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Bala na Cesta

Mais experiente, Adrianinha exalta jogo coletivo na seleção feminina

Fábio Balassiano

20/09/2011 07h35

Nascida em Franca, Adrianinha era levada ao SESI local para não ficar sozinha enquanto a mãe trabalhava. Fazia esportes, se divertia e se acabou se apaixonando pelo basquete. Na cidade que respira a modalidade, era fã de Dexter (clique aqui), do uruguaio Tato Lopez (clique aqui), Fausto e de Guerrinha, mas seu caminho não foi fácil até chegar a seleção brasileira adulta em 1997. No começo da década de 90, em seu primeiro teste, em Sorocaba, ela foi reprovada. Mas não desistiu. Tentou a Ponte Preta, de Campinas, passou, mas não teria direito a moradia. Ficou na casa de Luciana Perandini (hoje ex-jogadora) e de Karla (atualmente em Americana) até que surgiu uma vaga na República. Foi assim o começo da mãe de Aaliyah (a menina, hoje com quatro anos, vive com o pai nos EUA), a medalhista olímpica com o Brasil em Sidney-2000 e atualmente a jogadora mais experiente do time de Ênio Vecchi. Em ótimo papo no hotel em Americana, onde a equipe treinou durante dois meses, a jogadora de 32 anos falou sobre o Pré-Olímpico da Colômbia, sobre a falta de equipes no país, sobre as diferenças de estilo de jogo entre WNBA e Europa (ela atua na Itália há mais de dez anos – agora se transferiu para o Parma com contrato de dois anos) e muito mais. Confira!

BALA NA CESTA: A fase de preparação está terminando, e agora o Pré-Olímpico está chegando. O que vocês estão esperando? Cuba e Canadá são os principais rivais?
ADRIANINHA: Esperamos nos classificar agora. Da outra vez (Madrid-2008) nos classificamos na repescagem, mas quanto antes melhor, né. Deixar para o Pré-Olímpico Mundial, com equipes européias e provavelmente longe de casa seria muito complicado. É melhor fazermos o nosso papel logo de cara. Sobre os adversários, Cuba, Canadá e Argentina, contra quem sempre fazemos jogos amarrados, independente do elenco que elas irão (nota do editor: as hermanas irão com elenco muito renovado).

BNC: Você jogou na seleção com Helen, Janeth, Alessandra (melhor amiga de Adrianinha), entre outras, e agora só ficou você. Aumenta a sua responsabilidade de liderar um grupo que possui muitas atletas jovens?
AMP: Pode parecer bobeira o que vou falar, mas a nossa referência aqui é o grupo. Não tem vaidade, não tem estrelismo, não tem nada. Mesmo estando faz tempo na seleção, temos meninas experientes como Micaela, Chuca e Silvia, que me ajudam muito nessa parte de mostrar os caminhos. Não dá para comparar a geração anterior a esta em termos de "puxar" um grupo. Helen, Alessandra, Janeth, Claudinha, tiveram uma escola muito grande. Mas em quadra não tem essa de idade, né. Uma menina, como foi a Clarissa nos dois amistosos em Americana, pode se destacar, e a gente precisa entender que quem está no melhor momento precisa receber a bola.

BNC: Você pensa em continuar com a seleção depois de Londres? E te pergunto isso porque a sua posição (armadora) é uma das mais carentes do basquete brasileiro.
AMP: Com certeza não. Precisa renovar, né. Acho que precisamos saber quando termina um ciclo. Depois de Londres, chega. E nem sei se estamos tão mal assim de armadora. Temos a Tássia, temos a Babi, que são muito boas. É uma questão de oportunidade apenas. É que a gente nem vê porque há poucos clubes por aqui, pouca divulgação, pouco apelo na modalidade. Acho que isso vem com o tempo. Temos agora o projeto das seleções de desenvolvimento da Hortência que pode render frutos também (ela aponta para a diretora de seleções da Confederação, que acabara de chegar ao hall do hotel). É preciso ter paciência. Eu até brinco com as meninas que ninguém quer ser armadora porque é a posição mais chata que tem. E pra começar é complicado também. Ganhar a confiança do grupo, saber ler e entender o jogo, mostrar que você pode liderar uma equipe em quadra não é fácil.

BNC: Você tocou em dois pontos fundamentais, ao meu ver. O da falta de equipes e o da falta de referências no esporte. Você foi "puxada" pela Hortência, Paula e Janeth, por técnicos brilhantes, e hoje as meninas acabam se ressentindo um pouco disso em seus clubes. Na seleção, há pouquíssimas experientes. Como você enxerga isso?
AMP: Concordo inteiramente com a análise. Para ser justa, isso tem melhorado, mas com exceção do vôlei, o esporte feminino em geral tem menos divulgação mesmo, menos patrocínio, menos tudo. Vamos ver se a classificação dos rapazes acaba puxando o produto basquete para cima. Nós temos ido às Olimpíadas desde 1992, mas não mudou em muita coisa, não. Sobre o que você fala de referências, eu acho que fui privilegiada por ter treinado desde muito cedo com Maria Helena Cardoso, Eleninha, Paulo Bassul e Barbosa, e minha geração viu nossos ídolos jogarem. Joguei com a Paula, joguei contra a Hortência. Isso ajudou muito, fez a gente crescer. Eu tive a oportunidade de ver os maiores ídolos do basquete. Paula, Alessandra, Hortência e Janeth, todas elas escreveram a história do basquete brasileiro e foram exemplos não só dentro de quadra, mas principalmente em termos de atitude.

BNC: Sobre a medalha de bronze em Sidney, em 2000, foi a maior emoção da sua carreira?
AMP: Eu era muito novinha, quase não joguei (marcou apenas dois pontos em um jogo), mas fazer parte daquele grupo, ter uma medalha em casa, isso tudo é muito emocionante. E com os anos você passa a valorizar ainda mais aquela conquista, sabe. Entende que fez parte daquilo tudo, de um momento importante na história do país, de um momento bacana da história do basquete. Isso vale muito. Guardo ótimas recordações daquelas Olimpíadas.

BNC: Você jogou na WNBA, em Phoenix, atua na Itália e está sempre com a seleção brasileira. São estilos muito diferentes?
AMP: Completamente. Nos Estados Unidos parece basquete de rua. É mais corrido, mais físico, mais brigado. Na Itália, muito cadenciado, pensado, e lá eu tenho que orientar a equipe a cada segundo. O Brasil é o meio termo disso aí.

BNC: Muita gente diz que o Brasil deveria pender mais para o basquete europeu do que para o norte-americano para conseguir resultados internacionais. Você concorda?
AMP: Acho que o Brasil tem que ser o Brasil. Jogar como equipe, como foi a seleção masculina, defender muito e ter alegria no ataque. Temos uma escola de basquete de muitas conquistas. Lógico que precisamos olhar para o mundo, mas temos qualidades que quase ninguém tem no improviso, na ginga, e precisamos usar isso para vencer.

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