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Bala na Cesta

Na estreia da LBF, os mesmos erros de sempre

Fábio Balassiano

29/11/2014 17h53

lbf2Aí você acorda animado para ver a estreia da Liga de Basquete Feminino entre Americana e Barretos. No primeiro lance, a americana Chloe, de Barretos, pede o bloqueio de Barbara e chuta de fora. Bico. No contra-ataque, Americana desperdiça a bola. Chloe retorna, e com possibilidade de atacar a cesta tenta outro arremesso longo. Bico. Digamos que não foi um começo animador, mas eu dei um desconto. Primeira partida, times nervosos, tem dessas coisas. Vamos seguir, vamos tocar o jogo. Vai melhorar.

Mas não melhorou nada. O jogo foi de uma pobre técnica terrível, terrível mesmo. Americana ganhou fácil como era de esperar (97-50), mas ninguém tem nada para comemorar. Houve 52 desperdícios de bola em 135 posses de bola (ou seja, a cada três ataques havia um erro de fundamento), Barretos acertou apenas 17 arremessos de quadra e um punhado de decisões pouco recomendáveis com a bola por parte das duas equipes no ataque. Foi, em suma, uma sucessão dos erros que quem acompanha o basquete feminino cansa de ver ano após ano (escrevi disso recentemente).

lbf1Nem citei, por exemplo, que a primeira partida do atual campeão (Americana) não teve sequer 500 pessoas no ginásio. O público, aliás, foi inflado pela presença de meninas da base. Tirando elas nem 100 pessoas estariam ali. Por isso me incomoda menos o nível técnico e mais que que as meninas do basquete brasileiro não lutem por condições melhores.

A Magic Paula falou isso também pós-Mundial e nada acontece. Que as atuais e futuras jogadoras, portanto, não reclamem depois. Se elas não lutarem, exigirem, ninguém vai dar nada de mão beijada pra elas não.

No masculino ao menos há a Associação de Atletas. Não faz quase nada de relevante (pelo contrário), mas é uma entidade já estruturada e reconhecida. Falta foco, falta ação, sobram bravatas, mas ela existe. No Feminino nem isso.

Qual jogadora, ou grupo de atletas minimamente organizado, irá exigir melhores condições de trabalho, competições mais longas, investimentos na base por parte de Confederação e Federação? A resposta, ao menos por enquanto, é um traço, um espaço em branco. Nenhuma atleta quer sair de sua zona de conforto. Devem achar que está tudo bem, que está tudo ótimo. Olhando uma partida, acompanhando uma competição, vendo os salários das atletas você não precisa ser nenhum gênio para saber que, sim, está tudo errado e que ao menos em um curto espaço de tempo não há solução para este crônico problema (algo que, com os rapazes, a Liga Nacional de Basquete tem conseguido fazer em seus sete anos desde a fundação).

caminho1E se está tudo errado, por que essas meninas não fazem nada, não descruzam os braços, não vão a luta para ajudar a resgatar os dias de glória da modalidade? Há preocupações maiores fora de quadra do que as esportivas? Pode ser, mas não dá para cravar isso. O fato é que o basquete feminino pagou vexame nos 2 últimos Mundiais e Olimpíadas e NENHUM movimento foi feito por atletas. Resultado: pobreza técnica, atraso de ideias e nenhum atrativo nas partidas da LBF.

Próximo passo: voltar a ver o basquete feminino ser amador. Se continuar assim não demorará muito. É uma pena.

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