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Bala na Cesta

Seis motivos pra entendermos por que tantos recordes são batidos na NBA atualmente

Fábio Balassiano

11/04/2017 06h20

A temporada regular da 2016/2017 da NBA chega ao fim amanhã com 29 dos 30 times com média de 100 ou mais pontos (o Dallas Mavs é a exceção da regra), com um jogo de 70 pontos de Devin Booker, com 12 franquias acertando 10 ou mais bolas de três por noite (feito inédito), com um jogador tendo média e recorde de triplos-duplos em uma única temporada (Russell Westbrook) e muito mais.

São muitos e muitos recordes sendo quebrados todos os dias na NBA, né? E o que explica isso? Pensei em alguns fatores que ajudam a compreender o que está por trás das marcas que estão sendo superadas pelos atletas da melhor liga de basquete do planeta.

1) Jogadores mais polivalentes -> Este é um fato cristalino. Se antes havia os grandes especialistas, como Dennis Rodman, um fenômeno defensivo e dos rebotes, hoje em dia cada vez mais os atletas sabem fazer de tudo. É óbvio que há os fora de série em alguns fundamentos, como Steph Curry nas bolas de três pontos, mas não vemos apenas Russell Westbrook, um armador, dominando pontos, rebotes e assistências mas também caras como Nikola Jokic (foto), pivô do Denver Nuggets sendo o responsável (sim) por armar as jogadas de seu time. Tem muita gente que ainda não se deu conta, mas a época do "armador arma, ala arremessa, pivô faz bloqueio e ponto pertinho da cesta" já acabou faz tempo. E se todos fazem tudo, a chance de recordes serem quebrados fica potencializada.

2) Defesas inexistentes -> Se por um lado os atletas estão cada vez mais preparados, seja no lado técnico ou no lado físico, também é verdade que as defesas da NBA hoje em dia são verdadeiros "queijos suíços" (cheios de buracos). Ajuda o fato de que as arbitragens quase não permitem contato, motivo pelo qual os jogadores das décadas de 80 e 90 cansam de dizer que se atuassem atualmente seriam desqualificados com seis faltas na metade do primeiro período. Jogadores como DeMar DeRozan, do Toronto, por exemplo, se beneficiam assustadoramente disso. Batem pra dentro do garrafão, recebem um mínimo encostão e a arbitragem apita falta. O jogo fica mais chato, pois uma das belezas do jogo é o contato físico, os arremessos saem totalmente livres e pouco contestados e há poucos duelos inesquecíveis entre atacante e defensor nos últimos anos.

3) Ataques insanos -> Junte os itens 1 e 2 e você deve imaginar o resultado disso. Os ataques de hoje são cada vez mais incríveis. A gente olha um Warriors jogando, um Houston Rockets, um Cleveland jogando e se pergunta se em algum momento eles irão chegar a média de 130 pontos por jogo – antes julgava impossível, mas hoje não mais. Com espaço, os setores ofensivos são capazes de doutrinar as marcações adversárias, pontuar com facilidade e gerar números absurdos noite após noite. Individual e coletivamente.

4) Jogo mais rápido -> Coloque este item aqui na conta de Mike D'Antoni. Quando era técnico de Phoenix ele criou um sistema chamado "Sete segundos ou menos", uma tática para se arremessar com sete ou menos segundos de posse de bola. O que era exceção no começo do século virou moda hoje em dia, principalmente no agora seu Houston Rockets que tem James Harden comandando as ações. Nem todos com esta velocidade toda, mas todos com bastante aceleração nos sistemas ofensivos sem dúvida alguma. O jogo está absurdamente rápido, com os times voando da defesa para o ataque e a velocidade com que as jogadas são finalizadas assusta. Quanto mais rápido o jogo, mais posse de bola. Quanto mais posse de bola, mais pontos disponíveis. Quanto mais pontos, mais recordes são possíveis de serem quebrados. Isso talvez explique o fato de os pivôs gigantescos estarem quase saindo de linha. O jogo ficou ligeiro demais pros gigantes, que não só precisam correr mas também necessitam saber passar, arremessar e tudo mais que não eram cobrados anteriormente.

5) Os "arremessos longos de 2 não existem mais" -> Um dos esportes mais estudados do mundo, o basquete e seus gerentes-gerais passaram a dissecar o esporte. E descobriram os "três ataques" do jogo moderno. Hoje em dia são aceitos tranquilamente 3 jogadas: contra-ataque, cestas de perto do aro (maior potencial de conversão) e bolas de três, cujo valor é maior que o das bolas de 2. Um dos reflexos disso é que não vemos mais arremessos de dois pontos de média ou longa distância. Aqueles que fizeram a vida de Michael Jordan e Kobe Bryant, por exemplo. O raciocínio hoje é: se é pra arremessar de longe, como Kobe e Jordan faziam, vale mais a pena dar um passinho pra trás e arriscar uma bola com valor maior (um ponto a mais com chance de acerto quase idêntica). O Warriors, campeão em 2015 e vice em 2016, é consequência direta disso. O Houston Rockets também. Nunca se arremessou tanto de longe da NBA e não é só porque há inúmeros gatilhos certeiros nos times. Hoje em dia as equipes são estimuladas a abrir a quadra para tentar bolas longas – e que valem mais. Com isso as pontuações sobem a níveis inimagináveis.

6) A individualização do jogo -> A cada temporada que passa, transforma-se no mais individualizado dos jogos coletivos. A definição não é minha, mas sim de Marcel de Souza, com quem conversei ontem. E Marcel continua: "Nunca os jogadores franquias foram tão individualistas como agora. Mesmo o Westbrook, triplo duplo em forma de homem, transformou cada rebote e cada assistência em uma ação de igual valor de uma cesta. Jogadores desse tipo têm um elenco especializado em valorizar o atual tipo de atuação do jogador(es) franquia. Vem daí o aumento do número de recordes".

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