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Bala na Cesta

Raptors, a mágica dos playoffs e o perigoso jogo 5 pro Cavs hoje à noite

Fábio Balassiano

25/05/2016 06h00

raptors1Quando saiu de Ohio na semana passada com 0-2 na bagagem ninguém em Toronto esperava que dias depois a série regressasse a Cleveland com 2-2 para um jogo 5 agônico como o desta noite (21h30, com ESPN). Para falar a verdade, pouca gente esperava que a série fosse voltar pra casa do Cavs, tamanho foi o domínio de LeBron James e companhia nos dois primeiros jogos (115-84 e 108-89). Mas os Raptors se recuperaram, jogaram muito bem as suas duas partidas em casa (99-84 e 105-99) e agora a pergunta que fica é: como os Cavs jogarão pressionados pela primeira vez nesta pós-temporada? Uma derrota em casa e o time canadense faria um jogo 6 diante de seu fanático torcedor para (vejam só!) ir às finais da NBA.

biyombo1A transformação do Toronto passa obviamente por DeMar DeRozan e Kyle Lowry, que se tornaram os primeiros jogadores desde Terry Porter e Clyde Drexler a conseguir mais de 30 pontos (cada) em uma mesma partida final de conferência desde 1992. São as duas estrelas do Raptors, e os 35 pontos de Lowry e os 32 do DeRozan acabam tirando um pouco da tristeza que foi vê-los amassando o aro no começo desta pós-temporada. Ninguém, porém, representa melhor essa recuperação canadense que Bismack Biyombo.

biyombo2Emulando Dikembe Mutombo, o congolês de 23 anos teve 26 rebotes e 4 tocos no jogo 3 e 14 rebotes e 3 tocos no jogo 4. Mais do que ter bons números, a presença dele perto da cesta faz com que o Cleveland arremesse cada vez mais de longe, algo que o técnico torontino Dwane Casey desenhou em sua prancheta após o estrago das duas primeiras partidas. Nas cordas após o 0-2 e levando surreais 106 dos 213 (49%) pontos dentro do seu garrafão, Casey ordenou que Biyombo protegesse seu aro loucamente. Sem o lituano Jonas Valanciunas, o camisa 8 teria a missão de reduzir os pontos fáceis do Cavs. E ele está conseguindo. Não é coincidência, inclusive, que algumas pancadas tenham sobrado em cima de LeBron James e Kyrie Irving. O recado de Casey e Biyombo era: "Cestas com alto potencial de conversão não serão mais permitidas. Quer fazer ponto na gente? Arremessa de mais longe. Se vocês acertarem a gente vê o que faz". A dúvida era se o Cavs morderia a isca. Mordeu.

Cavs1Confiante após matar tudo de fora contra o Hawks e com medo de enfrentar o sensacional Biyombo no garrafão, os arremessos dos Cavs têm saído cada vez com maior distância (figura ao lado). Ninguém gosta de ser esmagado em uma quadra de basquete por um rapaz do tamanho do congolês, e o jogo de finesse de Kyrie Irving, JR Smith e Kevin Love encontra um paredão de 2,08m na área pintada pra piorar tudo. O resultado? Os chutes do Cavs têm saído quase sempre do perímetro – e cada vez menos certeiros. O problema não está "só" na queda de 35 para 31% nas bolas de três pontos entre os duelos 1 e 4 do confronto, mas sim nas quantidades.

biyombo2Na partida que abriu a final do Leste, o Cavs tentou 20 vezes de fora (fez 7). Na quarta partida, 41 tiros longos (converteu 13). Na proporção, dá praticamente a mesma coisa, mas a insistência por um arremesso de aproveitamento nem tão magnífico assim prova que atacar a cesta quando contra Bismack Biyombo não tem sido algo simples para os Cavs. Se nos jogos 1 e 2 quase metade dos pontos vieram no garrafão, nos dois seguintes apenas 56 dos 183 anotados (30%) foram de perto da cesta. Quer mais um resultado disso? Pela primeira vez na pós-temporada os comandados de Tyronn Lue não fizeram 100 pontos (e no jogo 4 repetiram a dose ao chegar a 99). Como mostra a figura ao lado, o +/- de Biyombo, que contestou 29 arremessos nas duas vitórias do seu time (ou seja, marcou 29 arremessos dos rivais, que tiveram 27% de aproveitamento nestes chutes), é um dos indicativos do sucesso do Toronto. Quando o cara está na quadra é difícil do Cleveland pontuar.

love1As quedas de Kyrie Irving (23/39 nos triunfos e 14/40 nos reveses nos chutes) e Kevin Love (9/16 nas vitórias e 5/23 nas derrotas nos arremessos) são consequência, e não causa, do plano de jogo do Cleveland (escolha causada por um ajuste do Toronto). O Cavs simplesmente parou de atacar a cesta. Parou de procurar os espaços para tentar converter arremessos de menor possibilidade de conversão. Acomodou-se com a vantagem e passou a jogar um jogo sem contato, sem fluência, baseado simplesmente em arremessos longos. Nem o começo de quarto período perfeito em que acertou seus nove primeiros arremessos salvou o time da derrota na segunda-feira. O estrago, principalmente o mental, já estava feito. O Raptors conseguiu modificar não só a final do Leste, mas transformá-la em uma série. Os canadenses mudaram o estilo tático da franquia de Ohio dando confiança para Lowry e DeRozan atacar a cesta, mas sobretudo defendendo loucamente posicionando Bismack Biyombo como um cadeado perto da cesta.

biyombo3O resultado é que teremos um jogo 5 com 2-2 no placar do confronto e com o Toronto sabendo exatamente o que precisa fazer para vencer pela primeira vez o Cleveland na temporada 2015-2016 (três derrotas até o momento).

Agora é a hora de Tyronne Lue, o técnico do Cavs, aparecer. O ajuste de Dwane Casey foi feito entre o segundo e o terceiro duelos. Para o desta quarta-feira, Lue precisa recolocar o Cavs para atuar da maneira que estava dando certo até semana passada. Do contrário, os canadenses poderão empurrar LeBron James e companhia para perto do precipício.

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