Sem 'estrelismo', Érika só pensa na vaga olímpica com seleção feminina
A seleção brasileira que começa a brigar pela vaga no Pré-Olímpico feminino de Neiva, na Colômbia, a partir do dia 24 de setembro ainda não está completa. Falta a décima-segunda e mais importante jogadora da equipe. É a pivô Érika de Souza, melhor atleta do país há cerca de seis temporadas e que pediu a sua liberação para o Atlanta Dream, da WNBA, para representar a seleção brasileira (leia mais aqui).
No papo franco que tivemos, a jogadora de 29 anos que tem as médias de 11,8 pontos, 7,5 rebotes e é uma das maiores responsáveis por colocar o Atlanta entre os melhores times da liga norte-americana falou de seu ano perfeito na Espanha (ela foi campeã nacional e européia pelo Salamanca), do desejo de voltar a jogar no Brasil, do seu papel em um grupo renovado e das chances da equipe de Ênio Vecchi no torneio continental.
BALA NA CESTA: O Atlanta foi vice-campeão na temporada passada e neste ano não terá você até o final dos playoffs caso o time avance porque você decidiu atuar pela seleção brasileira no Pré-Olímpico da Colômbia. Como foi a negociação com o time para a sua liberação? Foi difícil convencê-los?
ÉRIKA DE SOUZA: Eu não participei de nenhuma conversa. Meu agente (Fábio Jardine), sim, esteve em contato com o Atlanta e a CBB para que tudo desse certo. Prefiro ficar de fora dessas negociações e pensar somente em jogar. A única coisa que disse era que queria defender a seleção brasileira este ano, que é muito importante para a equipe, e é isto que vai acontecer. Estou muito feliz porque sei que temos uma missão a cumprir. E quero ajudar da melhor forma possível.
BNC: O que você está esperando do Pré-Olímpico? Está pronta para ser uma das líderes do time em quadra mesmo chegando praticamente com a competição por jogar?
ES: A única coisa que espero é sair com a vaga para as Olimpíadas – o resto não tem a mínima importância. Se precisar ser uma líder em quadra eu serei, mas esse tipo de característica acontece naturalmente ao longo dos jogos. O foco é sair de lá invicta, com o título e conseqüentemente com a vaga, e será este o nosso pensamento. Creio que liderança é algo natural e vem do caráter e da forma de agir. Cada uma dentro da equipe terá uma função, e sei da minha dentro e fora de quadra. As meninas e a Hortência me conhecem há algum tempo, e o que eu puder passar de orientação e experiência pode ter certeza que farei.
BNC: Muito se fala sobre as suas intenções com a seleção brasileira. Você jogou, desde 2006, apenas o mundial de 2010, e mesmo assim rendeu abaixo do esperado junto com toda a equipe. Qual o seu sentimento em relação a seleção, e o que aconteceu no Mundial do ano passado?
ES: Acredito que joguei muito bem no Mundial (tive as médias de 16,6 pontos e 12 rebotes por jogo). O que aconteceu é que no conjunto não fomos bem, e a primeira partida contra as coreanas foi bem marcante para a equipe (derrota no final). Mas a seleção de 2011 é diferente da que esteve no Mundial de 2010, o técnico é diferente, e é nisso que deve estar o nosso foco agora.
BNC: Você vem de uma temporada brilhante na Espanha (campeã nacional e européia), e agora joga pela WNBA, que é muito cansativa e tem o calendário apertado em relação ao da seleção brasileira. Como fica a questão de descanso e do desgaste do seu corpo?
ES: Tive um mês de descanso antes de me apresentar ao Atlanta Dream na WNBA e, sim, tudo é muito corrido e cada dia de repouso conta muito. Mas sei muito bem como o mundo do basquete funciona. Quando se chega em um certo nível, é complicado ficar parado por mais de 30 dias – é assim com todas. Mas se meu corpo pedir eu o farei. De todo modo, até agora a máquina está funcionando bem (risos).
BNC: Como você consegue avaliar o basquete brasileiro em relação ao europeu e a WNBA, que você vivencia nove, dez meses por ano? Estamos muito atrás em termos de organização? E em termos de formação, técnica e tática? Também?
ES: O basquete brasileiro ficou parado por muito tempo, e pelo o que estou acompanhando estamos andando muito bem nos últimos dois anos – desde que o Carlos Nunes e a Hortência assumiram. Dentro da seleção estamos tendo um tratamento muito melhor, e pelo que estou acompanhando a próxima Liga de Basquete Feminino terá novidades interessantes. Na Europa o campeonato já esta consolidado e a proximidade dos países ajuda muito. Sobre a WNBA, no começo pra mim era um sonho e hoje é real, mas a realidade traz seus lados positivos e negativos. Tudo é lindo: o show, as melhores jogadoras do mundo, os fãs, ginásios de primeiro mundo etc. Tudo isso vem com muito trabalho, muita estrutura, que ao longo desses anos foi construída por pessoas de talento.
Falando especialmente no time de Atlanta, as pessoas me tratam muito bem e me apóiam em tudo o que é necessário para eu poder jogar da melhor forma. Não é uma NBA ainda, mas é o melhor do basquete feminino do mundo sem dúvida alguma. Espero que possamos trazer mais estrangeiras para o nosso campeonato nacional, e que as nossas jogadoras que estão fora possam voltar a atuar no brasil. Isso com certeza é um passo importante para a melhora no nível das nossas jogadoras.
BNC: Algumas jogadoras australianas cogitam não jogar a WNBA em 2012 para se prepararem melhor na Austrália para as Olimpíadas. Você cogita isso, ou seja, ficar no Brasil após a temporada européia para brilhar pela seleção brasileira?
ES: O Fábio (Jardine, agente da pivô) já está em conversa com a Hortência (diretora do departamento feminino da Confederação Brasileira) para que isso aconteça. Estou na torcida para que dê certo.
BNC: Então voltar para jogar no Brasil passa pela sua cabeça, certo?
ES: É o que mais quero, de verdade. Você tem alguma proposta? Se tiver, passa pro meu agente por favor (muitos risos)!
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