Topo

Bala na Cesta

Simeone do basquete brasileiro, Gustavo de Conti está perto de levar Paulistano a nova final do NBB

Fábio Balassiano

13/05/2017 08h39

Jogando em casa, o Paulistano teve outra atuação coletivamente excelente ontem à noite pela semifinal do NBB. Fez 82-72 contra o Vitória, abriu 2-0 no duelo, está a apenas uma vitória de chegar à decisão do campeonato e segue jogando um basquete que mistura a explosão da juventude de Lucas Dias, Georginho (ausente na sexta-feira devido a infecção intestinal), Yago, Mogi e Arthur Pecos a experiência de Hubner, Jhonathan, Eddy, Renato, entre outros. O jogo 3 será amanhã também em São Paulo (11h, Sportv).

Mais do que o time, ontem me peguei pensando na semelhança que há entre dois técnicos que admiro loucamente e que colocaram suas agremiações em um patamar muito maior que tinham antes de suas chegadas. Treinador do Paulistano, Gustavo de Conti é figura frequente aqui neste blog. Quase sempre elogiado, o jovem comandante de 37 anos é estudioso, detalhista e está prestes a levar o time que dirige há sete temporadas a segunda decisão de NBB de sua história (a outra foi em 2014 quando perdeu do Flamengo em jogo único no Rio de Janeiro). Gustavo é conhecido não só por fazer boas campanhas, mas por ter sempre uma equipe organizada em quadra, com variações táticas constantes, defesas bem pressionadas e atletas jogando quase que todas as noites a 100% de suas capacidades. Não são poucos os jogadores que evoluem muito em suas mãos e se valorizam quando jogam sob seu comando. Desmond Holloway, Kenny Dawkins, Pedro, Gemerson, entre tantos outros, tiveram saltos de qualidade em suas carreiras quando foram liderados por Gustavinho. Isso tudo com orçamentos absurdamente baixos, jogando quase sempre em campo neutro (até essa temporada, quando o belíssimo trabalho da agência de marketing esportivo Old Coach transformou o clube de arquibancadas vazias em um caldeirão difícil de aturar pros adversários) e sem nenhum holofote da grande imprensa, que se surpreende quando o CAP avança mais do que se supõe.

Como parte que também gosto, dá pra destacar a sua forte personalidade. Ninguém é há tanto tempo treinador, vencendo preconceitos contra a idade ("como pode alguém tão novo ser técnico de uma equipe principal?" é uma das perguntas que ele mais deve ter ouvido em sua vida) e desconfianças frequentes, sem um "topete" enorme e uma confiança incrível em si mesmo. De quando em vez há o erro, o exagero, como quando ele cometeu antes da série contra Franca nas quartas-de-final (ele mesmo admitiu que passou do ponto nas palavras e pediu desculpas), mas creio que faça parte do normal aprendizado de alguém tão jovem assim. Há quem o ache arrogante. Eu prefiro chamar de confiante. Em uma sociedade brasileira que gosta do falso humilde, ou do acomodado, quando alguém totalmente "fora da zona de conforto" e fora dos padrões aparece há um choque de realidade mesmo. É natural.

O perfil de Gustavo de Conti é parecido pra caramba com o do argentino Diego Pablo Simeone, que brilha com o Atlético de Madri na Espanha e na Europa. Inquieto, indigesto, alucinado pelo que faz, destemido e com times absurdamente organizados (principalmente na defesa), ele conseguiu colocar o Atleti entre os grandes do continente mesmo com folhas salariais ou grana pra investir em contratações menores que as de seus principais rivais. Foram três semifinais de Champions League em quatro anos (mais do que gigantes como Barcelona, Manchester City, Arsenal, Manchester United etc.), duas finais, um título da Liga Espanhola, inúmeras outras conquistas, atletas valorizados e uma torcida que o venera. O argentino Simeone é mais um dos colchoneros em campo e isso faz dele um técnico bastante especial e reconhecido no mercado.

Tanto em relação a Simeone (desde 2011 no Atleti) quanto a Gustavo de Conti fica a dúvida se eles permanecerão em seus times por muito tempo mais. Os dois desempenham as suas funções há anos em suas equipes e vira e mexe são cortejados por propostas de times com potencial de investimento mais alto.

Até o momento existem apenas especulações e a certeza de que o trabalho de ambos é excepcional. O Atleti de 2017 incomodou na Champions League e ficou perto de mais uma final. O Paulistano pode ir ainda mais longe no NBB mais surpreendente da história. Está a um jogo de jogar a sua segunda decisão em quatro anos e pode, sim, sonhar com o inédito título para o clube.

Graças ao meticuloso e brilhante trabalho de Gustavo de Conti e sua comissão técnica.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.