Topo

Bala na Cesta

Infância sem pai e mãe viciada em drogas - como Dwyane Wade se tornou ídolo na NBA

Fábio Balassiano

17/01/2017 05h00

wade1Três vezes campeão da NBA pelo Miami Heat, MVP dos playoffs em 2006, 12 vezes All-Star, cinco vezes finalista, vezes medalhista de ouro com a seleção norte-americana (2008), jogando no time de sua cidade natal (o Chicago), considerado um dos melhores de todos os tempos e com mais de US$ 150 milhões recebidos em salários em mais de uma década no melhor basquete do mundo. Dwyane Wade comemora 35 anos hoje, mas sua vida nem sempre foi fácil. O craque do Bulls, que enfrenta nesta noite o Dallas Mavs em casa, teve uma infância sofrida ao ser abandonado pelo pai logo depois de nascer e ter a mãe, presa diversas vezes, viciada em heroína, álcool e cocaína. O esporte literalmente foi a sua tábua de salvação.

wade20Nascido em Chicago em 17 de janeiro de 1982 no South Side de Chicago, Dwyane Tyrone Wade é filho da conturbada relação de JoLinda e Dwyane Wade Sr. Aos 18 anos, em 1977, JoLinda já tinha dois filhos. Cinco anos mais tarde viria o (agora) mais famoso dos rebentos. Wade Jr. nasceu em um bairro pobre, e segundo ele mesmo conta em seu livro "A Father First" não foram poucas as vezes que ele viu corpos baleados jogados em um lixão a poucos metros de sua casa. Se isso não fosse o bastante, com 4 meses de vida seus pais se separaram. A relação com seu pai passaria a existir, na verdade, quase uma década depois. Divorciada, JoLinda se mudou para a casa da mãe, mas as dificuldades financeiras logo apareceram. Afundada em dívidas, a mãe da família tornou-se viciada em drogas que variaram de cocaína, heroína a álcool.

wade3"Posso dizer que algumas vezes em minha vida eu vi as agulhas em volta da minha casa. Elas eram utilizadas pela minha mãe para consumir drogas. Eu em muitas ocasiões vi minha mãe fazer uso delas antes de as agulhas ficarem soltas pela casa. Eu vi um monte de coisas que minha mãe nem sabia que tinha visto quando criança", contou Wade em seu livro. Aos 6 anos, a criança viu a polícia invadir a sua casa em busca de sua mãe, que cometera inúmeros delitos. Aos 9, sua irmã mais velha, Tragil, mentiu pra ele: disse que iriam ao cinema ver o novo filme da Disney, mas na verdade os dois foram mesmo para a nova casa do pai. Dwyane Wade Sr, sargento do exército, havia se casado pela segunda vez e passado a morar em Robbins, um vilarejo de 5 mil habitantes nas cercanias de Chicago. Naquela altura, o jovem Wade se cercaria de mais cuidados, conseguiria ir a escola de forma mais tranquila e passaria a jogar os dois dois esportes favoritos dele – basquete e futebol americano. O contato com a mãe, porém, diminuiria. JoLinda tentava se recuperar em clínicas de reabilitação e trabalhos voluntários, mas em 1994 foi presa por tráfico de drogas (crack e cocaína). Cumpriu as penas, mas descumpriu algumas regras e só saiu em definitivo em 2003, quando o filho acabara de entrar na NBA. A relação de mãe e filho ficou abalada e hoje é apenas cordial, amistosa. O mesmo não se pode dizer da com o pai. Wade Jr. e Wade Sr. se dão muito bem frequentemente o patriarca é citado pelo jogador do Bulls em entrevistas.

wade200Destaque no segundo grau do Harold L. Richards, em Illinois, Dwyane Wade, já com quase 1,90m de altura aos 16 anos, recebeu um convite do técnico Tom Crean para jogar na Universidade de Marquette. Era a sonhada bolsa de estudos que poderia mudar a sua vida. Naquela época, Wade diz que nem pensava em ser jogador profissional de basquete, mas sim em ter um diploma universitário que possibilitaria uma vida diferente a sua família. Logo em seu primeiro ano na faculdade, uma notícia não muito boa: o ala-armador não poderia entrar em quadra porque suas notas eram muito ruins. Acostumado a situações complicadas, Wade não se abalou, entrou em um sistema de monitorias e na temporada 2001/2002 poderia estrear. Suas médias de 17,8 pontos como calouro logo chamariam a atenção dos times da NBA. No ano seguinte, em 2002/2003, os 21,5 pontos e a ida ao Final Four universitário encantariam a ninguém menos que Pat Riley, um dos manda-chuva do Miami Heat.

wade100Técnico do Lakers de Magic Johnson nos anos 80, Pat Riley fez de tudo para selecionar Wade no Draft de 2003. Ficou feliz quando, com a quinta escolha, pode levar o camisa 3 para a Flórida, onde o atleta ficaria muito ligado à comunidade, sendo um dos jogadores mais carismáticos da equipe e sempre pronto para os conhecidos trabalhos sociais da NBA.

A partir daí, os resultados de Dwyane Wade falam por si. Já são 13 temporadas na NBA, e em todas elas o jogador de 1,93m que em 2016/2017 estreia vestindo a camisa do Chicago Bulls de sua cidade-natal teve no mínimo 16 pontos de média. Além dos títulos, ele tem a distinção de ser o maior ídolo da história da franquia Heat, de onde saiu justamente porque Riley não quis pagar US$ 20 milhões por ano. Os Bulls quiseram, o camisa 3 não se sentiu valorizado e decidiu mudar de ares. Em seu retorno, as homenagens foram muito emocionantes (veja vídeo abaixo).

wade3000Muito ligado a família, Wade é pai de três filhos (Zaire, Zion e Xavier), é casado com a atriz Gabrielle Union e muito conhecido por suas ações de filantropia. Tem uma fundação, a "The Wade's World Foundation", participa anualmente das ações ZO's Foundation, de seu ex-companheiro Alonzo Mourning, reconstruiu bibliotecas públicas e doou mais de US$ 1 milhão para reconstruir o ginásio da Universidade de Marquette.

Campeão na quadra, Wade sempre gosta de dizer que é um sobrevivente devido às dificuldades vividas em sua infância.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.