Do lado de fora, Anderson Varejão fala da expectativa para final do Leste

Anderson Varejão é um dos jogadores mais carismáticos do Cleveland Cavs que começa a decidir o Leste amanhã às 21h30 contra o Atlanta Hawks na Geórgia (Sportv e Space exibem a decisão desta conferência). O carinho dos torcedores de Ohio com ele é muito impressionante nos ginásios e sobretudo nas redes sociais.

Quando você pensa que ele está lesionado, a admiração torna-se veneração. Jogador mais antigo da franquia (está lá desde 2004), o brasileiro de 32 anos recupera-se de uma lesão no tendão e continuará torcendo pelos seus companheiros do lado de fora. Conversei com ele sobre a expectativa de ver novamente a equipe em uma final de NBA, LeBron James, David Blatt e muito mais.

BALA NA CESTA: Como tem sido para você acompanhar estes playoffs do lado de fora? É clichê dizer que é muito mais difícil do que estar lá dentro, mas o que tem chamado a atenção é que você é um dos jogadores mais aplaudidos e reverenciados pela torcida nas redes sociais mesmo sem estar atuando. Consegue explicar bem o que você sente neste momento?
ANDERSON VAREJÃO: É muito difícil ficar fora, principalmente nesse momento, de playoffs, o melhor da temporada. Tudo aquilo que você faz em quadra acaba sendo muito mais importante. Você tem a chance de enfrentar o mesmo time numa série que pode chegar até a sete vezes, então existe aquele jogo de esquema tático, de mudar de uma partida para a outra, então é um momento muito legal, por isso é muito difícil ficar de fora. Mas estou tentando ajudar de outras maneiras. Ajudar os jogadores mais novos, como (Tristan) Thompson, Delly (Matthew Dellavedova) e (Timofey) Mozgov, conversando com esses jogadores que não têm muita experiência em playoffs ainda, tentando ajudar em certos momentos dos jogos, porque já vivi um pouco de tudo isso, passando um pouco da minha experiência. E sobre estar recebendo o carinho da torcida, fico muito feliz por isso, principalmente num momento difícil para mim, de estar fora por causa da lesão. Gostaria que eles soubessem que esse carinho que recebo é o mesmo que tenho por todos eles.

BNC: Sobre a série contra o Atlanta em si, o que podemos esperar de diferente do Cleveland em relação ao duelo contra o Chicago? O Hawks é um time muito homogêneo, que deu muito trabalho a vocês durante a temporada regular. Pela primeira vez nos playoffs vocês não terão mando de quadra também. Qual será o ponto chave desta série em sua opinião?
VAREJÃO: Com certeza vai ser muito difícil essa série contra Atlanta, um time que vem jogando muito bem, que trabalha bastante a bola. Lembra o estilo do jogo do San Antonio, o que é normal, porque o técnico deles esteve ao lado do Popovich por muito tempo. Os jogadores entendem, sabem bem o papel deles em quadra, então vamos ter que entrar muito focados, jogar duro, sem dar espaços e sem deixar que eles gostem do jogo, para podermos vencer essa série. Temos a nossa maneira de jogar. Estudamos muito os adversários e sempre ajustamos uma coisa ou outra em termos de estratégia. Mas a nossa maneira de jogar não pode mudar. Temos nossa identidade e uma sintonia grande.

