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Bala na Cesta

Técnico péssimo, LeBron não genial, mas fracasso do Lakers tem Magic Johnson como protagonista

Fábio Balassiano

07/03/2019 05h00

EON BENNETT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP

No começo de julho de 2018 a torcida do Los Angeles Lakers sorriu de orelha a orelha quando a franquia anunciou a contratação de LeBron James, considerado por quase todos como o melhor jogador do planeta. Prestes a completar 34 anos, o astro sairia de Cleveland para assinar provavelmente o último contrato de sua vida (4 anos) com a equipe californiana. Menos de um ano se passou, e na quadra o que se vê é um verdadeiro pandemônio.

O time que enfrentou ontem o Denver em casa, perdeu e 115-99, agora tem a pífia campanha de 30-35 (quatro derrotas consecutivas), está bem longe da zona de classificação ao playoff no Oeste (o Spurs, o oitavo da conferência, tem 37-29) e com uma crise que coloca Magic Johnson, um dos maiores ídolos da franquia, como o principal responsável por esse cenário.

Antes de seguir, vamos ao óbvio. O Lakers em crise não tem um ÚNICO responsável. Magic, como manda-chuva do basquete, tem a principal parcela, mas não a única, claro. LeBron James, que ontem com seus 31 pontos ultrapassou Michael Jordan e se tornou o quarto maior pontuador da história da NBA (atrás apenas de Kobe Bryant, Karl Malone e Kareem Abdul-Jabbar), está LONGE de ter uma temporada genial, os garotos que lá estão se mostram bem mais fracos do que muita gente imaginava (apenas Brandon Ingram, depois do All-Star Game, tem lampejos de estrela), o técnico Luke Walton é HORROROSO e os veteranos não conseguem mais segurar a onda. É um conjunto de fatores, como se vê.

AFP

Isso tudo é verdade e aqui vai um detalhe sobre como nem tudo é culpa de Magic. A última vez que que os Lakers foram aos playoffs? Em 2012/2013. Com um elenco bem médio (Steve Nash mal, Pau Gasol começando o declínio e Dwight Howard sendo Dwight Howard), Kobe Bryant teve 27,3 pontos aos 34 anos pra guiar a franquia praticamente nas costas rumo a pós-temporada. E agora, o que acontece? Com a mesma idade que Kobe tinha época, LeBron possui a mesmíssima média (27 pontos) e com um mesmo elenco de apoio errático está sendo incapaz de comandar a equipe rumo a pós-temporada (o corpo não permite mais isso, me parece claro). Não é uma crítica ao camisa 23, pelo contrário, mas um indicativo de que a franquia não aprendeu nada sobre como cercar e proteger seus veteranos craques.

Agora vamos lá. Alguns motivos que fazem de Magic o principal responsável pela crise gigante em que se encontra o Los Angeles Lakers:

1) Elenco mal montado -> Aqui pra mim está o principal erro de Magic Johnson. TODO mundo sabia que essa temporada não seria a do Lakers para brigar por título ou algo mais forte. Sim, é verdade. Mas não era pra ficar de fora de um lugar (playoff) não frequentado há tanto tempo (desde 2013). E o motivo disso é que o grupo montado por Magic é uma calamidade, algo dito por quem acompanha a NBA desde o começo do campeonato. Desde sempre LeBron rendeu melhor quando tinha a bola nas mãos e bons arremessadores de três por perto. Não precisa ser gênio pra saber disso. Era só ter estudado os times onde ele foi bem – e onde não foi tão bem assim. No Cleveland campeão havia Kyrie Irving, Kevin Love, JR Smith e Channyng Frye.

Até mesmo em Miami, quando tinha três Hall da Fama por perto (Chris Bosh, Dwyane Wade e Ray Allen), Pat Riley não fazia por menos e quando podia enchia o elenco com atiradores de fora – Mike Miller, por exemplo. Na própria armação o foco não estava em um condutor de bola, mas sim em alguém que conseguisse matar do perímetro (Mario Chalmers e Norris Cole estavam longe de ser confiáveis, mas matavam suas bolinhas…).

O que fez o Lakers? Os dois armadores principais (Rajon Rondo e Lonzo Ball) arremessam mal pacas e precisam da bola nas mãos para render bem (isso com James no elenco…). Pra piorar, Magic não colocou NENHUM jogador com ótimo potencial pra bolas de 3 ao redor de James (apenas Kyle Kuzma é isso, mas ele já estava por lá). Vieram de reforços Rondo, Michael Beasley, JaVale McGee, Lance Stephenson e nenhum ala-pivô pra sair do garrafão, espaçar a quadra e atirar de longe. O resultado? O Lakers tem hoje o penúltimo aproveitamento em bolas longas da NBA com 33,6% – em uma NBA atual onde se vence atirando bem de longe. Não era difícil ver que isso ia acontecer. Hoje em dia os times adversários fecham o garrafão, deixam a linha de três aberta e… os angelinos erram com tranquilidade.

