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Bala na Cesta

Uma análise sobre o começo da LBF e a falta dos fundamentos no basquete feminino

Fábio Balassiano

16/01/2012 11h30

Estava relutando para escrever este artigo. Achava que com o ritmo de jogo os erros acabariam por diminuir, e consequentemente a qualidade técnica das partidas da LBF aumentaria um pouco. Errei, errei feio. E um grande exemplo disso foi o jogo de sábado entre Maranhão e Araçatuba (77-69 para as maranhenses).

Fiquei absolutamente impressionado com a qualidade pobre, triste, ruim mesmo apresentada em quadra. E por mais que acabe cometendo injustiças ao generalizar, acho que não é irreal dizer que o cenário do basquete feminino está lamentável (dos 24 jogos que já houve, em seis ocasiões uma das equipes não conseguiu sequer chegar aos 50 pontos).

No sábado, houve lances absolutamente dantescos, como o que Isis, que de trás da tabela tentou dar um gancho completamente sem propósito – e a bola bateu, claro, na parte de trás da tábua. E não foi o único, claro: em vários ataques Cleia, armadora de Araçatuba sem o menor equilíbrio, arremessou de três sem cerimônia (chutou 4/14 de longe). Em outros, Iziane e Brisa fizeram o mesmo (3/13 de fora para a dupla).

Mas isso não é o que espanta, evidentemente. Se fossem erros de concepção de jogo, de arremessos fora de hora, seria, digamos, aceitável, contornável. O que tenho visto, no entanto, é uma falta absoluta de fundamentos principalmente nas mais jovens (um resultado claro da falta de capacidade técnica desta galera é que que Alessandra, aos 38 anos, tem registrado números absurdos sem a menor dificuldade – foram 17 pontos e 12 rebotes no sábado). Para ser justo, o mesmo acontece no NBB4, mas em menor grau – e acho que a qualidade atlética dos rapazes também ajuda a "mascarar" alguns defeitos de fabricação.

E aí eu só consigo lembrar do estupendo artigo de Paulo Murilo há cerca de um mês em seu blog: "É inadmissível que jogadoras adultas confundam desenfreadas corridas com basquete, tropeçando na bola, ultrapassando-a em varias ocasiões, que não dominem o drible, mesmo usando somente a mão natural, que não saibam arremessar, de longe, muito menos de perto, que não saibam se deslocar defensivamente, e o pior de tudo, que não dominem, nem de longe, a arte de passar a bola. (…) Como exigir continuidade e fluidez tática se as jogadoras sequer sabem executar um drible, uma finta e um passe com um mínimo de precisão? Como?".

É muito fácil criticar Tássia, Cacá, Aruzha, Tainá, Tatiane ou qualquer outra jovem que esteja aparecendo no cenário feminino brasileiro ultimamente e lembrar que a média de erros por equipe na LBF fica em quase 17,5 (ou seja, em um jogo é bem provável que você veja 35 ou mais desperdícios de bola). Quase todas as meninas surgem com os mesmos defeitos, com os mesmos problemas e com o mesmo futuro: "sumirem" no alto nível internacional. Antes que falem, é bom dizer: Damiris, que aos 19 anos "se vira" na Espanha devido ao seu absurdo talento, é exceção, e não regra no basquete feminino brasileiro (e mesmo assim é só ver a quantidade de erros por partida e seu aproveitamento de arremessos para entender do que estou falando).

Confederação, clubes, técnicos e jogadores precisam colocar a mão na consciência e perceber que muita coisa está errada na formação das meninas no basquete brasileiro (não é uma questão de saudosismo, mas repara só em quem era reserva de seleção há sete, oito anos, e quem é hoje titular absoluta). Enquanto a mentalidade nas categorias de base não mudar (ainda valoriza-se demais a conquista de título por aqui), as próximas edições da LBF serão exatamente como a de 2011-2012: pobres em termos técnicos e um prato cheio para as mais veteranas.

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