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Bala na Cesta

Minha análise sobre o trabalho de Gustavo de Conti na seleção brasileira do Sul-Americano

Fábio Balassiano

22/06/2012 16h50

Por conta dos problemas de saúde que tive essa semana consegui ver a seleção brasileira no Sul-Americano de Chaco, na Argentina. Vi todos os jogos (inclusive o contra a Bolívia, hein!) da equipe que hoje disputa o terceiro lugar contra o Uruguai e estou bem tranquilo pra falar. Se é verdade que era um time muito, muito desfalcado (além de B, desfalcado de Scott Machado, Fab Mello etc.) e que o objetivo principal (a vaga na Copa América) veio, também é verdade que o desempenho ficou muito abaixo do que eu, pessoalmente, esperava.

Não vou nem entrar no mérito da convocação (para mim, mal feita, vocês sabem disso), porque Gustavo sabe o que está fazendo. Sem falar individualmente de ninguém, vou me ater apenas ao aspecto de quadra, quadra mesmo. Temos os seguintes dados:

1) Impressionou-me demais o volume de chutes de três pontos brasileiro. Não pelos 0,29 tiros longos tentados por posse de bola (índice alto), mas pela insistência em uma bola que não deu certo a competição inteira (29,8% de aproveitamento). Nos criticados times de Lula Ferreira e Hélio Rubens, o índice era de 0,23 e 0,34, respectivamente. No de Rubén Magnano na Copa América, 0,17.

2) Mais uma vez o jogo de pivôs inexistiu na seleção brasileira (outro fato comum em times nacionais recentes). Os gigantes que em Chaco poderiam, muito bem, ser trocados por cones – não faria a menor diferença. Parecia jogo do NBB, de verdade. O Brasil teve 336 posses de bola na competição até aqui, e em apenas 21% delas houve a finalização dos alas-pivôs ou pivôs brazucas. Muito pouco, não? Nem mesmo contra paraguaios ou venezuelanos, seleções baixas, houve este tipo de jogo. Preocupante.

3) Outro ponto importante. Para quem reclama horrores de fundamento, aqui vai um dado estarrecedor. A média de erros ficou em 14 por partida, ou em 16,6% das posses de bola. No Pré-Olímpico de Mar del Plata, o Brasil de Magnano foi o que menos errou (12,5 – com um time melhor, é verdade, mas contra times melhores também). Os desperdícios, principalmente contra a Venezuela, geraram contra-ataques, que, por sua vez, geraram pontos também por conta da pobre transição defensiva.

4) Por fim, a defesa do Brasil, um dos pontos que Gustavo sempre falou que seria seu foco em entrevistas, está sendo muito ruim. Contra a Venezuela, em jogo eliminatório, fez os rivais terem apenas seis desperdícios (14 brasileiros) e permitiu oito bolas de fora. Muita coisa contra um adversário pobre em termos técnicos. Foi frouxa, e viu os limitados Cubillas e Sucre anotarem 21 pontos cada (a média deles na competição não estava acima dos 14).

Mais do mesmo, não? E se falo isso tudo, é porque tenho um respeito absurdo por Gustavo de Conti, o técnico, e sei que a ele não servirão as análises superficiais e lambe-botas que a gente se acostumou a ver por aí (tá chato demais isso, aliás, gente). Ele é um treinador novo, estudioso, que teve a sua primeira chance em uma seleção brasileira adulta. É pouco, claro, é o começo, ele poderá evoluir, mas lá atrás (leia aqui) eu escrevi sobre as armadilhas do sucesso que um comandante aqui no Brasil não poderia cair.

Insisto: ele é jovem (tem 32 anos), seguirá seu bom trabalho no Paulistano, mas precisa urgentemente buscar formas para se diferenciar do "pacote" dos técnicos brasileiros. Capacidade, ele tem.

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