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Bala na Cesta

Convocada em nova fase, Karla mira Londres mas garante: 'Estou com o pé colado no chão'

Fábio Balassiano

20/04/2012 11h30

A brasiliense Karla Costa recebeu a notícia da convocação para a seleção brasileira feminina que disputará os Jogos Olímpicos de Londres através de um SMS na manhã quinta-feira. Demonstrou felicidade, mas nada que alterasse a sua rotina na capital federal, onde descansa ao lado de sua família depois do título da LBF com Americana. Foi para a academia de manhã, descansou e de tarde treinaria na quadra do Vizinhança, clube em que começou no basquete.

Aos 33 anos e em uma fase totalmente zen, a jogadora mais velha convocada por Luiz Claudio Tarallo ao lado de Adrianinha e Chuca diz que mudou seu estilo, aprendeu com os erros das Olimpíadas de 2008 e que está preparada para voltar a vestir a camisa da seleção depois de quatro anos (há quatro anos ela não era chamada). Confira a entrevista que fiz com ela ontem à noite pelo telefone enquanto ela aguardava para voltar a treinar no Vizinhança

BALA NA CESTA: Você foi convocada pela primeira vez em quatro anos para a seleção brasileira. Ficou surpresa?
KARLA COSTA: Surpresa não é bem a palavra. Desde que cheguei a Americana eu tracei um plano para voltar a jogar bem e usar todo o meu potencial. Sou muito grata ao Zanon (técnico), a Adriana Santos (assistente), ao Vita Haddad (preparador físico) e a todas as minhas companheiras. Estou aqui por causa dela, disso não tenho dúvida. Posso dizer que estou muito feliz, mas que me preparei tremendamente para que isso ocorresse. Nunca treinei tanto em toda a minha vida, e acho que estou jogando como nunca em toda a minha carreira. Acho que todo este trabalho fez com que eu tivesse uma das melhores temporadas da minha vida em Americana e o título viesse.

BNC: Você ficou muito marcada pelo desempenho ruim que, na verdade toda a seleção brasileira feminina teve em 2008, nas Olimpíadas de Pequim (décima-primeira e penúltima colocação). Como você reagiu e como foram os dias e meses seguintes aos Jogos?
KC: Na verdade, quem dá a cara pra bater está pronto pra apanhar. Nunca tive medo de me expor, nunca tive medo de jogar e nunca tive medo de arriscar as jogadas na quadra. Sou extremamente consciente de tudo o que vivemos em Pequim, dos erros que tivemos e de como não repetir isso agora. Todas ficamos mais maduras, e posso te dizer que nunca vou deixar de fazer o que eu acho certo para um determinado momento da partida por causa do medo do que os outros vão achar.

BNC: O que mudou na Karla de 2008 para a Karla de 2008? Dentro e fora da quadra.
KC: Boa pergunta. Na verdade, mudou tudo. Eu sou a mesma pessoa alegre, agitada e sincera, mas eu estou mais calma, mais tranquila e com a cabeça mais preparada para os momentos de pressão, de decisão. E aí entra a parte técnica, tática e física que Zanon, Adritana e Vita me ajudaram, me ensinaram e aprimoraram comigo. Nestes dois últimos anos meu jogo defensivo melhorou muito e o meu arsenal ofensivo deixou de ser basicamente de arremessos e passou a ganhar outras armas importantes como infiltração e um-contra-um. Estou muito mais confiante, com um físico melhor do que o que eu tinha com 29 anos e preparada para as situações mais difíceis do jogo.

BNC: A seleção feminina não é vista comi uma das favoritas para os Jogos Olímpicos de Londres. Você ainda não está na lista final, mas qual a sua análise sobre o grupo e sobre as chances do time?
KC: Não dá para prever nada, porque muita coisa ainda vai mudar devido à preparação dos times. Mas o que posso te dizer é que do fundo do meu coração eu acho que este grupo vai surpreender demais. Há uma mescla muito boa entre experiência e juventude, entre jogadoras bem técnicas e outras bem físicas, e acho que o resultado disso pode ser muito bom para a seleção. Sei que dois, três meses são muito pouco para mudar a opinião das pessoas, mas tenho certeza que chegaremos muito forte às Olimpíadas.

BNC: Muita gente diz que em 2008 a seleção foi mal porque o grupo estava rachado e que por ser a primeira Olimpíada de muita gente havia um certo deslumbramento com tudo o que cercava a competição. Concorda com isso?
KC: Sim, concordo. O cenário todo das Olimpíadas é realmente deslumbrante. Vila Olímpica, ginásios, público, tudo. Não é fácil manter a cabeça no lugar, mas a coisa boa é que quatro anos se passaram, algumas que estiveram em Pequim continuam no grupo e agora sabemos quais os erros que não podem ser repetidos. O principal, na minha opinião, é fazer com que todas estejamos na mesma página, unidas, sem vaidade ou estrelismo. Vamos ter que praticar o desapego para brigarmos por medalha (risos).

BNC: Como a mais velha do grupo, o que você está pensando para a fase de preparação? Dá para se imaginar disputando as Olimpíadas de novo, ou ainda é cedo?
KC: Cara, de verdade. Uma das coisas que eu mais aprendi nos últimos anos é a dar um passo de cada vez. Eu ando cada vez mais com o pé colado, coladinho no chão. Não faço planos para depois de amanhã, porque sei que tem um dia para viver e passar. Pode parecer clichê, mas foi isso que me fez ter uma vida mais regrada, menos agitada, mais voltada para a minha preparação como a atleta que sempre quis ser. É óbvio que quero jogar as Olimpíadas, mas eu teno um Sul-Americano de Clubes com Americana primeiro, depois os treinos e só depois a competição. Vou seguir fazendo o que tem dado certo nos últimos dois anos: um passo de cada vez. As metas têm sido alcançadas assim, e não vai ser agora que vou mudar. Meus pés estão colados, coladinhos, no chão, e isso me impede de sonhar muito.

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