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Bala na Cesta

Degrau a degrau, Mogi coroa brilhante trabalho de longo prazo com título da Sul-Americana

Fábio Balassiano

02/12/2016 01h00

mogi1No dia 24 de novembro de 2012 Mogi estreava no NBB vencendo a Liga Sorocabana por 71-59 no ginásio Hugo Ramos. Foi o primeiro jogo na principal competição do país após hiato de sete anos (2005 foi o último Nacional da CBB disputado). A partida foi vista por cerca de 2.000 pessoas, de acordo com a Liga Nacional de Basquete .

Quatro anos se passaram e muita coisa mudou em Mogi. Com exceção de Guilherme Filipin, autor de 12 pontos naquele 24 de novembro de 2012, baita cara, herói da resistência e jogador mais identificado com o projeto desde a sua recriação, nenhum atleta está mais no elenco. A estrutura mudou, pra melhor. O investimento subiu. O espanhol Paco Garcia veio, viu, ajudou a desenvolver e saiu antes de começar a temporada passada. Vieram reforços de peso (Shamell, Tyrone, Larry Taylor, Caio Torres etc.).

mogi10E vieram, neste começo de temporada 2016/2017, os títulos que estavam engasgados há muito tempo para equipe, diretoria, técnicos e torcedores. E vieram ao mesmo tempo. E vieram pra lavar a alma. E vieram com a cara do crescimento de Mogi nestes quatro anos. Com autoridade. Com seriedade. Com trabalho. Com empenho. Com o apoio da torcida. Com emoção. Com homenagem à tragédia da Chapecoense no momento de maior glória da história do basquete da cidade. Com vitória categórica em solo argentino contra um rival excelente formado por garotos de muito potencial. Nos últimos anos foram eliminações dolorosas, a perda do título paulista em casa em 2015 no jogo 5 diante da torcida e um jogo 4 pra fechar contra o Flamengo na semifinal do NBB passado que não se concretizou. Na hora as pessoas não sentem, mas o sofrimento cria cicatrizes que ajudam a formar um espírito vencedor, justamente como foi com os mogianos.

mogi5Dá pra dizer desde já que esta é a temporada de Mogi. Já são duas conquistas e a chance de fazer um NBB muito bom para enfim chegar a uma final. Primeiro foi o título do Paulista contra Bauru, um dos maiores rivais de Mogi nos últimos anos e ex-time do comandante Guerrinha. E nesta quarta-feira a Liga Sul-Americana, quando o time foi BRILHANTE ao bater o Bahia Blanca, na Argentina, por 84-81 para se sagrar, de forma inédita, campeão invicto da competição. Shamell foi merecida e obviamente o MVP (craque de bola!) e dá pra lamentar apenas o fato de que com a suspensão da FIBA à CBB os clubes brasileiros não possam disputar a Liga das Américas, tentando assim manter a hegemonia continental. Dos últimos oito campeões entre Sul-Americana e Liga das Américas, sete são times do país. Na Sul-Americana, Brasília, Bauru, Brasília e Mogi desde 2012. Pinheiros, Flamengo e Bauru ganharam a Liga das Américas entre 2013 e 2015. O Guaros de Lara, da Venezuela, foi o único a furar este bloqueio ano passado.

guerra2Outro nome importante para se comentar é o de Guerrinha, agora bicampeão da Liga Sul-Americana como técnico (venceu em 2014 com Bauru). O treinador foi injustamente, em minha concepção, demitido pela diretoria bauruense no começo da temporada passada. Ficou meio sem chão, meio sem rumo, e foi cuidar de sua vida. Tentou montar um projeto no Corinthians, mas não deu. Surgiu o convite de Mogi para que ele comandasse a equipe nesta temporada com a missão de alçar o projeto não a outro patamar, mas ao patamar de ser vitorioso (pois os mogianos precisavam de um caneco urgentemente). E Guerrinha conseguiu. Pode-se criticar o que quiser do cara, mas ele é um baita personagem, uma pessoa que trabalha duríssimo e que SEMPRE extrai o melhor dos elencos que tem em mãos. Larry Taylor voltou a jogar muito bem, Tyrone está mais intenso do que nunca, Shamell está até marcando bem, Elinho, Vithinho, Filipin e Fabricio formam uma ótima segunda unidade e Caio Torres, quando bem fisicamente (o que é o caso), torna-se uma arma importantíssima em qualquer clube. Foi com esse grupo que Guerrinha voltou a sorrir. Foi com essa galera que Guerrinha fez o povo de Mogi sorrir. Se ele não precisa provar nada pra ninguém, é fato que essas duas conquistas servem para lavar também a alma dele.

mogi2Por fim, vale dizer que é difícil planejar e projetar os próximos passos de Mogi das Cruzes. O que vale a pena, agora, é olhar pra trás e ver o que todos na cidade sofreram para recolocar o time no patamar dos grandes campeões do basquete para saborear essa conquista como ela deve ser saboreada.

Já são quatro anos consecutivos de um projeto que sempre sobe, que sempre cresce, que sempre tem um ingrediente novo, e bom, para ser adicionado à receita que já vinha dando certo. Títulos normalmente são fotos e troféus que os clubes colocam nas paredes de suas salas. Os do Paulista e o da Liga Sul-Americana, para Mogi, são bem mais que isso. São a coroação de um trabalho que começou lá atrás e que foi subindo degrau a degrau até alcançar o status deste início de temporada.

Mogi pode se orgulhar. Não por ter uma das torcidas mais fanáticas do Brasil. Mas por poder bater no peito e dizer que o seu projeto de basquete é muito bom. Muito bom, consistente e agora vencedor.

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