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Bala na Cesta

Seleção feminina mostra evolução, mas recomendação segue a mesma: CALMA

Fábio Balassiano

03/10/2019 13h24

Terminou no último fim de semana em Porto Rico a Copa América Feminina. Os EUA foram campeões sem surpresa alguma ao vencer o Canadá por 67-46, e o Brasil ficou com o bronze ao vencer as donas da casa por 95-66. A conquista foi muito comemorada pelas atletas e eu preferi respirar um pouco antes de escrever.

Vi todos os jogos e é inegável que o time sob comando de José Neto é outro. Bem outro em relação ao que se via nos últimos anos. Mais intenso, mais encorpado, entendendo melhor as dinâmicas das partidas e conseguindo "destruir" rivais que até pouco tempo ou nos incomodavam ou nos venciam – notadamente Colômbia, Porto Rico e Argentina, os três abatidos sem grandes sustos nessa Copa América.

O trabalho de Neto é MUITO bom, disso não há dúvida, e a comparação com o que se via anteriormente lhe ajuda pois o passado é bem ruim, mas entre isso e ativar o modo #Empolguei vai uma diferença imensa e prefiro manter a distância, salutarmente crítica para um jornalista, para aguardar os próximos passos e analisar com um pouco mais de "caldo" e também com mais testes de bom nível.

Aqui, aliás, cabe uma observação. Eu não vou me nivelar por baixo e achar que ganhar de times que têm ligas amadoras (Argentina, Colômbia, Paraguai e Porto Rico) é o máximo porque meu padrão de sucesso é outro – e bem mais alto. Se as pessoas se acostumaram com a mediocridade, e achar que estar em último ou penúltimo de Mundial ou Olimpíada é normal e motivo para sorrisos em fotos azar. Com um pouco de trabalho é possível ir longe no universo feminino, isso é muito óbvio pra mim. Mas, bem, vamos voltar.

O jogo contra o Canadá, realmente o único testa da equipe feminina em Porto Rico, foi muito ruim, mal jogado, com os vícios antigos voltando e uma derrota dolorida na semifinal por 66-58. Qual a surpresa? As canadenses têm feito um trabalho muito bom com essa geração há quase uma década e vencido o Brasil constantemente. Nos doeu porque os pontos positivos da derrota contra os EUA por 89-73 ficaram pelo caminho e ninguém sabe realmente o que esperar do Brasil no que vem por aí. A gente não sabe ou talvez não queira ver.

Não custa dizer que é este mesmíssimo grupo que tem colecionado vexames em âmbito internacional nos últimos cinco anos (Neto é técnico, e não milagreiro) e também que comemorar terceiro lugar em Copa América não é comigo, mas entre esse ceticismo (exagerado talvez) e a realidade há um Pré-Olímpico das Américas duríssimo que se avizinha.

Infelizmente a Confederação não conseguiu sediar a competição, e o Brasil caiu em um grupo duríssimo entre os dias 14 e 17 de novembro em Bahia Blanca (Argentina) contra as donas da casa, Colômbia e EUA. Os dois primeiros avançam ao Pré-Olímpico Mundial, e se as americanas ganharem o grupo (algo provável) a seleção que chegar em segundo jogará o Pré Mundial.

Sigo insistindo que o caminho do basquete brasileiro passa por uma base que hoje ainda é muito mal planejada, desorganizada e sem um circuito de divisões inferiores que a gente olhe e consiga estufar o peito para se orgulhar.

Não se constrói uma casa pelo teto. E o teto, no esporte de alto rendimento, é a seleção. Ou o basquete brasileiro entende que é preciso refundar a sua divisão de base INTEIRA, dando espaço para o surgimento de novas atletas, ou o buraco existente, gigantesco, será ainda maior daqui a cinco, dez anos.

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