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Bala na Cesta

'Sonho que se torna realidade', diz Mutombo, novo membro do Hall da Fama

Fábio Balassiano

27/02/2015 02h28

* O Blogueiro viajou a convite do Canal Space

dikembe4Dikembe Mutombo é um desses caras que você olha e tem vontade de aplaudir, de prestar reverência por tudo o que ele representa. Nascido em Kinshasa, na República Democrática do Congo, o rapaz de 2,18m treinava sozinho na rua até que foi descoberto por um olheiro da Universidade Georgetown. Aceitou o convite não porque queria jogar basquete, mas porque gostaria de se formar em medicina.

Em Georgetown Mutombo jogou ao lado de ninguém menos que Alonzo Mourning e formou com Zo um verdadeiro muro perto do aro. Alto, forte e ao mesmo tempo ágil, despertou a atenção da NBA, onde fez do dedo em riste, no famoso "Aqui não" aos rivais que tentavam atacar a cesta, uma de suas marcas registradas.

dikembe5Jogou, quase sempre sendo o destaque defensivo de seu time, em Denver, Atlanta, Philadelphia, Nets, Knicks e Houston durante 18 anos e aos 48 anos recebeu a maior honraria que qualquer atleta pode sonhar em conseguir.

No All-Star Game Mutombo, 8 vezes All-Star e 4 vezes o melhor defensor do ano, foi indicado para entrar no Hall da Fama de 2015, prêmio dado a ele não só pelo que ele fez em quadra, mas também pelo que representa fora dela. Sabedor das necessidades da população local, Mutombo, pai de seis filhos (quatro adotados), colocou de seu próprio bolso mais de US$ 25 milhões para a construção de um hospital em Kinshasa. Além do hospital, ele não tira o pé do acelerador mesmo com 48 anos e mantém uma série de ações sociais não só em seu país mas também em toda África. Confira minha entrevista com ele.

dikembe6BALA NA CESTA: Dá para descrever em palavras o que você sente neste momento em que faz parte da turma que entrará no Hall da Fama em 2015?
DIKEMBE MUTOMBO: Para mim, subir neste palco e ser reconhecido como um membro do Hall da Fama é uma honra, um privilégio. Vir de onde eu vim e chegar no Hall da Fama é incrível. Um sonho se tornando realidade. Certamente ninguém imaginava que alguém do Congo chegaria tão longe, chegaria a receber a honraria máxima do basquete mundial. Consegui e estou muito orgulhoso disso.

dikembe3BNC: Este menino aí do lado é seu filho?
MUTOMBO: Sim, meu filho.

BNC: A emoção de entrar no Hall da Fama deve ser grande. E a emoção de entrar no Hall da Fama com seu filho acompanhando tudo do seu lado?
MUTOMBO: Significa muito. Deixo um legado importante, mas principalmente uma grande lição para ele e todos da nossa família. Os mais próximos de mim sabem o quanto eu me dediquei para jogar na NBA, para ter uma carreira de sucesso por aqui. É um prêmio imenso pela minha dedicação e um ótimo ensinamento a meu filho. Quem sabe um dia ele não joga na NBA…

dikembe2BNC: Mais do que a si mesmo você acha que representa a África?
MUTOMBO: Sim, creio que sim. Somos um povo com uma história de muito sofrimento, mas ao mesmo tempo muito bonita e de muita luta. Ser um deles em um lugar tão importante como o Hall da Fama é motivo de felicidade para mim e espero que de um imenso orgulho para eles. Uma coisa que aprendi: Não é de onde você veio, mas sim sobre o que você quer ser amanhã. Espero ter deixado este ensinamento para as próximas gerações.

BNC: Muita gente vê em você muito mais do que um jogador de basquete. Seus trabalhos sociais, principalmente no Congo, são muito conhecidos. Você acha que sua imagem ultrapassou as barreiras do esporte?
MUTOMBO: Sei que sou mais que um ex-jogador de basquete e isso me deixa totalmente feliz. Quero ser conhecido como um cara que deu tudo dentro de quadra, mas também que se dedica a ajudar o próximo fora de quadra. Essa é a minha missão e o que continuo fazendo fora de quadra.

denverBNC: Poderia falar um pouco mais de seus trabalhos sociais no Congo, e em como você ainda se mantém conectado com seu país?
MUTOMBO: Sim, claro. Recentemente construí um hospital de US$ 25 milhões para a população local. Vou lá duas, três vezes por ano e sempre que posso levo comigo médicos e enfermeiros dos Estados Unidos para auxiliar as pessoas no que puder. Além disso, com a imagem que criei aqui nos EUA mantenho contato com laboratórios, que enviam gratuitamente remédios para meus compatriotas congoleses. É meu orgulho poder ajudá-los.

finalBNC: Você é certamente o nome mais importante do basquete africano na NBA e sua imagem é muito utilizada pela liga nas ações no continente…
MUTOMBO: No que eu puder ajudar a difundir o basquete eu vou ajudar. Tanto no Basquete sem Fronteiras quanto em qualquer outra atividade. E não só lá, mas também na Ásia, nas Américas, onde quiserem. Sou muito grato a NBA, que me abriu as portas para jogar o esporte que amo no mais alto nível possível, e farei o que estiver ao meu alcance para retribuir.

Sobre o blog

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