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Bala na Cesta

Omelete sem ovo, Boston Celtics já está em terceiro no Leste

Fábio Balassiano

04/02/2016 07h30

stevens1Primeiro você clica aqui e olha o elenco do Boston. Depois aperta aqui e veja em que posição os Celtics estão na temporada 2015-2016 da NBA. Sim, é isso mesmo. Beira o inacreditável que a equipe do excelente Brad Stevens (foto) esteja agora com 29-22 (venceu ontem o Detroit em casa por 102-95 com seis jogadores em dígitos duplos e chegou ao sétimo triunfo nos últimos oito jogos) e já na terceira posição do Leste, atrás apenas do Cleveland Cavs e do Toronto Raptors, mas à frente de Chicago Bulls e Miami Heat, duas franquias apontadas sempre como as "bambas" da conferência.

thomasO mais surreal disso tudo é que as três principais estrelas do Boston Celtics nesta temporada tiveram posições BEM modestas em seus Drafts. Líder do time em pontos (21,5) e assistências (6,6), o baixinho Isaiah Thomas (de 1,75m e na foto) foi o ÚLTIMO no Draft de 2011 (sim, é isso mesmo, ele veio na 60ª escolha pelo Sacramento Kings). "Rato de treinamento", Isaiah foi crescendo no Kings, onde chegou a ter a incrível média de 20,3 pontos em 2013/2014, não foi muito bem em Phoenix e, trocado para os Celtics, lidera a franquia deste o campeonato passado. Seu prêmio? Ter sido escolhido para o All-Star Game de Toronto na próxima semana, tornando-se o jogador com pick mais baixo de Draft a alcançar tal feito.

bradleyOutro que tem jogado muito bem é Avery Bradley. Escolhido em 2010 na posição 19, Bradley ainda viveu os tempos derradeiros do Big 3 (ou 4, com Rajon Rondo) do Boston. Treinou com Ray Allen, Paul Pierce e Kevin Garnett, e teve espaço (e a paciência da franquia) para ir evoluindo. Saiu-se 14,9 pontos em 2013/2014 de média, caiu um pouco no campeonato passado (13,9), mas em 2015/2016 Bradley tem sido muito bom no lado ofensivo (14,8 pontos) e soberbo na defesa ao contestar os arremessos de seus rivais no perímetro e também ao cobrir a marcação de Isaiah Thomas, que até se esforça, mas que devido a altura em vários momentos sofre para marcar adversários no post-up (jogo de costas pra cesta).

dupla1O bom de Bradley e Thomas é que, além de ainda estarem em franca evolução, seus contratos vencem apenas em 2017/2018, dando tempo para o Boston se planejar com seus 715 picks nos próximos anos sem muita pressa e sabendo que nas posições 1 e 2 há atletas de bom nível e com margem de melhora. O mesmo pode-se dizer de Jae Crowder, grande revelação dos Celtics nesta temporada (um dos que mais me chamam a atenção no certame aliás). Contratado na troca que tirou Rajon Rondo do time verde em 2015, Crowder se tornou uma espécie de DeMarre Carroll (ex-Atlanta e agora no Toronto) de Brad Stevens e renovou recentemente por pouco (US$ 35 milhões por cinco anos).

crowderCrowder é o "capitão" defensivo da equipe, relegando seus oponentes a terríveis 36% nos arremessos. O cara consegue, também, marcar alas-pivôs mais baixos perto da cesta, e é o jogador que, nas extremidades, espera os passes das infiltrações de Thomas e Bradley. Escolhido na quarta posição da segunda rodada do Draft de 2012, Jae, de apenas 1,98m mas com potencial físico imenso, teve 9,5 pontos nos seus 57 jogos no campeonato passado e agora registra 14,3 pontos, 5,1 rebotes e 1,7 roubo por partida. Ótima média para alguém que mal jogava pelos Mavs (10 minutos em 2014/2015) e para quem tem evoluído a cada ano em seus arremessos (seus 32% nas bolas de fora já saltaram para 36% neste certame).

celticsComo se vê, quase metade dos 104,6 pontos por jogo do Boston sai do trio Thomas, Bradley e Crowder, que jamais poderia ser apontado como espinha dorsal de um time que estaria, a esta altura dos acontecimentos, na terceira posição do Leste (por mais instável que seja a conferência). Colocar o mérito dos Celtics apenas no trio seria incorreto, no entanto. A pergunta que deve ser feita é: como um elenco que tem, além destas três peças (nenhum craque!), atletas como Evan Turner, Kelly Olynyk, Jared Sullinger, Marcus Smart, Amir Johnson e Tyler Zeller está conseguindo ir tão longe?

celtics1O mérito do Boston, e o trabalho de Brad Stevens deve ser exaltado por isso a cada minuto, é que a franquia tem conseguido desenvolver os jogadores DURANTE a temporada da NBA, ganhando jogos e sem entrar em desespero para contratar uma grande estrela a qualquer custo (rumores já colocaram DeMarcus Cousins e agora colocam Dwight Howard como pivô dos Celtics – grande deficiência do elenco, aliás), não mexendo no planejamento de Danny Ainge, o gerente-geral que tem tido paciência para montar um time sem grandes loucuras.

celtics2Com Stevens, que saiu do basquete universitário há duas temporadas e parece não sentir a menor pressão de estar na NBA, a franquia saiu de 25 vitórias em 2013/2014 para possíveis 50 em 2015/2016. Uma baita aula de construção de elenco, de altruísmo dentro de quadra (são 24 assistências nos 39 arremessos convertidos por noite), de defesa forte (o time tem um dos melhores sistemas de rotação da NBA atual) e de como é possível jogar um basquete competitivo mesmo sem grandes estrelas.

NBA: New York Knicks at Boston CelticsSe é possível ir mais longe do que os Celtics têm ido assim (sem grandes craques)? Eu acho que não (infelizmente até), mas a realidade é que este Boston não "deveria" nem chegar aos playoffs. Criticá-lo por não ir longe em um eventual mata-mata é algo que não farei. Vale, pra mim, exaltar o que Isaiah Thomas e companhia têm feito nos Celtics nesta temporada, algo louvável em tempos de estrelas cada vez mais mimadas e de técnicos cada vez mais sem comando.

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