Bicampeã européia, Espanha dá exemplo de planejamento e gestão
No dia 10 de agosto de 1984, o então garoto Michael Jordan deixou um recado para o técnico-general Bob Knight na lousa do ginásio em que se jogaria a partida final: "Hoje nem precisa falar nada, Coach. Não vamos perder deles". O recado era claro: em casa, os Estados Unidos não deixariam a medalha de ouro escapar para a zebra da competição, que eliminara a Iugoslávia na semifinal por 74-61. E não deu outra. Jordan teve 20 pontos e conquistou o seu primeiro ouro olímpico na fácil vitória contra a Espanha por 96-65.
E, sim, neste momento você deve estar se perguntando o que deu neste blogueiro para falar disso tudo (a história acima está no imperdível livro "A Season on the Brink"). É simples: o bicampeonato no Eurobasket que a Espanha conquistou neste domingo (em 2009 foi contra a Sérvia por 85-63, e ontem com 98-85 contra a França, com 27 pontos do MVP Juan Carlos Navarro – na foto à esquerda) não foi fruto do acaso, mas sim de muito, mas muito trabalho da Federação Espanhola, que se tem suas falhas (como a naturalização de Serge Ibaka, a menor atenção dada ao feminino e um ou outro plano equivocado), ao menos dá um show de planejamento e gestão sob o comando de José Luiz Saez, que baseia seu trabalho no trinômio profissionalismo-eficácia-ambição para desenvolver a modalidade por lá.
Ao contrário da geração da década de 80, que foi descoberta pelo técnico Antonio Díaz-Miguel e que tinha dois mitos locais como estrelas (o ala Fernando Martín, que 18,6 pontos nas Olimpíadas de 1984, e Juan Antonio San Epifanio), o título de 2011 mostra quão avançada está a Espanha no basquete mundial. O país possui uma liga forte (a ACB), um punhado de jogadores espetaculares (vejam quantos "ótimos" nem sequer estiveram na Lituânia) e um projeto de iniciação brilhante que se apóia no trio escolas-clubes-federações locais.
Em 1984 a Espanha abriu os olhos para o basquete, criou a sua liga independente dos clubes e mostrou para a sociedade pós-franquismo que, sim, havia uma modalidade interessante para os jovens do país. Quinze anos depois (o sucesso, sem atalhos, é lento mesmo), os espanhóis conquistariam o Mundial Sub19 em Portugal (Pau Gasol, Navarro e Felipe Reyes estavam lá). Em 2006, o primeiro título Mundial (no Japão). Agora, o bicampeonato europeu.
Ah, e em 2008, na final olímpica, Kobe Bryant e Dwyane Wade (47 pontos somados) tiveram que salvar os norte-americanos para conquistar a medalha de ouro. O adversário de Kobe e Wade? A Espanha, que planejou, capacitou seus técnicos, produziu talentos e chegou lá. Se é verdade que o futebol espanhol é campeão do mundo, não resta dúvida que o basquete também tem espaço por lá.
O basquete espanhol é popular (os clubes são fortíssimos e tradicionais), recheado de talentos e, o mais importante, vencedor. Foram mais de 25 anos de trabalho.
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