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Bala na Cesta

Instável, confuso e 'maluco' - como o Kings está na zona do playoff da NBA?

Fábio Balassiano

26/01/2016 08h30

cousins1O Sacramento entrou em quadra ontem à noite na NBA. Não era o jogo mais aguardado de segunda-feira (este foi o que o Golden State Warriors passou em casa contra o San Antonio Spurs por 120-90), mas apesar da derrota em casa diante de 17 mil pessoas na Sleep Train Arena contra o Charlotte na segunda prorrogação por 129-128 acabou servindo para ratificar os Kings na oitava posição do Oeste (20-24) em uma caminhada que nem o mais otimista torcedor poderia prever depois do início da temporada 2015/2016. Provando de boa fase, Rajon Rondo distribuiu 20 assistências, e DeMarcus Cousins finalizou a peleja com seu recorde pessoal de 56 pontos.

karl1Antes do campeonato escrevi aqui que em termos de talento ninguém poderia duvidar que o Sacramento chegasse enfim a um playoff que não vem desde 2006 (a última vitória em pós-temporada foi em 30 de abril daquele ano contra o Spurs). Só que aí a NBA deu a largada e com ela os problemas conhecidos do Sacramento brotaram como sempre brotam: DeMarcus Cousins tomando falta técnica a torto e a direito, Rudy Gay envolvido em rumor de troca na primeira semana do certame, Rajon Rondo tendo que se controlar para não entrar em rota de colisão com o técnico George Karl, uma frustrada contratação de Seth Curry para a ala e o retrospecto de 12-20 para fechar 2014.

divacMuita gente dava como certa uma mudança brusca de direção, com Vlade Divac indo ao mercado trocar o "doidão" Cousins pela primeira oferta que pintasse (o Boston seria o principal interessado) e tentando se livrar de Rudy Gay e seu contrato milionário (US$ 28 milhões pelos próximos dois anos). Longe de sua principal característica, Divac preferiu, com calma, remediar com o que tinha ao invés de negociar para receber o inesperado. E tem dado certo.

karl2Antes da derrota ontem contra o Charlotte eram cinco vitórias seguidas, 8-3 em 2015 e a oitava colocação do Oeste (aparentemente a disputa pela última vaga no playoff desta conferência ficará entre Kings, Jazz, Pelicans, Blazers e Nuggets). É válido citar o técnico George Karl, que agora é o quinto técnico com maior número de triunfos na temporada regular da história da NBA (1.156, atrás apenas de Pat Riley, Jerry Sloan, Lenny Wilkens e Don Nelson) e que teve paciência para encontrar a melhor formação sem jogar o elenco todo ao fogo, mas a boa fase do Sacramento passa necessariamente pelos ótimos momentos de Rajon Rondo e DeMarcus Cousins.

rondo1Rajon Rondo estava vivendo uma sequência de insucessos em sua carreira que muita gente já o havia descartado da NBA. Em uma época de armadores fortes, rápidos e muito pontuadores, estava difícil ver como o cerebral-porém-mão-de-pau líder do Boston campeão poderia se encaixar na liga. Ainda mais depois da terrível briga que teve em Dallas com Rick Carlisle ano passado. Depois de acenar com uma ida para o Lakers que não houve, o camisa 9 optou por assinar um contrato de apenas um ano com o Sacramento. Se desse certo, estaria em alta no mercado em 2016. Se desse errado, talvez fosse sua última chance. O começo do campeonato não foi animador. Além de bater de frente em algumas vezes com Karl, Rondo foi suspenso pela NBA em dezembro ao xingar o árbitro com uma ofensa de baixíssimo calão justamente em uma partida contra o seu ex-time (o Celtics) no México.