2) Manutenção do técnico Luke Walton -> Walton é péssimo, não há dúvida. A defesa do Lakers é inexistente, o sistema de ataque é muito baseado em jogadas de um-contra-um, suas escalações são inacreditáveis e suas substituições durante as partidas, inconcebíveis. Magic Johnson disse que manteria o técnico por toda temporada – a não ser que uma catástrofe acontecesse. Bem, o time perdeu do Hawks e do Knicks, três dos piores times do campeonato, e nada aconteceu.

No final de janeiro, com 26-25 na campanha e cinco derrotas em seis jogos (LeBron ainda lesionado e o barco afundando), a franquia deveria ter agido. Não o fez e agora provavelmente verá o playoff pela televisão. Pior que isso: que tipo de mudanças Magic provocou em Walton? Que tipo de diálogo houve neste sentido? O Lakers joga de maneira idêntica a temporada inteira, independente dos adversários. Como comentarista Johnson era muito óbvio, quase sempre repetindo clichês, e agora o mesmo ocorre com o sistema tático de um comandado seu. Não é apenas coincidência.

3) Declarações durante o processo de troca (não ocorrida) de Anthony Davis -> Aqui entra o lado falastrão de Magic Johnson, já punido ano passado pela NBA por atitudes não condizentes com seu cargo (ele elogiou Giannis, do Bucks, algo não permitido pela liga, que considera isso assédio). Pois bem. Mais uma lição não aprendida por ele. Depois que Anthony Davis informou ao mundo que queria sair do Pelicans, Magic partiu pra cima oferecendo pacotes pouco convidativos ao New Orleans, que reagiu cozinhando os angelinos e não fechando a negociação. Neste período inteiro Magic deu declarações, via imprensa, de que os Pelicans não estavam agindo de boa fé. Pouco depois de perder do mesmo Pelicans no final de fevereiro, a franquia de Louisiana reagiu com bom humor ao dizer que "ganhou do Lakers com boa fé". Era melhor ter ficado calado, Magic…

4) Troca de D'Angelo Russell -> Pode parecer oportunismo dizer isso agora, e a gente sabe bem o motivo pelo qual Magic Johnson trocou Russel para o Brooklyn Nets (pra abrir espaço na folha salarial tentando mais uma estrela ao também mandar o contrato de Timofey Mozgov)), mas o fato é que o manda-chuva angelino disse em entrevista coletiva que estava despachando D'Angelo para o Brooklyn porque não o considerava um "líder". Na mesma inter-temporada ele escolheu Lonzo Ball no Draft de 2017. Dois anos se passaram, Russell tem 20 pontos e 6,8 assistências de média, é um All-Star e guia o Nets aos playoffs aos 23 anos e ainda em contrato de calouro. Bom na defesa, Lonzo tem 9,9 pontos e 5,4 assistências, mas está LONGE de ser o grande jogador que muitos esperavam dele. No mesmo Draft, aliás, Magic deixou passar Jayson Tatum, que tem jogado incrivelmente bem pelo Boston Celtics, para ficar com Ball.

5) A incompreensível troca de Ivica Zubac -> Não que fosse mudar o rumo da prosa, mas no último dia das negociações da NBA o Lakers estava desesperado por Anthony Davis. Ofereceu o elenco INTEIRO para o Pelicans, que não topou. Até aí, beleza. O que ninguém entendeu foi o fato dos angelinos terem trocado o bom e jovem pivô croata Zubac para o vizinho Clippers por um pacote de bala (Mike Muscala). Mais uma vez a franquia viu um Magic Johnson desesperado e sem o menor propósito fazer uma troca sem sentido.

6) A troca "irmã" por Tyson Chandler -> Aqui entra a mão de LeBron James. Desesperado vendo o elenco mal montado pelo Lakers, LeBron pegou o telefone e ligou pro seu amigo James Jones, do Phoenix Suns, fazendo o meio campo inteiro, algo surreal aliás. Em menos de uma hora a troca envolvendo Tyson Chandler foi concretizada, mas fez com que Magic ficasse com imagem arranhada na NBA e prejudicasse futuras negociações – uma com o próprio Suns, do ala Trevor Ariza. Isso, sinceramente, jamais imaginei que fosse ver com Magic Johnson – alguém interferindo tão claramente em seu trabalho.

Magic Johnson foi treinado por Pat Riley no Lakers do Showtime na década de 80. Poderia pegar o telefone e aprender um pouco com o agora manda-chuva do Heat. Riley ajudou a fundar e elevar a franquia a um patamar incrível desde o começo de sua história sempre resolvendo seus problemas internamente, pensando sempre em cercar as suas estrelas com o melhor talento disponível e encorajando seus técnicos a se atualizar e a evoluir a cada dia (Erik Spoelstra é um ótimo exemplo).

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