O infiltrado?, por Rodrigo Salomão

* Por Rodrigo Salomão

Antes de vocês começarem a ler pra valer, aqui vai um recado: hoje a conversa é sobre uma forma diferente de ter assistido a uma partida de basquete. Topam? Falar da atmosfera do ginásio lotado para o confronto entre Maccabi Tel Aviv (8º lugar) e CSKA (líder) é chover no molhado.

Destacar o altíssimo nível dos russos, liderados pelo experiente armador espanhol Sérgio Rodriguez, também não é grande novidade. Arremessos certeiros de três, quadra espaçada, proteção de aro eficiente, duelo tático intenso. Tudo isso estava lá dentro das quatro linhas, podem ter certeza. A visão que quero contar para vocês é outra.

Não era a minha primeira vez com credencial de imprensa num evento esportivo. Também não era a primeira vez na Menora Mivtachim Arena, já que moro em Israel e volta e meia frequento o local pra ver os jogos do Maccabi.

Mas eu nunca havia coberto, como jornalista, uma partida de tal porte internacional. Eu me beliscava de cinco em cinco minutos para ter certeza de onde estava: "É a Euroliga, cara". Pois é. A Euroliga! Eu estava lá, com celular em punho, laptop, estatísticas abertas em diversas janelas e um coração na boca. Antes de estar ali como jornalista para escrever este texto, estava como amante do basquete. Eu era vocês.

O ineditismo da situação ganhou contornos curiosos à medida em que outros profissionais se espantavam com o fato de um brasileiro estar ali cobrindo a partida. O recado era claro: o país do futebol também tem gente que ama basquete. Somos poucos, mas também somos bons. A responsabilidade de tentar absorver e registrar o máximo possível pros leitores do blog só crescia.

O barulhinho dos tênis no aquecimento, os detalhes da estrutura técnica para o espetáculo, a preocupação de não perder nenhum detalhe, seja das arquibancadas ou dos atletas, tudo foi motivo de êxtase. Isso sem falar no impressionante kit de mídia com os detalhes da rodada (vejam com seus próprios olhos).

Depois de o cronômetro soar pela última vez, sacramentando a vitória russa por 93-73, a cereja no bolo ainda estava por vir. Nada do que eu havia vivido até ali se comparou à emoção de, após o final da partida, ter a oportunidade de conversar, olho no olho, com atletas do time da casa dentro do próprio vestiário. Entrevistas mesmo. "O que você está fazendo aí?", era o que eu achava que alguém me falaria em algum momento. Até porque era o que eu mesmo estava me perguntando.

Mas, não, pelo contrário. Fizeram questão de me chamar para dar a folha com os números do jogo para, quem sabe, basear alguma pergunta nestes dados. Então fui entrando, ainda incrédulo, achando que estava sonhando. Na verdade, ainda acho que estou.

A ficha de ver os bastidores da segunda maior competição de basquete do mundo ainda não caiu. Talvez nunca vá cair. O técnico do Maccabi Tel Aviv, Neven Spahija, foi cirúrgico ao dizer que as equipes estavam em planetas diferentes. E eu, Rodrigo, 30 anos de idade na cara, estava fora de órbita. Mas em breve eu volto. ​​Para a Terra e para a Arena. Quando isso acontecer, dou novo alô pra vocês.

Pitadas sobre a Euroliga:

a) Faltam apenas seis jogos para a fase inicial terminar e tem muita coisa em aberto. Apenas CSKA e Olympiakos confirmaram suas vagas com antecedência para os playoffs até o momento (os oito primeiros colocados avançam pro mata-mata);

b) A 24ª rodada foi uma das mais importantes até aqui. Além do jogo entre israelenses e russos, mais dois confrontos chamaram a atenção: Real Madrid 83-86 Fenerbahce e o clássico grego Panathinaikos 85-87 Olympiakos. Equilíbrio total no aquecimento rumo ao Final Four, que este ano será em Belgrado, na Sérvia, entre 18 e 20 de maio;

c) Parabéns ao craque esloveno Luka Doncic, do Real Madrid, pelo aniversário na última semana. São 19 anos de muito futuro pela frente. A NBA que o diga…