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Bala na Cesta

Crônica da demissão anunciada - técnico Tom Thibodeau sai do Wolves mesmo após vitória

Fábio Balassiano

07/01/2019 03h19

MADDIE MEYER / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP

O fim de domingo tinha tudo pra ser tranquilo em Minneapolis. O Minnesota Timberwolves fez 108-86 no Lakers, engrenou a segunda vitória seguida, se aproximou dos 50% da campanha (agora tem 19-21) e quatro dos próximos seis jogos são em casa. Tudo bem pra começar a semana, né? Não.

Glen Taylor, dono da franquia, entrou no vestiário logo após o triunfo contra os angelinos não pra aplaudir o elenco, mas sim para puxar de lado Tom Thibodeau, técnico e gerente-geral do time. O motivo: Taylor demitiu Thibodeau de suas duas funções. Sem choro e nem vela.

Perguntado depois pelo Minneapolis Star sobre as razões da queda, Taylor foi pragmático e transparente: "Thibodeau fez um trabalho muito bom até a temporada passada mas nesta acreditávamos que poderíamos estar mais avançados em termos de vitórias. Todos os movimentos que foram feitos por ele e seu staff não nos colocaram em zona de playoff, onde acredito que podemos estar devido às peças que temos. A troca (do Jimmy Butler) foi um ponto importante e que até agora estamos nos refazendo. Vamos procurar nos concentrar nas melhores soluções daqui pra frente". O único senão disso tudo é que Glen está cogitando Fred Hoiberg, que acaba de ser mandado embora do Chicago pelo mesmo motivo de Thibs (performance), para um dos cargos vagos (insano, gente!).

Em primeiro lugar, um ponto mega importante. Acredito que com a demissão de Thibs a Era dos Técnicos com mega poderes terminou. Ser treinador e gerente-geral (GM) é algo incongruente, inadmissível para uma NBA que é absurdamente profissional e que precisa que o GM supervisione e cobre o técnico (e não que estas funções sejam exercidas pelas mesmas pessoas). Os dois últimos casos, de Thibodeau no Wolves e Doc Rivers no Clippers, mostram bem isso. Em Los Angeles tiraram a função de fora da quadra de Doc e o trabalho que ele vem fazendo dentro dela mesmo sem Blake Griffin e Chris Paul tem sido incrível (23-16 e a quarta posição no Oeste). Thibs não teve a mesma sorte e foi defenestrado de seus dois chapéus deixando o Wolves em décimo-primeiro na conferência.

Em segundo, sinceramente falando eu concordo com a demissão e havia cantado a pedra no grupo dos assinantes do Bala na Cesta no Facebook. Sempre admirei Thibodeau pelo trabalho excepcional que ele conseguiu fazer com o Chicago Bulls, mas seu desempenho no Minnesota foi confuso e eu só consigo citar a chegada de Derrick Rose como um grandíssimo acerto. O resto entra mais pra conta de erro e de situações que já existiam antes dele chegar (Towns e Wiggins foram peças draftadas anteriormente).

Motivos não faltam pra citar, né? As grandes estrelas do time não se desenvolveram nas mãos dele tão incrivelmente bem como a gente esperava (Andrew Wiggins principalmente e Karl Anthony-Towns), sua principal troca (de Jimmy Butler) causou confusão no vestiário em um ano e a rota teve que ser modificada de maneira abrupta, seu apego pelas figuras de Chicago com quem ele havia trabalhado beira a a escatologia (até Luol Deng, que não joga há 452 anos, ele fez questão de contratar) e o fato de ele não se abrir mentalmente para uma NBA diferente (a que tem no ataque a sua principal qualidade e não a defesa, sua especialidade).

Seu setor ofensivo, aliás, continuava tão estático quanto na época de Chicago e seu apego às velhas ideias se mostra quando o Wolves arremessa apenas 28,4 vezes de três pontos por jogo, o sexto menor índice da temporada. É óbvio que faltam peças para tal, já Wiggins, Rose, Teague etc. não são talhados para isso, mas se Thibodeau era o dono das contratações ele poderia ter se mostrado mais aberto ao novo jogo da NBA e trazido algumas peças neste sentido para seu time. Pior que isso é que nem na marcação o Wolves se encontrava bem na quadra. Marca registrada do treinador no Bulls, o setor defensivo em Minneapolis era mediano pra baixo (na atual temporada via os rivais converterem 46% dos arremessos, o décimo-sexto pior índice da liga).

A ida ao playoff na temporada passada, conquistada no último jogo da fase regular contra o Denver, parece ter sido o canto do cisne de um time que não conseguiu se encontrar até agora no campeonato de 2018/2019. Tom Thibodeau é um excepcional técnico, mas me parece muito claro que ele precisa de um tempo para se reciclar, rever conceitos e mudar a sua forma de dirigir e pensar em como motivar, controlar o vestiário e desenvolver os atletas.

Em Chicago ele pegou um time já construído, de jogadores maduros e com um capitão tão duro quanto ele no vestiário (Joakim Noah). Isso ajuda na criação da filosofia de equipe. Quando o chefe tem no líder do elenco alguém com a mesma identidade (de vida?) as coisas fluem ainda mais. Em Minnesota Thibodeau não entendeu que o terreno era outro e tentou aplicar a mesma fórmula (erro bobo, banal, bem básico do ponto de vista de gerenciamento de pessoas).

As duas principais estrelas são jovens, dessa geração do século XXI onde uma crítica ou um ponto mais duro no treino é quase uma ofensa – e as redes sociais potencializam tudo. Wiggins e Towns são bons, mas não evoluíram tudo o que se esperava deles e foram alvos de Jimmy Butler, que também partilhava das ideias de Thibs, justamente porque havia uma incompatibilidade de pensamentos entre eles – o técnico é um trabalhador incontrolável, os dois rapazes parecem ser menos aficcionados por treinamentos. Não é um defeito, um problema do técnico e nem do atleta (é mais geracional do que particular da dupla), mas sim de Thibodeau se adaptar ao elenco que tem, usando fórmulas diferentes para atingir corações e cabeças de indivíduos com perspectivas completamente distintas da turma do Bulls.

O casamento de Thibodeau e Wolves chega ao fim com os dois realmente precisando de um tempo. O Minnesota para descobrir se suas estrelas vão conseguir levar a franquia a dias melhores. E o técnico para revisitar conceitos antes de pegar um próximo trabalho. Vai ser bom para os dois, eu tenho certeza.

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