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Bala na Cesta

Assistente-técnica, Janeth quer reviver glórias com seleção nas Olimpíadas

Fábio Balassiano

22/09/2011 01h03

A história do basquete brasileiro está intimamente ligada à de Janeth. E da seleção feminina de basquete em Jogos Olímpicos, então, nem se fala. Foram quatro participações seguidas (de 1992 a 2004) antes de se aposentar do time em 2007, no Pan-Americano do Rio de Janeiro (em seu currículo estão o título mundial em 1994, duas medalhas olímpicas e quatro títulos da WNBA – na liga norte-americana, ela foi eleita para o time ideal em 2001 e recebeu o prêmio de maior evolução de uma temporada para a outra). Ausente em 2008, em Pequim, a agora assistente-técnica de Ênio Vecchi sonha em voltar às Olimpíadas para ajudar a apagar a mancha que ficou com a décima-primeira colocação na China. Em entrevista ao blog, em Americana, ela falou sobre a sua carreira de técnica (neste ano dirigiu a Sub-16, Sub-17 e a Universíade) e muito mais. Confira!

BALA NA CESTA: Depois de uma fase de preparação tão longa, o que podemos esperar da seleção feminina no Pré-Olímpico de Neiva, na Colômbia?
JANETH: Nós vamos para conquistar a vaga obviamente, e sabemos que essa é a melhor oportunidade para isso. Mas sabemos que precisamos melhorar muito até o dia 1º de outubro (data da final da competição). Não adianta nada chegar lá jogando o máximo e na hora da colheita não termos mais frutos. Nosso time está em evolução, aprendendo o que o Ênio tem passado e vai lutar muito na Colômbia.

BNC: Não sei se você concorda, mas uma das grandes surpresas desta fase de treinamentos/amistosos é a Clarissa, que em sua primeira grande chance tem se destacado bastante. O que você pode dizer sobre ela?
JA: Concordo, concordo com você. Ela teve um começo de preparação com algumas dores, mas depois que se recuperou está tendo um desempenho realmente muito bom. Ela pode evoluir, e queremos que isso aconteça cada vez mais. Tudo o que não precisamos no basquete é de meninas que se acomodem.

BNC: E falando em evolução, você é um dos maiores exemplos de evolução que o basquete feminino tem presenciado. Você foi campeã sul-americana Sub15 no ano passado (invicta), e neste ano foi técnica da Sub-16 (vice-campeã da Copa América), Sub-17 (bronze no Sul-Americano) e da Universíade e confesso que seu desempenho me surpreendeu muito – não pelas conquistas em si, mas principalmente pela qualidade dos seus times.
JA: Acho que estou evoluindo cada vez mais, e o aprendizado com os diversos times que tenho treinado é sempre muito bom. É óbvio que ainda falta muito, uma experiência de clube, talvez, mas toda pessoa que começa em uma carreira fica mais motivada e confiante quando os resultados aparecem – e isso tem acontecido comigo. Assim como o jornalista (nesse momento Janeth aponta para mim) tem o objetivo de ser lido e visto por mais gente, quero que cada vez mais pessoas conheçam não só o meu trabalho como técnica, mas o das minhas comissões técnicas e o do basquete feminino brasileiro. Quero continuar aprendendo e estudando muito a modalidade, porque essa é a minha vida e a minha maior paixão.

BNC: Sobre a parte de estudos, que eu tanto cobro no blog, o que você tem feito para se atualizar?
JA: Olha, devido ao calendário não tem sido fácil ir a clínicas, mas minha casa é lotada de livros, DVD's e apostilas que estudo. Quanto a isso você pode ficar tranqüilo. A última que fiz foi a Mastermind, da Euroliga, que até o Demétrius e o Rubén Magnano participaram. Infelizmente eu não pude fazer a parte presencial porque estava treinando, mas a virtual/teórica eu completei e gostei bastante. E isso é uma coisa que precisa ser ressaltada. Desde que a gestão na Confederação mudou, há quase dois anos, essa parte de ir a clínicas, estudar, melhorou bastante.

BNC: Conversei com a Adrianinha sobre formação de atletas, e ambos compartilhamos da opinião que faltam referências e um pouco mais de atenção aos fundamentos básicos do jogo. Como você enxerga o trabalho de base do país atualmente?
JA: Olha, as coisas evoluíram muito, muito mesmo. Hoje você vem fazer uma entrevista comigo e grava no celular (antes era com bloco e caneta). No esporte aconteceu a mesma coisa. Não dá para exigir a mesma coisa de uma menina em 2011 do que de uma iniciante em 1980 (como foi comigo). A preparação física mudou, o jogo mudou, os técnicos mudaram. Mas é fato que precisamos estar mais atentos à formação, sim, principalmente nesse ponto que você tocou – o dos fundamentos.

BNC: Duas perguntas para fechar: a Copa América Sub16 foi transmitida via internet, e a gente viu um time muito organizado, mas que falhou muito na final contra um time, os EUA, que chegou perto de vencer na fase de classificação. Na sua equipe, a propósito, vimos uma jogadora muito promissora, a Izabella Sangalli (ambas na foto), cestinha e MVP da competição. O que você pode nos dizer da derrota na decisão e sobre a Izabella especificamente?
JA: Olha, para uma primeira seleção, e uma seleção que teve problemas para marcar amistosos devido ao calendário, considero que as meninas foram muito bem, muito bem mesmo. Foi muito legal o que fizemos no campeonato quase todo, e principalmente no primeiro jogo contra os Estados Unidos que você menciona (derrota por 71-54, após o Brasil vencer o primeiro tempo por 34-31). Mas talvez devido à idade, a descarga emocional com a passagem para o Mundial ao ganhar a semifinal tenha tirado um pouco do foco para a final contra os Estados Unidos. Se eu fiquei satisfeita com isso? Não, não fiquei, e é algo que vamos corrigir para as próximas competições. A competição só termina quando a gente tenta ganhar até o último segundo do último jogo.

Sobre a Izabella, também tive a oportunidade de treiná-la na Sub17, e é uma menina talentosa, realmente com muito futuro, e com o perfil que gosto muito. Adora treinar, é boa de grupo, como falamos, joga um basquete belíssimo e escuta muito os treinadores. É uma menina que precisa ser lapidada, dentro e fora da quadra, mas que dará muito futuro ao basquete feminino brasileiro.

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