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Bala na Cesta

Sobre o MVP LeBron James, Woody Allen e a comparação entre épocas muito diferentes

Fábio Balassiano

12/05/2012 11h43

Um amigo norte-americano bem influente havia me garantido, há duas semanas, que LeBron James seria escolhido o MVP da temporada regular. Conversamos, argumentamos, e chegamos a uma (óbvia) conclusão: não dá para dizer que é injusto.

O meu voto seria para Kevin Durant, o dele iria para Tony Parker (e seus argumentos eram pra lá de razoáveis), mas o fato é que LeBron ganhará o seu terceiro troféu de jogador mais valioso de sua carreira neste sábado na Flórida. Insisto: ninguém pode dizer que um cidadão que tem as médias de 27,1 pontos, 7,9 rebotes e 6,9 assistências ganhou algo injustamente. Ninguém.

Pronto. Agora eu posso começar a escrever direitinho, né (não usarei mais as estatísticas, prometo, pois o jogo mudou, o basquete mudou, e não se comparam nem épocas e nem números de épocas diferentes). E talvez a palavra "justiça" não será aplicada no restante deste texto.

Por mais que o troféu de MVP não valha de absolutamente nada (os analistas norte-americanos sérios pouco ligam pra isso), me causa espanto que LeBron esteja ganhando o seu terceiro em quatro anos (igualando-se, assim, a nomes como Moses Malone, Magic Johnson e Larry Bird). Nada contra, e cada um teve o seu jeito de jogar em sua época, mas é preciso relativizar as coisas direitinho. Michael Jordan tem cinco, Wilt Chamberlain, quatro e LeBron, com 27 anos, duas decisões perdidas e uma leitura de jogo errática na NBA, tem três.

Trazendo um pouco para os dias de hoje, Steve Nash tem dois, Tim Duncan tem dois, e Kobe Bryant e Shaquille O'Neal têm apenas um. Fazendo uma comparação, é parecido com o que acontece com Woody Allen (foto à esquerda) no cinema. Um dos melhores diretores de todos os tempos, ele tem apenas um Oscar de melhor diretor, e acho que ninguém duvida nem de suas capacidades e nem de que o prêmio, tanto na Academia quanto na NBA, são muito mais políticos e frios do que qualquer outra coisa (o dele foi em 1977, com o ótimo Annie Hall). E tal qual o MVP, uma estatueta vale tanto, ou tão pouco, quanto o troféu de melhor jogador da temporada (e acho que isso é representado quando Allen simplesmente ignora a festa que acontece em Los Angeles).

E o que diabos eu quero dizer com isso tudo? Que há uma loucura reinante muito grande em vermos o melhor jogador da atualidade, o cara mais decisivo, o cara que conseguiu cinco anéis de campeão (Kobe Bryant), com apenas um troféu de melhor jogador de uma temporada. É bem verdade que vale, obviamente, a fase regular da competição é que conta para a eleição do melhor jogador da… fase regular da NBA, mas acho muito impossível que alguém não concorde comigo que em 2006, com um timeco, Kobe Bryant jogou uma enormidade (e nem vou citar 2009 e 2010).

Vale, portanto, o bom mocismo, as caras e bocas, as enterradas que vão pro Top10 do SportsCenter, as declarações recheadas de clichês e pouco conteúdo. LeBron James joga muita bola (notem que não uso a palavra craque aqui), é um fenômeno de uma geração de jogadores de basquete mimada ao extremo e sem noção do que representa, mas colocá-lo acima de Larry Bird, Magic Johnson e Moses Malone e acima de Kobe Bryant, Karl Malone e Tim Duncan (sem compará-los, mas vendo suas conquistas individuais) é demais para a minha cabecinha.

Steven Spielberg têm dois Oscar de melhor diretor. Woody Allen, um.

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