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Bala na Cesta

Entrevista: Huertas exalta adaptação tranquila no Barcelona e mira medalha nas Olimpíadas

Fábio Balassiano

22/11/2011 00h52

Aos 28 anos, Marcelinho Huertas não quer dizer que está no auge de sua carreira. Prefere manter a serenidade de quem agora dita o ritmo de jogo de um dos melhores times do mundo, o Barcelona. Em sua primeira temporada no clube catalão, Huertas parece não sentir nem o peso da estreia, nem o de ter que conduzir um quinteto que possui feras internacionais como Navarro e Lorbek. Considerado um dos cinco melhores armadores da Europa, o menino franzino que brilhou no Paulistano em 2004 venceu no Velho Mundo, mas almeja mais: quer conquistar o continente e uma medalha com a seleção brasileira nas Olimpíadas de Londres em 2012. Confira a longa entrevista dele para o Bala na Cesta.

BALA NA CESTA: O começo da sua "vida" no Barcelona tem sido acima do que você esperava? Para quem assiste às partidas, não parece haver o menos sinal de falta de entrosamento. É por aí mesmo?
MARCELINHO HUERTAS: É claro que existia uma expectativa grande para ver como seria o meu começo aqui. Por ser o Barcelona talvez se crie uma dificuldade ainda maior de estrear bem e encaixar rápido num grupo que joga junto há anos e que já conhece todos os atalhos para o sucesso. Por outro lado, estar ao lado de jogadores e técnicos que entendem muito de basquete facilita meu trabalho e, com certeza, agiliza esse processo de adaptação positiva que estou tendo.

BNC: Na última temporada você tinha a responsabilidade de armar e pontuar muito por um time com menos "armas" do que este Barcelona que você agora atua. Isso passa pela cabeça do jogador, ou é muito natural que as funções se encaixem naturalmente?
MH: Durante o jogo não passa na cabeça, mas no fundo você sabe da necessidade que cada time tem. O importante é saber se adaptar ao que o jogo pede. Talvez neste ano anote menos (pontos) e dê menos assistências, mas isso não significa que sou pior ou melhor, e sim que o time, como você mesmo disse, tem muitas armas, dividindo, assim, o protagonismo entre mais jogadores.

BNC: O Barça foi campeão da Euroliga em 2010, mas não conseguiu manter o caneco na Catalunha em 2011. Como é ser o grande reforço do time para a temporada cujo objetivo maior é conquistar o título continental?
MH: Sinto-me privilegiado de fazer parte de um clube que nos últimos anos ganhou realmente tudo, ou quase tudo. Espero poder estar à altura do que se exige de um jogador que quer ganhar absolutamente tudo e vou trabalhar muito para tentar ajudar o time a voltar a vencer a Euroliga e, se possível, o resto também.

BNC: Por uma dessas coincidências da vida, você chegou ao Barcelona para substituir o Ricky Rubio, com quem você jogou no DKV Joventut. Você conversou com ele sobre como é armar o jogo neste estelar Barça, ou não houve este tipo de conversa?
MH: Nos falamos muito superficialmente sobre esse tema. Conversamos mais sobre como era o clube, as pessoas e o funcionamento de modo geral. Ele me falou apenas coisas boas e é um prazer ter essa amizade com um grande rival e companheiro de muitos anos.

BNC: Além do basquete, imagino que deva ser divertido morar em Barcelona. Já deu tempo de conhecer a cidade, os museus, os monumentos e a culinária local? Isso, claro, sem falar no Camp Nou e os recitais semanais do Messi e Cia.
MH: Olha, passeios turísticos já fiz muitos quando joguei em Badalona. Passava boa parte do tempo em Barcelona – para quem não sabe a distância entre as duas cidades é de apenas cinco minutos. Já conheço a cidade dos pés a cabeça, e é fascinante. Sobre o futebol, sempre que estou por aqui tento ir prestigiar o time e desfrutar de um belo espetáculo.

