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Bala na Cesta

O sublime começo de temporada de Russell Westbrook, o rei do triplo-duplo na NBA

Fábio Balassiano

06/12/2016 06h00

russ3Seis triplos-duplos seguidos (o último veio ontem na vitória contra o Atlanta Hawks fora de casa por 102-99 com 32 pontos, 12 assistências e 13 rebotes). Na temporada já são 11 em 22 duelos (a soma de TODOS os demais atletas é de 12). Com exceção de Oscar Robertson, o jogador mais rápido a chegar a dez triplos-duplos em uma temporada (fez em 21 partidas; Big O em 12). Média de triplo-duplo. Superou LeBron James na lista dos atletas com o maior número de triplos-duplos (48), já está em sexto e tem tudo para passar Larry Bird, o quinto com 59, ainda em 2016/2017. Dezenove deles foram conseguidos em três períodos ou menos, uma insanidade. Oklahoma City Thunder na zona do playoff no Oeste (e em quinto lugar com 14-8 e seis vitórias seguidas). Se quisesse poderia continuar a enumerar a série de feitos do, até agora, melhor jogador da temporada da NBA. Vocês sabem de quem eu estou falando, certo?

russ4Logo que Kevin Durant assinou com o Golden State Warriors eu cravei aqui e também no Podcast BNC que Russell Westbrook teria, ou tangenciaria, uma média de triplos-duplos na temporada 2016/2017 da NBA, feito alcançado apenas uma vez na história da liga. Foi com Oscar Robertson, um dos gênios supremos do basquete, em 1961/1962. O que eu sinceramente não imaginava é que Russ teria tantos triplos-duplos "gordos" com mais de 25, 30 pontos (dez de seus onze TD's foram assim), e que o Oklahoma fosse se adaptar tão bem a sua nova (e difícil) realidade. Ninguém perde um dos dez (cinco?) melhores atletas de basquete desse planeta e passa a ter uma nova vida normal, né?

russ1000É muito claro o que acontece em Oklahoma. A bola é de Russell Westbrook e ele toma as redes ofensivas – se isso já acontecia com Kevin Durant, dava pra crer que isso ocorreria agora sem KD por lá. Dois anos atrás, quando Durant teve uma série de lesões, foi uma espécie de preâmbulo do que aconteceria em 2016/2017. Ninguém que acompanha a NBA com afinco e há algum tempo pode dizer que está surpreso. Os números dele e o quinto lugar do Oeste estão aí pra provar que o resultado é extremamente positivo. São 31 pontos (atrás apenas de Anthony Davis), 11,3 assistências (o segundo, logo atrás de James Harden) e 10,9 rebotes (o único entre os quinze primeiros que não é ala ou pivô). Minimamente o rapaz produz 53 dos 107 pontos do Oklahoma por noite (a metade portanto). Isso sem falar nos passes indiretos e no que seus rebotes produzem. É um verdadeiro absurdo o que ele vem fazendo. Westbrook domina as ações de ataque, força lances-livres (10,4 por jogo) e tenta envolver seus companheiros na medida do possível. Quando não dá, ele decide sozinho e acaba se dando bem.

russ100Isso tudo explica, claro, o número excessivo de desperdícios de bola (5,7) que ele registra por noite (o maior índice da NBA atual). Não considero, sinceramente, isso um problema. Para quem fica muito tempo com a pelota na mão, a chance de desperdiçá-la é maior mesmo. Não admirá-lo por isso é um erro e uma perseguição que beira a loucura. Na temporada 1988/1989 o armador que seria eleito MVP teve 4,1 erros por noite. Em 2016/2017, Russ tem 5,7. O nome do MVP em 1989? Magic Johnson. Errar não é o problema. Não tentar, como ensinou Michael Jordan, sim. O equilíbrio é sempre o melhor dos remédios, mas quem tem o camisa 0 no elenco deve saber conviver com suas vantagens competitivas (seu físico descomunal ENGOLE o dos armadores rivais), com sua intensidade (o time fica incendiado com seu espírito) e também com seus problemas.

russ5Também dava pra supor que seu volume de arremessos subiria. Mas não é nada de tão assustador assim. Em 2014/2015 foram 22 chutes por noites. Em 2015/2016, 18,1. Em 2016/2017, são 24,2. É claro que seu percentual de conversão diminuiria (caiu de 45 para 42%), porque as defesas dobram, triplicam e se amontoam em cima do cara para evitar uma catástrofe maior do que a já aplicada pelo armador (sim, armador…) do OKC, mas a queda do percentual de arremessos corretos do camisa 0 acaba sendo também um dos motivos pelos quais seus companheiros têm brilhado. E explico.

west2Com exceção de Russ, no elenco do Thunder não há nenhum craque, mas todos estão se saindo muito bem e se aproveitando do fato de que a marcação fica concentrada em Westbrook em 99% dos casos. Se isso não é melhorar os companheiros, algo que muita gente usa como argumento para criticar o rapaz, eu não sei mais o que é. Victor Oladipo foi contratado em uma troca pra lá de polêmica envolvendo Serge Ibaka, o ala vai se acomodando e registrando 17,1 pontos por jogo. Andre Roberson é o melhor marcador do time desde a temporada retrasada, e agora tem se arriscado mais no ataque (6,4 arremessos por noite contra 3,9 em 2015/2016). O calouro Domantas Sabonis em vários momentos lembra a habilidade do pai (Arvydas) nos passes e tem se esforçado loucamente para marcar bem no garrafão, algo difícil para quem chega e tem que trombar contra Blake Griffin, Draymond Green e afins. Steven Adams está cada vez mais seguro como pivô titular do time e já tem 10,7 pontos e 7,8 rebotes de média. No banco, Enes Kanter está se saindo bem com 13 pontos e Anthony Morrow, Jerami Grant, Alex Abrines e Joffrey Lauverne completam bem a rotação.

russ6Vale destacar o técnico Billy Donovan, que em seu segundo ano na NBA deu carta branca para Russell Westbrook (quem não daria?). Ao mesmo tempo Donovan encorajou seus atletas a subir o nível para manter o Thunder na zona de playoff mesmo sem Kevin Durant. No ano passado o Thunder tinha três no elenco com dígitos-duplos em pontos. Nesta temporada, quatro. Em 2015/2016, 5 jogadores arremessavam 6+ bolas por partida. Em 2016/2017, 7 chutam ao menos 7 vezes. Isso não é coincidência.

Está muito claro que o Thunder vai tão longe quanto o físico e a habilidade de Russell Westbrook aguentarem. Muita gente tem falado que nos playoffs ambos (time e Russ) chegarão mortos de cansados, mas a verdade é que para uma franquia que perdeu Kevin Durant abruptamente chegar à pós-temporada já é um baita mérito.

russ2Por incrível que pareça, registrar a média de triplo-duplo, ou ficar muito perto dela, é exatamente o que o OKC precisa para jogar o mata-mata da NBA. Quer ver exatamente isso aí na prática? Simples: quando Russ chegou a dígitos duplos nos três fundamentos o Thunder venceu 9 vezes e perdeu apenas duas. Com a benção de Michael Jordan, que recentemente foi a Oklahoma para a cerimônia que colocou o armador de 28 anos no Hall da Fama local e encheu o rapaz de elogios pela sua coragem e audácia, o camisa 0 vestiu o uniforme de líder genial e promete não tirar mais.

Toda franquia da NBA queria ter um craque assim para chamar de seu. Sorte do Thunder.

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