Pinheiros vence e se aproxima do título em jogo com a cara do basquete brasileiro
Neste momento dos acontecimentos você já deve estar sabendo da morte do norte-americano Laurence, do Santos (que pena!), e da vitória do Pinheiros sobre São José na tarde de ontem. Com os 93-86 (51-42) em seu ginásio, o time da capital se aproximou demais do inédito título.
Precisa de apenas mais uma vitória para obter o caneco, e conta com um retrospecto de respeito para isso: de acordo com levantamento feito por este blogueiro e pelo assessor da Federação Paulista, Frederico Batalha, nunca um time de pior campanha conseguiu sair de um 0-2 para ganhar a competição. Este é o tamanho do buraco em que São José está metido.
Olhando assim o placar parece que o jogo foi disputado do início ao fim, né. Mas não foi bem isso. E não foi muito por conta das escolhas dos técnicos (em especial dos visitantes, diga-se). Recheado de desfalques (isso precisa ser dito – Dedé teve quatro minutos e Jefferson nem jogou), Régis Marrelli orientou sua equipe a marcar por zona logo no começo. E marcar assim contra um time que tem as armas que o Pinheiros tem resulta em… um punhado de bolas de três pontos (e bolas de três pontos livres!). Foi assim que a diferença chegou a 15, 17 pontos no segundo quarto (isso com Marquinhos completamente fora de sintonia), e foi assim que o time de Cláudio Mortari venceu a partida (converteu 10/27 – a maioria com tranquilidade). Shammel (foto), com 25 pontos, anotou suas quatro cestas de fora sem muito esforço.
E o Pinheiros só não fechou a peleja antes porque a defesa joseense mudou e principalmente porque não conseguiu conter Fúlvio, em tarde inspiradíssima. O armador, tão talentoso quanto irregular, anotou 36 pontos, sete assistências e conseguiu recolocar São José dos Campos na partida (achei, de verdade, que Mortari poderia tentar Shammel, uma dobra ou Paulinho por mais tempo). A atuação do camisa 11 foi tão boa, mas tão boa, que enquanto teve fôlego ele conseguiu manter seu time na parada. Quando cansou um pouco no fim (jogou 38 minutos), o time da casa liquidou a fatura. Apenas para ilustrar: a equipe de Régis cometeu 17 erros e, excluindo os chutes de Fúlvio, teve péssimos 3/17 dos três pontos (Chico e Matheus, 2/12 de fora).
O jogo de ontem foi emocionante como quase todos os do basquete brasileiro o são. Mas foi também um grande retrato de como a modalidade é praticada por aqui (há quem goste, há quem ache normal e há quem não entenda que o jogo mudou há anos em âmbito internacional). Muita força individual (Shammel, Fúlvio, Murilo etc.), erros dos técnicos em situações elementares de jogo, defesas quase sempre mal posicionadas e absurda profusão de chutes de três pontos sem necessidade (53 de longe, 69 de dois pontos).
Já passou da hora de o basquete nacional rever seus conceitos de jogo, não?
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