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Bala na Cesta

Minha análise do trabalho de Ênio Vecchi na seleção feminina

Fábio Balassiano

27/10/2011 00h20

Terminou há dois dias a primeira fase de Ênio Vecchi no comando da seleção brasileira feminina. Se não quis fazer uma análise em cima de números depois de um Pré-Olímpico tão fraco, o mesmo vale para o Pan-Americano que terminou em Guadalajara com a medalha de bronze para as meninas. Mas é possível, sim, dizer algumas coisas a respeito do trabalho do treinador, que tem a sua primeira passagem dirigindo times femininos.

O primeiro ponto positivo é a melhora na postura defensiva. Acho que quanto a isso ninguém tem dúvida. É, sim, verdade que os adversários tanto no Pré quanto no Pan foram de uma capacidade técnica terrível, mas a evolução é muito, muito nítida mesmo. A defesa por zona não funcionou tão bem, mas a individual, com suas rotações e coberturas, foi a principal arma do time brasileiro. Foi através dela que muitas vezes erros eram cometidos e logo transformados em contra-ataques, e muitos arremessos saíam tortos. Também curti a postura de Ênio nos tempos técnicos. Sempre lúcido e dando instruções, não apelou para os gritos e tampouco para o famoso "vamo lá, moçada". Foi objetivo e quase sempre acertou nas solicitações. Além disso, ele teve coragem de efetivar Damiris como ala-pivô titular mesmo com a pouca idade.

Por outro lado, há pontos que precisam ser melhor analisados pelo próprio Ênio Vecchi. As substituições nem sempre foram boas (e o exemplo de Iziane contra Porto Rico é o mais claro de todos – até o técnico admitiu ter errado) e a lista inicial de convocadas não seguiu critério algum. Mas isso, de verdade, não é o pior. O ataque da seleção segue sendo uma temeridade. Muita gente reclamava do Barbosa (eu mesmo), mas o sistema ofensivo de Ênio é menos criativo que o do agora treinador de Ourinhos.

Estão lá os high-lows eternos, mas até os famosos curls ("pêndulo" do ala para receber a ala no outro lado do garrafão – Reggie Miller fazia muito isso na NBA) sumiram. Contra times fracos, pode ser o suficiente. Nas Olimpíadas, garanto que não será. O que me choca é que, se o garrafão foi bem explorado com inúmeros touches de Érika e Damiris, não há mais do jogadas de isolamento para elas. Pedir um pick'n'roll parece devaneio perto da falta de inventividade do banco de reservas. Além disso, as precipitações ofensivas continuam lá, e se o Brasil não quiser repetir o papelão de 2008, em Pequim, é bom cuidar disso desde já visando os Jogos Olímpicos de Londres no próximo ano.

A conclusão é que Ênio corrigiu uma falha antiga da seleção (a defesa), mas não deu bom padrão ofensivo a equipe ainda (isso sem falar nos fundamentos, que precisam ser aprimorados). E aí não se trata de ter peças de nível ou não. Você pode ter um time "arrumado" sem tantos jogadores talentosos (há inúmeros casos assim no mundo esportivo), e este é exatamente o caso da equipe feminina brasileira atualmente. Se não há talento em profusão, o que eu espero minimamente é que exista organização tática dentro de quadra. Já melhorou muito, mas ainda está longe de ser o que se espera do grupo para as Olimpíadas de Londres.

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