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Bala na Cesta

Arquiteto do título paulista, diretor Rossi conta tudo sobre a conquista do Pinheiros - Parte 1

Fábio Balassiano

16/11/2011 11h35

Não é fácil entrevistar João Fernando Rossi, o Rossi, do Pinheiros. Diretor de esportes olímpicos de um dos maiores clubes formadores da América Latina, ele prefere ficar longe dos holofotes trabalhando para fazer de sua agremiação uma entidade cada vez mais forte. Mas após o título Paulista, conquistado na semana passada após os 3-1 contra São José dos Campos, não teve jeito. Ele conversou com o Bala na Cesta por e-mail e o papo vai ao ar nesta quarta e quinta-feiras. Rossi fala sobre tudo: a emoção do título, o planejamento de montagem do elenco, a volta de Cláudio Mortari ao cargo de técnico e da sua desistência da tentativa de concorrer à presidência da Federação Paulista de Basquete (FPB). Confira!

BALA NA CESTA: Passada uma semana, já dá pra descrever a emoção da conquista do primeiro título da história do Pinheiros?
JOÃO FERNANDO ROSSI: Ainda não. É campeão (risos)! Brincadeira. Antes queria que todos entendessem o que significa para um pinheirense, como eu, que tem um filho que representa a quarta geração de JFRs Pinheirenses, essa conquista. O Esporte Clube Pinheiros completou 112 anos 2011, um clube social, cultural e principalmente esportivo. Possui um dos maiores complexos poliesportivos do mundo. Portando, o esporte está em nosso DNA. Somos um clube formador de atletas em 21 modalidades competitivas com resultados expressivos nas competições da base e no alto rendimento. No Pan-Americano de Guadalajara foram 12 medalhas de ouro, seis de prata e sete de bronze. A emoção maior é lembrar que muitos ajudaram a construir este título, desde a época de Jatir, JFR pai, Hadad, Aulus, JFR tio, JFR irmãos, Decio, Decito, Aldo, Laerte, Regis, Micheloni, Mauro, Nico, Biteli, Limas, Osso, Ferraro, Dadinho, Dado, Cadum e tantos outros. Todos esses e muitos mais ajudaram a chegarmos a este título inédito. Todos dedicaram ao Pinheiros tempo, trabalho e família. Eu tive o privilégio de fazer a colheita.

BNC: Com pouco mais de três anos de trabalho, o Pinheiros passou de time participante para um dos melhores do Brasil. Como foi esse planejamento de médio-longo prazo e a cobrança que vocês no clube têm pelo alcance das metas alcançadas.
JFR: Um Clube como o Pinheiros não necessita de resultados a curto prazo. Este é o primeiro ponto. Lá temos tranqüilidade de poder planejar, e ir corrigindo a rota caso necessário. Sabemos que ninguém nasce campeão, que para chegar ao objetivo final cairemos e teremos muitas derrotas. Somente as derrotas te levarão ao sucesso. Precisa confiar, motivar, trabalhar e ter suporte dos envolvidos no projeto. Dentro de nosso projeto inicial, no primeiro ano queríamos sair de um clube participante para ser um time com perspectivas de resultado. No segundo, o objetivo era ficar entre os quatro melhores em qualquer competição. Em 2011 já fomos vice do Paulista e do Interligas, além de terceiro no NBB. Nesta temporada nosso objetivo é chegar em todas as finais – e ganhá-las, um objetivo ousado. Sobre as cobranças, ou pressão, somente serão insuportáveis quando se quebra a confiança entre os envolvidos ou quando se promete algo impossível de cumprir.

BNC: No final da temporada passada conversamos muito e você havia me dito que tudo (os resultados) estavam dentro do planejado. Revendo isso, e tendo em vista as mudanças que você, como diretor, fez no elenco (Cláudio Mortari voltando a ser técnico, Mineiro e Renato de reforços), dá pra dizer que os resultados chegam exatamente quando você esperava? Ou ano passado ficou um gosto amargo por ter batido na trave três vezes?
JFR: Sim, é por aí mesmo. Você antecipar o projeto tem o lado positivo e negativo. Pelo lado positivo, demonstra que a rota está bem pavimentada, as engrenagens estão funcionando e há tranqüilidade pra corrigir. Não existe pressão interna e nem externa. Pelo negativo, o gosto amargo da derrota é incrível! Perder, para pessoas competitivas como somos no Pinheiros, é difícil. Ninguém em uma final vai ficar pensando que se perder tudo estará bem. Perder um título de campeão depois de tanta luta pode jogar todo o projeto fora e nessa hora é que temos que ter a tranqüilidade de enxergarmos o que foi planejado e confiar. Esta é uma decisão solitária. Compartilhar este momento somente atrapalha. Portanto, Bala, os resultados chegam conforme combinamos no planejamento. Esqueceram somente de avisar São José dos Campos, que por muito pouco nos tira este momento lindo.

