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Bala na Cesta

De cabeça fria, alguns pontos importantes sobre a eliminação da seleção em Londres

Fábio Balassiano

09/08/2012 00h20

Já deu para baixar um pouco da poeira da eliminação brasileira ontem contra a Argentina, né. De cabeça fria, pensei em alguns pontos importantes sobre não só a competição, mas do basquete como um todo (lembrando que já escrevi depois do jogo – é só descer um pouco pra encontrar o post). Vamos lá:

1) Rubén Magnano é um grande treinador, ninguém tem dúvida disso (recolocou o país nos Jogos, deu uma defesa incrível ao time e pôs a seleção entre as grandes novamente, o que já é muita coisa, sem dúvida). Mas ele foi muito mal em três dos quatro grandes jogos do Brasil na Olimpíada. Isso é um fato. Contra a Austrália, Rússia e ontem contra a Argentina ele mexeu mal, não leu bem o jogo (o erro contra os hermanos é imperdoável não porque se tratava de uma partida de eliminação, mas sim porque repetiu-se) e fez trocas questionáveis. Ele é o técnico, entende mais disso do que quase todo mundo que passa por este blog, mas é preciso que ele, Magnano, faça uma avaliação de seu próprio trabalho. Se o time em si não fez uma competição excelente, o mesmo pode-se dizer de seu comandante.

2) Acho que aqui cabe um recado importante também. Rubén Magnano é o técnico da seleção brasileira, mas seus métodos extra-quadra são absurdamente lamentáveis e precisam ser revistos pela Confederação Brasileira (sua empregadora, no final das contas, não?). Espantei-me quando fiz um post sobre a proibição dele a ESPN para um debate sobre NBA na concentração (leia aqui) e vi que, ao menos os leitores de basquete deste espaço, este país ainda compactua e dá espaço para atitudes infantilóides e ditatoriais como as que Magnano implementa na seleção brasileira (não pode celular, não pode isso, não pode aquilo). Os leitores, me surpreendi muito, repetiam as palavras 'foco', 'atitude' e 'concentração' como um mantra, quase como uma brincadeira de "o mestre mandou". Infelizmente, e essa é uma dura realidade, o basquete é um ambiente retrógrado, sectário e recheado de aspones (se vocês quiserem, reproduzo, com som, a risada da hiena destes) e lobistas, o que faz com que alucinações como as do Magnano passem e ninguém sequer questione (e com honrosas exceções, a imprensa, quase sempre alinhada e aliada, também ajuda muito para isso, é bom dizer). E vamos ser sinceros: ninguém ganha ou perde por causa desses devaneios do Magnano. A Argentina treinou menos de 40 dias, todos os atletas estão com uma liberdade absurda na concentração, e estão nas semifinais.

3) Assim como uma medalha olímpica não deveria significar muita coisa em termos de evolução do basquete no país, pois sabemos que no mínimo há 15 anos falta gestão, a derrota de ontem não muda em nada na avaliação sobre a gestão do presidente Carlos Nunes (e quem acompanha este espaço sabe bem quão ruim é sua administração). Seria ridículo de minha parte atribuir algo a ele pela eliminação de ontem, mas acho que podemos exigir que a estrutura de basquete deste país evolua um pouco depois de vermos que há uma demanda reprmida de amantes da modalidade absurda por aqui. Que sigamos cobrando um mínimo de planejamento e gestão da entidade máxima do basquete brasileiro, embora, confesso, eu não tenha a menor esperança que dias melhores venham da CBB.

4) Muita gente tem atribuído a derrota de ontem aos 12 lances-livres errados pelo Brasil. De fato não é um número bacana, e nem desprezível. Guiherme Giovannoni falou sobre isso depois do jogo, e realmente é preocupante. Mas, sinceramente, não foi por isso que o Brasil perdeu, não (ah, só pra lembrar, a Argentina errou nove – sendo assim, a diferença, caso não houvesse erro da linha fatal, ainda seria de três a favor dos hermanos…). Se não bastasse a melhor técnica dos rivais, a tática para o jogo foi ruim, a leitura do que o rival "propôs" foi péssima e se não fosse Leandrinho (22 pontos e muita luta para reverter a situação), nem os 12 pontos perdidos da linha fatal seriam notados, pois a seleção nem teria chegado ao final com chance de vitória. Que os erros maiores (de concepção de jogo, de inteligência de basquete e de táticas erradas) não sejam reduzidos (e é sempre mais fácil apelar para "certezas" reducionistas, vocês sabem bem) a um "perdeu no lance-livre". E, creiam, se a quinta ou sexta colocação é bem razoável, é conformista e passivo demais acreditar que este grupo, no auge físico e técnico, não poderia ir além.

Concorda comigo? No próximo post, falo um pouco sobre o elenco brasileiro para o próximo ciclo olímpico. Aguarde.

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