BNC: Do time que esteve no Brasil para o NBA Global Games para este que irá enfrentar o Atlanta há uma série de diferenças. Você e Kevin Love estão lesionados, JR Smith, Iman Shumpert e Mozgov chegaram, o próprio sistema defensivo mudou com a chegada do russo. Consegue falar desta transformação que passou a equipe no meio do campeonato? Considera que, desde que chegou aí, foi um dos momentos mais complicados vividos pela franquia devido a pressão de fazer as coisas darem certo muito rápido com a volta do LeBron James?
VAREJÃO: Depois das trocas que fizemos, com as chegadas dos três, acho que o time ficou mais completo. Infelizmente eu não estava mais, tinha me machucado, e depois teve a lesão do Kevin Love. A equipe vinha muito bem com o Love e ele machucou, mas o time está respondendo da melhor maneira possível. O Thompson está muito bem, Mozgov também jogando bem, LeBron tem feito um pouco essa função de jogar na posição quatro, então é um time diferente do que foi para o Brasil. Naquele jogo, tínhamos Kyrie, LeBron e Love como os três líderes do time, e outros com muito potencial que vieram ou estavam já no time. Ainda faltava conjunto, faltava jogar junto, treinar mais juntos. Teve aquela pressão durante a temporada quando o LeBron machucou, eu estava machucado, muita gente falando que o técnico ia sair. Acho que o time respondeu muito bem a tudo isso, às críticas que recebeu, aos momentos difíceis, e vem superando até hoje. Na série contra Chicago tivemos problemas de lesão, suspensões e reagimos bem. Acho que estamos no caminho certo.

BNC: Falando no LeBron, o objetivo principal dele na volta a Cleveland era o dar um título pra cidade. Só faltam dois passos, e a gente vê o cara cada vez mais empolgado e entrando em ebulição nos momentos-chaves do playoff. Você é um dos principais companheiros dele, ambos sempre deixaram isso claro, e imagino que vendo do lado de fora troquem ainda mais ideias a respeito do jogo. Como você tem visto o desempenho dele e como você sente LBJ para os momentos finais da temporada?
VAREJÃO: LeBron voltou para Cleveland determinado a ganhar o título. Foi o que ele falou e a gente pode perceber isso. É uma coisa que está clara para todo mundo. Nos momentos mais difíceis que tivemos na temporada e nos playoffs foi quando ele apareceu e decidiu os jogos. Exemplos disso foram a bola naquele jogo em Chicago no último segundo e o jogo 5 em Cleveland, onde ele fez uma partidaça também. No último jogo tivemos o problema da lesão do Kyrie, que precisou sair do jogo, e ele conseguiu fazer o time jogar, ajudado pela excelente atuação do Delly, que foi importantíssimo naquele jogo, defendendo muito bem contra o Derrick Rose. Mas esse é o LeBron. LeBron é um cara que responde muito nem quando está com as costas na parede. Quanto mais complicado for, melhor ele vai responder.

BNC: Nos jogos do playoff temos visto você sempre sentado do lado da comissão técnica, muitas vezes inclusive conversando com os assistentes. É difícil, porque você gostaria de estar em quadra, mas já dá para imaginar você como assistente técnico da NBA em um futuro próximo? Ou você quer cultivar os seus cabelos por muito tempo (Risos)?
VAREJÃO: Claro que as coisas que acontecem no jogo e eu vejo tento passar para eles. Mas eu ainda tenho, no mínimo, uns cinco anos de carreira como jogador.

BNC: Temos dois brasileiros nas finais de conferência. Você tem conversado com o Leandrinho, que tem ido bem pelo Golden State Warriors? Ou a tensão dos playoffs impede qualquer tipo de contato?
VAREJÃO: Não. É tudo muito corrido. Nos falamos quando nos encontramos nos jogos da temporada regular, mas é sempre algo muito rápido. Durante os playoffs o foco é maior, é tudo muito intenso, todos os jogos são decisivos. Agora nossa atenção está toda no Atlanta. Espero que tudo dê certo para a gente aqui e boa sorte para ele nas finais do Oeste.

BNC: Por fim: qual é o seu sentimento neste momento em que seu time está a exatas oito vitórias de se tornar campeão da NBA pela primeira vez na história?
VAREJÃO: Temos que pensar em um jogo de cada vez. Temos uma série duríssima pela frente. Alcançamos um objetivo que era estar na final da conferência. Agora vamos dar um passo de cada vez, porque todos os jogos são decisivos. Vamos em busca de outro objetivo, que é voltar às finais da NBA. Nossa equipe é bastante experiente, temos jogadores que já conquistaram o título da NBA, um grupo bem equilibrado e que vai muito forte para essa série.