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Bala na Cesta

O que eu realmente penso sobre convocar ou não Iziane

Fábio Balassiano

29/09/2011 11h48

A seleção brasileira disputa amanhã a semifinal do Pré-Olímpico contra Cuba, mas a verdade é uma só: a semana é de Iziane Castro Marques, que, alçada ao time titular novamente, roubou a cena e guiou o Atlanta Dream às finais da WNBA pelo segundo ano seguido. E como a jogadora tem uma história controversa, sempre que se fala dela o assunto rende pacas. E como acabei não emitindo opinião de cara, vamos lá.

Sobre a sua não ida ao Pré-Olímpico de Neiva, vão me desculpar, mas ela não teve a menor culpa: com contrato em vigor e com a temporada em andamento, é muito complicado alguém tomar a atitude que Érika tomou (sair para defender a seleção). Se pensarmos que ela estava em momento de baixa e que se tornará uma agente-livre ao final desta temporada, não há mesmo razão para crucificá-la por não ir a Colômbia (e, pelo que Hortênica me garantiu, ela já confirmou presença no Pan-Americano).

Em termos técnicos, não acho Iziane uma sumidade. Ótima definidora de contra-ataque, ela sempre baseou o seu jogo em infiltrações e em tiros longos. Poderia ter um arsenal maior, claro, mas até que se vira bem com o que tem – e acho que ninguém pode questionar o sucesso (em números) de sua carreira. Na defesa, ela falha pacas (tanto na de mano-a-mano como nas rotações/coberturas – e foi justamente por conta disso que ela saiu do quinteto titular do Atlanta Dream). Seus outros fundamentos (drible, leitura de jogo, passe, rebote etc.) não são mais do que regulares (isso sem falar em "fundamentos intangíveis" como liderança e equilíbrio). Resumindo: é uma jogadora nota 7, 7,5 em âmbito internacional, o que é muito, muito bom em um mercado que possui uma concorrência absurda. Assim, não custa lembrar que ela atua na WNBA desde 2002 – e sempre com bons desempenhos.

Mas o que mais "pega" mesmo quando se fala de Iziane é a sua personalidade forte. Conversei algumas vezes com Marisa Markunas e Macau, psicóloga e técnica da ala no Osasco, clube em que jogou no começo de sua carreira. Ambas me garantiram que houve, sim, problemas, mas nada acima do normal. Com Paulo Bassul, no entanto, todo mundo sabe que a história é bem diferente – e que acabou, por decisão de Hortência, com a saída dele do cargo de técnico da seleção por desavenças com a atleta (o pior é que, nos bastidores, tudo se encaminhava para uma reconciliação lenta).

E se muita gente lembra da recusa em voltar às quadras no Pré-Olímpico de 2008, pouca gente sabe dos embates anteriores com o treinador. No Mundial Sub-21 de 2001, Iziane deliberadamente não participava dos ataques por estar "revoltada" com Bassul. Seis anos depois, em Ourinhos, o técnico teve que sacá-la do time titular para conquistar o Nacional contra Catanduva (vale lembrar que este foi o único título da carreira da jogadora em clubes).

E o que diabos isso tudo quer dizer, vocês devem estar se perguntando. Acho que o caso de Iziane me lembra muito o de Marquinhos, agora uma das principais peças de Rubén Magnano na seleção masculina. Bem treinado e colocado na linha, ele vai lá e rende – e rende muito. O mesmo pode acontecer com Iziane. Se não é uma atleta excepcional, ao menos no atual cenário do basquete brasileiro feminino (de pobreza técnica e pouca revelação de talentos nas alas) ela sobra, e sobra muito. O que ela precisa, portanto, é de comando, pulso firme.

Há motivos, claro, para não convocá-la (disciplina é um motivo mais do que razoável – principalmente porque ela jamais se desculpou pelo que houve), mas acho que fica muito claro que seu problema era muito direcionado a um profissional (e a um profissional que admiro e respeito bastante, diga-se de passagem). Quer ver uma coisa? Ninguém em Atlanta reclama da postura de Iziane, que foi barrada do time titular sem reclamar, levantar a voz ou recusar-se a jogar seus dez, doze minutos a que foi solicitada. Calou-se, trabalhou mais, recuperou a posição com a ausência de Érika, liderou o Dream para a final e está sendo elogiada (nas coletivas, não consegue esconder o sorriso).

Acho que é muito mais fácil puxar o telefone e conversar com Marynell Meadors, técnica do Atlanta, do que perder uma atleta que daria uma consistência absurda ao time brasileiro em Londres (caso se classifique, claro). Vale lembrar que a última colocação da seleção feminina em Olimpíadas foi a 11ª, e novo vexame pode colocar o basquete das meninas ainda mais para baixo em termos de investimento. Eu, portanto, conversaria e incluiria Iziane na próxima lista de convocadas.

E aí, concorda comigo? Discorda? Comente na caixinha!

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