, você ainda gosta de acompanhar a NBA? O que tem achado da liga nos últimos anos?
AJ: Acompanho pouco, assisto só as finais. Acho bacana o número de brasileiros por lá, o desenvolvimento que eles fizeram na web e o crescimento do número de estrangeiros, mas está mais distante do público brasileiro.
BNC: Por fim, uma pergunta bem fácil: de todos os momentos como comentarista de NBA, qual é o mais inesquecível para você?
AJ: Atuando como comentarista, as finais do Chicago contra o Seattle Supersonics em 1996. Coloquei as possibilidades em três jogos e o que falei deu certo. Inclusive a vitória do Seattle graças ao Gary Payton e sua marcação. Como narrador, em 1998, o adeus de Jordan em Salt Lake City, quando ele roubou a bola do Karl Malone e foi para o ataque e fez os dois pontos . Eu estava no Delta Center. Eu vi: 87-86 para o Chicago com 45 pontos de Jordan. Fiquei arrepiado naquele dia com o poder de decisão dele. O mundo se rendeu a vossa majestade.
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