BNC: Muita gente contestou a volta do Mortari ao comando técnico da equipe, ou, como vocês gostam de chamar no Pinheiros, de Head Coach. Queria que você nos contasse como foi o seu (dele) processo de volta, o convencimento ao João Marcelo Leite para uma função diferente e do dia-a-dia com o Cláudio no clube.
JFR: A volta do Mortari aconteceu por escolha pessoal minha, por acreditar que somente uma pessoa com o currículo dele poderia comandar os atletas que escolhemos para efetivamente chegarmos a nossas metas. O Claudio tem um gerenciamento de relacionamento humano como poucos. No fundo se temos uma comissão técnica preparada, comprometida, atualizada, o Head Coach tem que ter a capacidade de gerenciar isso tudo. E não conheço outro nome que não o do Mortari para isso. O descontentamento com a escolha dele veio de pessoas que não o conhecem como eu, um profissional de altíssima capacidade e um ser humano fantástico. E agora? Vão falar o quê? Que a estrutura, que o time, que, que… o quê? Precisa de competência para ser campeão. É para poucos. Quanto ao João Marcelo, ele é o futuro profissional que está tendo a oportunidade de acompanhar um técnico com habilidades importantes, com um currículo que poucos têm. Seu momento chegará. Ele é estudioso, detalhista, perseverante. Uma situação nova, claro, mas que ele tem aproveitado muito. O João entendeu perfeitamente o que criamos – ou inovamos. Eu não tenham dúvida: não existe lugar para o "Eu" no mundo. Somos "Nós", esta é a chave do sucesso. Quando percebi que o basquete brasileiro vinha de um sucateamento emocional, técnico e financeiro, e que os treinadores, muito qualificados, faziam funções que o tiravam do foco das quatro linhas, resolvemos investir forte no corpo técnico e delegar este gerenciamento técnico para o Mortari apenas nas quatro linhas. A grande maioria ainda não entendeu o que fizemos, e fico feliz por isso. Tenho a convicção de que todos da comissão são os melhores em suas posições: João Marcelo Leite (assistente), César Guidetti (assistente), Murilo (preparador físico), Breno Blassioli (assistente), Bruninho (fisioterapeuta) e Carlão (multimídia).

BNC: Aqui eu faço uma mea-culpa quando critiquei os resultados no começo da temporada. Disse que o início estava aquém das qualidades do elenco, e acabei subestimando a ausência tanto de Figueroa quanto de Marquinhos. Queria que você falasse um pouco sobre a importância da volta dos dois, como foi aquele momento conturbado (houve um incidente em Mogi também) e como foi o seu momento "bombeiro" no clube.
JFR: Fábio, não teria como não criticar. Somente 17 pessoas sabiam o que estava acontecendo. Os números são frios, não têm emoção. Fizemos uma pré-temporada planejada, sabendo das conseqüências para o início do Paulista. Foram cinco semanas sem bola, somente com musculação. Temos uma temporada absurda este ano com três a quatro torneios diferentes (Paulista, NBB, Sul-Americana e talvez Interligas e Liga das Américas). Apesar de ter um time de 12 jogadores, este planejamento contemplava ter todos inteiros e algum sacrifício tínhamos que correr. Fora isso, tínhamos o Marquinhos na seleção brasileira e Figueroa na argentina. E também no início do Paulista contamos com o imponderável, ficamos sem o Renato e o Fiorotto em algumas partidas que perdemos. Falar da importância do Juampi (como o Figueroa é conhecido) é tranqüilo. Um técnico dentro da quadra, ele rapidamente entendeu a sua função na equipe, nunca criticou nosso time ofensivamente e tem procurado cadenciar e acelerar o jogo quando necessário. Armador raro no mundo, ele tem estilo moderno e defesa forte. A mudança de postura defensiva do Pinheiros/SKY vem muito do exemplo dele. Sobre o Marquinhos, todos têm acompanhado seu momento. Sua importância na seleção já é grande, então imagine no Pinheiros/SKY. Eu e Marquinhos temos uma história, e essa ficará pra toda a vida. Quero aproveitar esta pergunta e dizer o quanto foram importantes naquele começo de temporada os atletas que seguraram o piano.

BNC: Por ser um clube social, e automaticamente sem torcida, você não acha que, agora com o título paulista, chegou a hora de o Pinheiros tentar ser o que foram Sírio e Monte Líbano para a capital, ou seja, encher os ginásios e mostrar que a principal cidade do país tem, sim, um time fortíssimo para se torcer? Caso sim, como isso será viabilizado?
JFR: Nossa meta é esta: resgatar a torcida do basquete da cidade de São Paulo. Queremos ser a referência do basquete em São Paulo. Este título inédito nos credencia pra isso. Somos um clube simpático, que investe e gosta de esporte. Nossos associados se sentem orgulhosos com os resultados do Pinheiros. Porém, temos alguns agravantes: o Pinheiros não ter uma tradição no basquete, o basquete da capital estar 25 anos fora das conquistas e também o ostracismo destes últimos 20 anos da seleção em torneios internacionais. As perspectivas são ótimas, e temos que aproveitar este momento. Temos uma classificação para as próximas duas Olimpíadas, um Campeonato Nacional (NBB) consolidado e um país economicamente forte.

 

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