DeMarcus Cousins, Rajon RondoAli tudo parecia desabar, mas o armador conseguiu se equilibrar e voltar a jogar o melhor basquete. É o líder da NBA em assistências (11,6), o dínamo defensivo que sempre foi, o segundo com mais triplos-duplos (são 6, sendo dois nos últimos três jogos) e o mentor que DeMarcus Cousins nunca teve em Sacramento para lhe ensinar não sobre a melhor maneira de agir dentro e fora das quadra, mas para lhe dar alguns toques sobre leitura de jogo. Veja só no vídeo abaixo quando ele aponta para Cousins o que irá acontecer no ataque do Atlanta Hawks no último segundo da partida.

cousins5Se Rajon Rondo ajuda nos passes (e com um pouco de experiência e liderança), na pontuação quem está sobrando no Sacramento (e também na NBA como um todo) é DeMarcus Cousins. Disparado o melhor pivô da atualidade (pelo lado técnico da coisa, que isso fique claro), ele despeja 26,7 pontos por jogo e ainda contribui com 11,7 rebotes, 2,7 assistências e razoáveis 34,7% nas bolas de três (sim, o camisa 35 tem se arriscado de mais longe também, com 3,5 tentativas por partida nesta temporada). Já são 25 duplos-duplos do cara que desperta o pânico das defesas adversárias.

cousins6Aqui, aliás, vale citar um ponto. A entrada do calouro Willie Cauley-Stein no time titular em janeiro fez com que Cousins pudesse se preocupar mais em atacar a cesta, deixando grande parte do "trabalho sujo" da marcação perto do aro do Kings para o calouro (esta foi outra mexida interessante de George Karl). Com Boogie mais "solto", seus números subiram loucamente em janeiro (para 32,7 pontos e 13,7 rebotes), com direito a uma exibição de gala contra o Indiana Pacers na semana passada (48 pontos e 13 rebotes). Se mantiver a cabeça em ordem, algo que até o mês passado parecia impossível, ele e o Sacramento só terão a ganhar.

rudy1Além da dupla, Rudy Gay não pode ser esquecido. Considerado um "enganador de números" por muita gente (dizem que suas médias escondem suas deficiências na defesa e o não tão bom relacionamento que ele cultiva no vestiário – eu não sei bem se concordo com isso…), ele entrega 17,9 pontos, 6,8 rebotes e 46,6% de conversão de arremessos. Não considero desprezível um jogador que consegue média superior a 17 pontos há uma década na melhor liga de basquete do mundo, não. Saber que não é a principal opção ofensiva também ajuda, pois a pressão em cima dele fica menor e faz com que mais espaços surjam, como aconteceu na semana passada quando o ala matou uma bola decisiva em Utah.

casspiÉ importante falarmos também de Omri Casspi. Melhor amigo de Cousins, cabe ao israelense amansar a fera quando a cabeça do pivô vai para as nuvens e também matar as bolas de três quando a marcação dobra no gigante perto da cesta. Recentemente alçado a condição de titular, o ala de 27 anos responde com as boas médias de 14,5 pontos, 7,1 rebotes e 48% nas bolas de três quando começou as 17 últimas pelejas. Se não é um primor defensivo, ao menos tem potencial físico suficiente para incomodar os rivais e também para, quando necessário, atuar com o famoso "quatro aberto", deixando o garrafão livre para Boggie fazer seus drives.

marcoAlém dele, Marco Belinelli (foto) mostra-se uma boa opção vindo do banco (10,8 pontos) no perímetro (antiga deficiência da equipe), Darren Collison tem conseguido jogar muitíssimo bem substituindo ou junto com Rajon Rondo (12,7 pontos e 4,2 assistências) e o novato Willie Cauley-Stein, como disse acima, aos poucos se habitua a atuar com Cousins perto da cesta e a se virar sem ele quando o craque do time descansa um pouco. A média de 7,2 pontos e 6,6 rebotes é razoável para quem está começando, e sua presença defensiva deve ser destacada.

cousins20Irregular, com contratações de Divac nas férias que aparentemente não faziam muito sentido, instável no vestiário e liderado por dois seres cujo lado psicológico nunca foi o forte (Rondo e Cousins).

É assim que o Sacramento vai brigando pela oitava posição do Oeste. Até a próxima crise estourar, ninguém pode dizer que os Kings não poderão chegar aos playoffs depois de 10 anos.

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