Topo

Bala na Cesta

Na conquista do Super8, a chave de ouro da gestão que mudou o basquete do Flamengo de patamar

Fábio Balassiano

03/01/2019 05h00

Foi ali no dia 29 de dezembro que o basquete brasileiro conheceu o seu último campeão do ano. Em Franca diante de um Pedrocão lotado (lindíssimo!!!), o Flamengo jogou muito bem do começo ao fim, fez 79-75 e tornou-se campeão da primeira Copa Super8 do NBB. Levou o troféu e de quebra garantiu vaga na Liga das Américas de 2019/2020.

Marquinhos foi o MVP, o argentino Balbi jogou ABSURDOS, Anderson Varejão conquistou o primeiro troféu relevante dele com a camisa do clube, Gustavo de Conti saboreou nova vitória em solo francano, mas é impossível falar disso tudo e não mencionar a diretoria rubro-negra que provavelmente se despediu ao final do ano agora passado.

No momento em que escrevo, e isso é importante ser dito, não há confirmação sobre a manutenção de Marcelo Vido, gestor de esportes olímpicos do Flamengo, mas o cargo de Alexandre Póvoa (na foto abaixo) é obviamente certo que haverá uma mudança, visto que é uma indicação do mandatário Rodolfo Landim.

O que gostaria de tocar neste texto é em como a dupla Vido / Póvoa ajudou a colocar o basquete rubro-negro em um outro patamar. E já antecipo: eu sei que ambos eram responsáveis por todos os esportes olímpicos do clube da Gávea, mas eu não tenho como escrever das demais modalidades e vou me ater ao nosso cantinho laranja…

É meio óbvio dizer isso hoje de um time que jogou 3 vezes contra times da NBA (duas nos EUA e uma vez aqui no Brasil) e conquistou NBB's, Liga Sul-Americana, Liga das Américas e até Mundial Interclubes nos últimos seis anos (dois mandatos do presidente Eduardo Bandeira de Mello). O que pouca gente lembra, neste janeiro de 2019, é que até se transformar em uma máquina de ganhar títulos e garantir ao basquete a alcunha de "orgulho da nação" o Flamengo era (com o perdão da palavra) uma zona só.

Faltava salário (houve uma vez que o time jogou uma final de Liga Sul-Americana com dois / três meses de atraso), uma denúncia gravíssima feita pela ESPN mostrava uma prática zero ética sobre uso de verba pública para pagamento de dirigentes (mais aqui), o departamento de marketing não existia e as perspectivas eram sempre muito ruins quando se pensava em futuro.

Se houve falhas, e a maior pra mim foi não ter tratado o basquete do Flamengo como algo ainda mais especial, trazendo o torcedor pra perto da equipes em todos os momentos e não apenas nas finais (as médias de público do Fla no NBB são baixíssimas para uma equipe que tem a maior torcida do Rio de Janeiro e também do Brasil), o saldo do duo Vido e Póvoa é muito positivo.

Muito, muito mesmo. Tenho e tive contato com os dois e só posso garantir que os caras, com quem nem sempre concordei (e a recíproca é verdadeira), trabalharam incansavelmente não para ganhar troféus, mas para mudar a cultura de um clube que passou a colocar títulos como consequência de organização, planejamento, geração de receitas, casa arrumada e comissões técnicas de elite – e não o contrário, como acontecia anteriormente.

Lembro que uma vez encontrei Póvoa depois de uma conquista de NBB e perguntei do que mais ele se orgulhava daquele Flamengo já multicampeão: "Da nossa cultura de basquete vencedora. E do fato de termos uma comissão técnica integrada. Nosso número de lesões é o menor do Brasil e isso não se deve apenas a competência, mas sobretudo ao fato de todos ali entenderem seus papéis e como a união das partes faz o clube ser ainda mais forte do que se todos remassem em uma direção distinta". Diz muito sobre o dirigente, um homem de sucesso no mercado financeiro, e sobre como o rubro-negro se transformou neste tempo.

Insisto: se ainda falta muita coisa para o Flamengo, sobretudo no que tange a uma maior profissionalização do lado de fora de um basquete que se tornou referência no país (eu realmente não me conformo com o fato de um clube deste tamanho ter média de menos de mil pessoas por jogo), o saldo dos dois dirigentes é absurdamente positivo.

O mesmo Flamengo que era visto como um time que gastava o que não tinha para ganhar a qualquer custo (e que custo) tornou-se um clube responsável, que investe o que tinha no bolso, que paga a cada 30 dias e criava novas linhas de receita no mesmo período em que o Brasil vivia uma grave crise econômica. Marcelinho, Raiana, Marquinhos, Olivinha, JP Batista, Neto, Andre Guimarães, Vitor Benite, Nicolas Laprovittola. Todos eles e mais os que não citei foram e são muito importantes para o que o maior clube do país se tornou.

Arrisco-me, porém, a dizer que a semente sustentável para que o Flamengo siga ganhando mesmo com a troca de diretoria foi plantada não dentro da quadra, mas sim fora dela por Alexandre Póvoa e Marcelo Vido. Que os novos mandatários olhem isso com calma e tenham a inteligência de evoluir ainda mais o basquete do clube (e não de matar tudo aquilo que foi construído em seis anos).

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.