Sobre Kareem Abdul-Jabbar, Vagner Love e a falta de cultura esportiva no Brasil
Eu não sei se vocês sabem, mas ontem Kareem Abdul-Jabbar (Lewis Alcindor para os mais antigos) esteve no Rio de Janeiro. É um "cidadão comum", dono do maior número de pontos da história da NBA e de seis títulos da principal liga de basquete do mundo. E aí o que acontece quando ele vai a Gávea, sede do Flamengo, na tarde de sexta-feira (queria muito ter comparecido, mas não consegui)? Sua presença é ofuscada pela apresentação de Vagner Love, novo reforço do futebol rubro-negro (leia mais aqui).
Nada contra o Flamengo (aconteceria o mesmo no meu Fluminense, no seu Corinthians, no seu Grêmio ou no seu Cruzeiro), mas me deu um pouco de vergonha do tamanho que a contratação de um jogador teve e do tamanho que a vinda de um gênio, de mito, ganhou.
Noves fora a imprensa ter perguntado a Jabbar sobre futebol (vocês está na frente de um dos maiores do basquete de todos os tempos e vai falar sobre futebol, é isso mesmo?), o que me deixa absolutamente embasbacado é que na presença de um mito do esporte imprensa e público dêem mais valor a uma apresentação de um atleta não mais do que comum (repito: ocorreria o mesmo se fosse na semana passada com o Thiago Neves, com Kléber Gladiador etc.).
Fala muito sobre a falta de cultura esportiva do país, fala muito sobre como anda a gestão do esporte brasileiro (assusta mais ainda por ser no Flamengo, clube presidido por uma ex-nadadora, que deveria dar mais valor aos chamados esportes olímpicos) e mostra também uma dependência da imprensa em relação a venda/cliques bizarra, triste. Desculpe, mas a capa de O Globo, um dos maiores jornais do país, ontem e hoje foi sobre Vagner Love, e não sobre um mito não só das quadras, mas também alguém que tentou fazer do basquete um "trampolim" para falar de coisas maiores, bem mais importantes (preconceito, desigualdade, fome e cuidados com a saúde).
Em ano olímpico, a vinda de Kareem Abdul-Jabbar foi uma maravilha – e deveria ter sido mais bem explorada e reverenciada. Não é todo dia que você recebe alguém que foi 19 vezes All-Star da maior liga de basquete do mundo. Não é todo dia que você recebe alguém com seis MVP's de temporada regular. Não é todo dia que você recebe um Hall da Fama que teve sua camisa 33 retirada em duas franquias (Bucks e Lakers).
E aí ele vem ao seu país e é ofuscado. Me desculpem, mas dá um desgosto profundo.
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