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Bala na Cesta

'Camaleão', Gustavo de Conti arma invicto Paulistano brilhantemente no NBB

Fábio Balassiano

08/12/2015 05h45

gustavo10Grande surpresa há duas temporadas, o Paulistano teve 23-9 na fase regular, chegou à decisão do NBB contra o Flamengo e colocou o técnico Gustavo de Conti, eleito o melhor do campeonato, no radar de todo mundo. O jovem técnico (então com 34 anos) levou um elenco modesto à final utilizando a defesa forte, os tiros de Holloway, Pilar e Dawkins, alas abertos nas extremidades para arremessar após os cortes dos dois norte-americanos (Cesar, Pedro, Manteguinha e Pilar aproveitavam) e a frenética rotação como suas principais armas. No jogo único contra o rubro-negro na HSBC Arena, a equipe ficou a um arremesso de virar o jogo no minuto final (Renato Carbonari errou) e foi batida por 78-73 em um dos melhores duelos da história do NBB.

gustavo4No NBB passado, praticamente com a mesma base, o Paulistano não foi mal (17-13 na fase de classificação e eliminação para São José nas oitavas-de-final), mas estava claro que a equipe precisava de uma mudança (o espírito da operária equipe finalista havia se perdido, o que é até natural para quem vê o pote de ouro tão perto e não consegue alcançá-lo). E assim foi feito. Saíram Pilar, Holloway, Cesar, Renato, Pedro, Penna, Agba e Labbate de uma tacada só, chegando Caio Torres (bem mais magro, o que é ótimo!), Jhonatan Luz, Valtinho, Gruber, Toyloy e Guilherme. Não foram modificados apenas os nomes, mas principalmente o perfil do elenco e a maneira que este grupo atuaria.

gustavo2Aí entra a capacidade do técnico Gustavo de Conti, que leva o Paulistano a um incrível começo de 7-0 até o momento no NBB (hoje a equipe enfrenta em casa o Minas às 19h30). Sem a "fúria" ofensiva de Holloway no perímetro e nas infiltrações mas com a força de Caio Torres perto da tabela, o treinador teve que desconstruir boa parte do que havia colocado em prática para adaptar o estilo de jogo às novas peças. Isso, aliás, é outro grande mérito dele: não ficar "preso" a um único sistema de jogo, lapidando aquilo que acredita para os atletas que teria em mãos. Sendo assim, Gustavo optou por jogar com dois armadores (Valtinho e Dawkins – este mais liberado para pontuar do que nunca), outro par de alas altos mais abertos (Jhonatan e Gruber) e Caio livre para seus drives perto da cesta.

caioO resultado disso? Sem outro gigante no garrafão o camisa 13 registra ótimos 17,4 pontos e 7,1 rebotes (melhor média de pontos de sua carreira), sendo não só a principal arma ofensiva do Paulistano, mas um dos atletas mais difíceis de se marcar por aqui (seu potencial físico é imenso, sua técnica é muito boa e nas jogadas de um contra um fica bem complicado defendê-lo). Mas ele, claro, não brilha sozinho. Individualmente também se destacam o baixinho Dawkins (14,1 pontos), o veterano Valtinho (prestes a completar 39 anos ele tem 9,1 pontos e 4,8 assistências de média), Gruber (50% nas bolas de três pontos), Gemerson (10,4) e Jhonatan Luz (10,1 pontos e sempre ótimo na defesa). Gosto, também, de Arthur Pecos, jovem armador reserva que mantém o bom ritmo quando entra (6,1 pontos e 3,6 assistências nos 17 minutos em que atua).

cap1Fiel a seu estilo, Gustavo usa bem as trocas que o elenco lhe proporciona, mas dessa vez fecha a rotação praticamente em oito atletas (que jogam 15+ minutos na média). Mesmo sem grandes estrelas o time tem conseguido pontuar bem (84,9 de média, o segundo melhor índice do certame), mesclando as bolas de três pontos (reservadas para Dawkins, Gemerson e Valtinho, os únicos com 3,5 ou mais tentativas por jogo) ao jogo de Caio Torres, em uma prova da mutação em relação ao campeonato de dois anos atrás (o jogo está mais, digamos, agressivo e recheado de passes). Embora o patamar se mantenha em 33% de bolas tentadas da equipe nas duas temporadas, em 2015/2016 o Paulistano é o antepenúltimo que mais arrisca de longe com 25,8, mas subiu o aproveitamento de 34 para 45% (o melhor do NBB atual). O problema, como se vê, não é chutar muito de longe, mas como, quando e com quem tentar.

cap2A defesa, por sua vez, vai muitíssimo bem também. No sábado, no primeiro jogo que a Rede TV! exibiu, o time conseguiu mudar o panorama da partida ao marcar por zona (2-3, 3-2, combinada etc.) em momentos cruciais e que deixaram o rival dos Jardins enlouquecido. Os 32-12 do segundo período se explicam em boa parte por isso. A vitória por 101-77, também. No certame o Paulistano sofre 74 pontos/jogo (excelente média!), com os rivais acertando apenas 29% dos tiros longos (outra prova do que a presença de alas "longos" como Gemerson, Jhonatan e Gruber no perímetro faz) e 47% nos dois pontos. Isso talvez explique o fato da equipe, que não pressiona tanto assim a bola quanto nos últimos NBB's (provoca menos erros), permitir apenas 11,4 assistências/jogo, o que faz com que os rivais tenham que aderir ao jogo de um contra um para tentar pontuar (dos piores índices de conversão do basquete, sabemos bem).

gustavo3É óbvio que o campeonato está apenas começando e que a tabela do Paulistano foi até certo ponto bem razoável (dos sete primeiros jogos, cinco em casa e de rival difícil, difícil mesmo, apenas o Flamengo). Independente disso, vale a pena notar mais um excelente trabalho do "camaleão" chamado Gustavo de Conti. O jovem treinador não parece preso a absolutamente nada, e tem conseguido fazer um elenco totalmente remodelado jogar de maneira diferente da que vinha apresentando nos últimos anos. Já falei e digo novamente por aqui: estamos diante de um dos melhores técnicos brasileiros da atualidade e é muito bom notar a sua evolução.

Olhos abertos para o Paulistano versão 2015/2016. Olhos ainda mais abertos para a metamorfose que Gustavo de Conti vem implantando no clube – e em si mesmo. Que ambos (time e treinador) continuem assim.

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