Topo

Bala na Cesta

Na saída do Vasco do NBB, o crônico problema de gestão no esporte brasileiro

Fábio Balassiano

15/07/2019 05h01

No dia 6 de janeiro de 2018, há um ano e meio portanto, você leu aqui um texto meu falando sobre os problemas financeiros que o time de basquete do Vasco vivia. Não foi a primeira vez, né? Atrasos de salário, falta de patrocínio e sobretudo alienação de uma diretoria que previa, sem uma linha sequer de patrocínio, surreais R$ 8 milhões de orçamento para montar time para a temporada:

A conta chegou (o clube não pagou aliás,) e de forma zero surpreendente o time anunciou no sábado a desistência do próximo NBB alegando problemas de grana. Caramba, que surpresa – nenhuma, no caso. Admira-me, de verdade, que em três anos de projeto o Vasco não tenha conseguido sequer uma receita para manter seu time de basquete. Como a agremiação pensa que se monta um time em um esporte profissional? Não é assim, é? Em que mundo essa galera vive aliás? Será que não faltou um pouco de humildade de fazer as coisas devagarinho, ir crescendo e aos poucos chegar ao ponto mais alto? Ou isso é impossível pra clubes de futebol, como se pecado fosse?

Jura que em 2019 a gente ainda pensa em fazer basquete aguardando o dinheiro do futebol? Será que os famosos "clubes de camisa" não aprenderam nada? Será que a relação vai ser sempre servil, escravocrata, amadora assim? Não dá pra colocar um pingo de profissionalismo e aproveitar o motor de uma máquina com muitos torcedores para, a partir de disso, criar um modelo de gestão moderno, austero, independente e crível para patrocinadores, torcedores, mídia e sociedade?

Fica difícil escrever alguma coisa depois do que o Felipe Souza colocou muitíssimo bem em seu blog (mais aqui), mas se essa parece ser uma situação particular, ao menos pra mim está muito mais pra regra de "ouro" do esporte brasileiro do que a exceção quando falamos em gestão, organização, filosofia e planejamento do que qualquer outra coisa.

Antes de seguirmos, um ponto importante: como o Vasco pretende pagar os salários e suas dívidas com atletas? Pelo que conta, o montante supera os R$ 4 milhões. Quem vai cobrar isso? A Associação de Atletas? A Liga Nacional? Os próprios jogadores? É um volume meio absurdo, não? Como deixaram chegar nesse ponto surreal?

Foto: Paulo Fernandes/ Vasco.com.br

Há um ponto que também merece ser destacado. Admiro pacas o que a Liga Nacional vem fazendo pelo basquete, isso todo mundo sabe e quem acompanha este espaço sabe do respeito que tenho nestes mais de 10 anos de NBB. Mas a LNB precisa ser mais criteriosa ao aceitar a chegada de seus clubes. Como ela está, realmente, vendo os balanços dos clubes ANTES de começar o NBB? No último campeonato houve atrasos de salários em MUITOS clubes, ou seja, não me parece ser algo de exceção, pontual, mas sim sistêmico, quase endêmico. Quem está fiscalizando isso? Quando isso enfim vai acabar? Há uma bolha no basquete brasileiro que faz com que os clubes paguem mais do que podem de forma sequencial, sem que o problema acabe nunca? Se sim, será que não vale a Liga entrar um pouco nesse tema?

"Só" ter camisa pesada não adianta nada. Vale muito, sim, ter planejamento, organização, gestão e sobretudo profissionalismo. Tudo isso faltou ao Vasco nesse retorno às quadras nos últimos anos. Que sirva de lição não só pros clubes, mas também para a Liga Nacional, que deve ser mais criteriosa ainda na aprovação de seus entrantes no campeonato.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.