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Bala na Cesta

Julio Lamas explica: 'Nossa intenção era fazer Huertas não passar a bola. Deu certo'

Fábio Balassiano

10/08/2012 00h19

"Nossa execução tática foi muito boa. Tratava simplesmente de fazer com que Huertas não passasse a bola, não fizesse seus companheiros jogar. O objetivo era claro: queria que o Brasil não usasse os pivôs de NBA que tinham para poder fazer um interior (de garrafão) mais igual, menos traumático para nós. Fomos impecáveis nisso. Ainda que tivéssemos levado 17 pontos dele no primeiro tempo, insisti para que a estratégia fosse mantida. Confiamos, deu certo e vencemos", Julio Lamas na entrevista coletiva depois do jogo contra o Brasil (obrigado, Fábio Aleixo!).

"A Argentina teve uma excelente postura tática, centrada na idéia de que Marcelinho fosse o protagonista sem que envolvesse a todos. A função básica de um armador é alimentar seu time, mas para Huertas custa pouco assumir o protagonismo e pensar apenas em pontuar, esquecendo do básico para sua equipe. Grave erro da equipe de Magnano, que custou o jogo. Além disso, o Brasil apostou, na minha opinião de maneira equivocada, no jogo interior e na individualidade de Marcelinho e Leandrinho. Este tipo de ataque quebrou a equipe em duas. Ou bola para dentro, ou um contra um dos dois citados. Assim, a equipe brasileira perdeu a fluidez. E eu digo que foi errado porque o interior do Brasil é composto de grandes jogadores, mas grandes jogadores defensivos. Nenê Hilário, Anderson Varejão e Tiago Splitter são marcadores excelentes, mas falta a eles capacidade de liderar um jogo dessa magnitude ofensivamente. Algumas vezes eles conseguem, mas em curtos períodos apenas. Com constância e por muito tempo, não. Por fim, eles foram péssimos nos momentos decisivos. Nota-se uma falta de liderança e de convicção absurdas na hora de decidir, na hora de buscar uma medalha. Se ficaram a dois pontos da vitória em um momento, foi porque tinham mais pernas, mais rotação e muito talento individual. Mas aí vem o lado psicológico, que destrói o Brasil", Pepe Sanchez, armador titular da Argentina campeã olímpica, em sua coluna no site da ESPN (leia aqui)

"Contra o Brasil os jogadores defenderam muito bem, acreditando e respeitando o plano, embora no início tenhamos levado algumas cestas que não estavam no roteiro. A idéia era Huertas não permitir que os pivôs grandes deles entrassem no jogo. Não conseguiríamos marcar, todo mundo sabe. Os jogadores foram muito inteligentes, embora Marcelinho tenha marcado 17 pontos na primeira metade e nos assustado um pouco", Julio Lamas a ESPN da Argentina.

Coloquei acima declarações de Julio Lamas, técnico da seleção argentina, e de Pepe Sanchez, armador campeão olímpico com os hermanos em 2004 (análise bem dura, mas impossível discordar do cara). Não gosto muito de ficar remoendo jogo, revendo partidas, mas ainda estou chocado com a leseira tática do Brasil nas quartas-de-final da Olimpíada. Falei aqui sobre a estratégia de Lamas de literalmente deixar Marcelinho Huertas jogar, pontuar, ser o protagonista das ações com arremessos, e muita gente acabou duvidando. Pois bem, está ai o que aconteceu. Huertas sem acionar os pivôs, pontuando como se não houvesse amanhã e sua principal função esquecida.

É óbvio que a responsabilidade da derrota é dividida, mas é inadmissível que um técnico da categoria de Rubén Magnano tenha caído duas vezes na rudimentar estratégia de Lamas (coisa boba, gente). Em 2010, Huertas teve 16 arremessos de quadra, 32 pontos e nenhum erro (marcação de longe). Os pivôs, naquele 7 de setembro, 14 arremessos e 20 pontos. Em 2012, 17 arremessos, um erro e 22 pontos. Os gigantes (Nenê não estava no Mundial da Turquia), 13 arremessos e 17 pontos. Será que ninguém percebia o que se passava ali? Magnano, Demétrius, Neto, Duró, atletas, ninguém?

E aí entra o segundo fator importante. Via de regra, falta leitura de jogo a atleta brasileiro, e talvez seja por isso que os argentinos, com um elenco envelhecido, sem o mesmo potencial físico e vivendo de uma tática simples, bobinha, tenham vencido o Brasil mais uma vez (com mais talento, é verdade, mas com, insisto, uma tática ridícula). Magnano errou ao não informar aos seus atletas o que estava acontecendo em quadra, mas os jogadores também deveriam ter o discernimento de entender o que rolava em quadra. É o mínimo que se esperar de atletas de alto nível.

Por fim, o mais trágico, ao menos pra mim, é saber que esta geração, cantada em verso e prosa como a melhor do país em muitos anos, provavelmente nunca terá atingido, junta, o máximo, em termos técnicos e táticos, que poderia atingir. É uma pena.

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