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Bala na Cesta

Sobre Nenê, patifarias e o exemplo de Gustavo Kuerten sobre como se posicionar politicamente

Fábio Balassiano

11/04/2012 11h30

A entrevista que Nenê deu à Revista ESPN deste mês repercutiu pacas aqui e li atentamente a todos os comentários. Alguns eu concordo muito, outros eu discordo, mas todos eu respeito. Mas a parte mais importante da ótima matéria de Caio Maia (a primeira reportagem jornalística com o jogador do Washington Wizards em quase dois anos, é sempre bom dizer isso) para mim é a que ele fala, abertamente, sobre o fato de ter se ausentado por tanto tempo da seleção: os desmandos na Confederação Brasileira durante o mandato de Grego. É um motivo pra lá de justo, nobre, mas que foi feito da maneira errada.

Ao contrário do que fez Nenê, que chamou a Era Grego de patifaria (vocês sabem o que isso quer dizer, não?) dois anos depois de Grego ter saído da presidência da CBB, seria muito mais lícito, legal e honesto se ele tivesse feito, na época de seus pedidos de dispensa, igual como Gustavo Kuerten fez com a Confederação Brasileira de Tênis à época.

Guga anunciou aos quatro ventos que não jogaria por causa do presidente (era o Nastas, era?) e pronto. Foi sincero e bradou: "Sou contra o que está acontecendo, e se jogar a Copa Davis eu acabo compactuando com isso". Pronto. Não foi o que Nenê preferiu fazer. De 2004 até 2008, o último da Era Grego, Nenê só participou do Pré-Olímpico de Las Vegas em 2007. E participou porque foi convencido por Leandrinho e por uma pessoa próxima (se o senhor permitir eu coloco o nome dele aqui). Em nenhum momento, porém, ele disse com todas as letra: "Não jogo enquanto este cara estiver no poder".

Este, ao meu ver, é o maior mérito da entrevista de Caio Maia. É óbvio que ele dirá que quer jogar as Olimpíadas (eu também quero). Mas foi a primeira vez que vi, com todas as letras, ele dizer que não jogou na seleção este tempo todo por causa do presidente da Confederação. A pena é que a atitude mais politizada do basquete brasileiro em quase 15 anos tenha sido sucedida por uma silêncio bobo, infantil, quase medroso. Nenê teve uma atitude honrada, mas falhou em não ter contado naquela época quais os motivos que realmente o faziam não jogar pela seleção brasileira (se tivesse feito isso, talvez um dos seus 4567 mandatos não teria ocorrido).

Mas o jogador preferiu o silêncio, preferiu que todos "falassem" por ele e acabou se tornando um dos jogadores com menos carisma na atualidade. Foi o caminho que Nenê escolheu. Certo ou errado, é o caminho que ele escolheu. Agora é colher o que plantou. Um ser "politizado", mas com vergonha de expor o que pensa.

Não é fácil de entender o que passa pela cabeça do Nenê, de verdade.

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