BNC: O argentino Pablo Prigioni, quando saiu do Baskonia para ir ao Madrid, foi muito vaiado em seu retorno a cidade. O que você espera quando reencontrar o público fanático do Baskonia, clube que o acolheu por duas temporadas? Como foi a sua saída do clube? Imagino que deva ter sido muito complicado deixar a agremiação…
MH: Foram circunstâncias distintas. A saída do Prigioni foi muito conturbada por declarações feitas após o último jogo da temporada. A minha foi bem pacífica, os clubes se conversaram e chegaram a um acordo. Muita gente talvez não entenda e vaie, mas é normal. Acredito que muita gente aplauda, pois sempre tive ótima relação com a torcida e pelo que fiz pelo clube. Enfim, mês que vem saberemos (o jogo está marcado para o dia 18 de dezembro).

BNC: Sobre seu jogo, daquele menino que saiu do Brasil franzino e uma das revelações do Paulistano, como você enxerga o seu próprio desenvolvimento? Aos 28 anos, você acha que atingiu a maturidade que o armador tanto precisa?
MH: Foi uma evolução gradativa. Com muita paciência e dedicação. Hoje, colho os frutos desse trabalho, mesmo com um caminho cheio de contratempos, mas sempre perseverante em relação ao futuro. Talvez esteja no ápice da maturidade, mas isso é relativo porque você sempre pode melhorar em todos os aspectos.

BNC: Sobre seleção brasileira agora: no final da sua temporada começa provavelmente o momento mais importante da sua geração, a disputa das Olimpíadas. Recentemente você disse que o Brasil tem chance de medalha. É por aí mesmo?
MH: Esse tem que ser o pensamento. Somos ambiciosos e hoje, com os pés no chão, se jogarmos como sabemos e devemos podemos lutar por medalha, sim. Pode ser que não aconteça, pois em jogo eliminatório não existe margem de erro e contra os times que vamos enfrentar, além de jogar bem, temos que ser inteligentes e tentar reduzir ao máximo nossos erros.

BNC: Não sei se você concorda comigo, mas desde que você chegou à seleção, no Pré-Olímpico foi a primeira vez que o Brasil jogou realmente um basquete à altura dos talentos que o país tem nesta geração. Concorda? Isso se deve única e exclusivamente ao Magnano, ou há algo mais em termos de união e concentração do grupo?
MH: Vou ter que discordar de você nesse aspecto. Acho que desde a entrada do Moncho nosso jogo mudou e jogamos bem. É aquilo que disse antes: talvez um jogo eliminatório como aquele contra a Alemanha no Pré-Olímpico Mundial de 2008 possa marcar muito, mas vínhamos jogando bem até então. No ano seguinte fizemos um belo torneio das Américas e ganhamos lá dentro de Porto Rico contra os anfitriões na final. E nosso jogo foi bem coletivo. No Mundial também, se analisar friamente nosso estilo de jogo, estivemos à altura das grandes potências e por erros nossos não ganhamos dos Estados Unidos – o que ninguém chegou nem perto de fazer. Aí voltamos mais uma vez a um jogo eliminatório contra a Argentina, que mais uma vez escapou de nossas mãos. Mas, independente da classificação final, o nível de jogo foi muito bom. Esse ano e o ano passado, já com o Ruben, o time está mais preparado mentalmente, fisicamente e, digamos, entende muito melhor o jogo, o porquê das coisas (não fazemos só por fazer).

BNC: Você saiu do Brasil em 2004 para jogar em Badalona, e desde então muita coisa mudou no basquete brasileiro (a criação do NBB é a principal novidade em termos de clubes). De longe, como você tem sentido o basquete nacional e qual a perspectiva para os próximos anos?
MH: É evidente a melhora do nosso basquete com a criação do NBB. Dá gosto ver um campeonato bem organizado, e de nível muito superior em relação aos anos anteriores. A tendência é seguir melhorando e também seguir formando jogadores jovens, porém preparados para jogar no mais alto nível do nosso basquete. As seleções são um espelho desse trabalho e acho que hoje não só a seleção adulta joga de igual pra igual contra qualquer equipe, mas também muitas das nossas seleções da base são infinitamente mais competitivas que antigamente.

BNC: Essa é a primeira entrevista depois do Pré-Olímpico em que não te perguntam sobre Leandrinho/Nenê/Varejão?
MH: Sim, em todas as entrevistas que concedi me perguntaram sobre esse tema. Não cabe a mim dizer nada a respeito. Nem a mim nem a ninguém. Um abraço, Bala. MH9.

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