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Bala na Cesta

Menos seleção, e mais ação no basquete brasileiro, por favor

Fábio Balassiano

12/09/2014 02h01

ruben1Pode parecer tosco o que vou falar, mas vamos começar chutando a porta logo de cara. Para quem acompanha o basquete brasileiro o ano todo, e não durante 15 dias a cada dois anos, seleção brasileira importa pouco, ou menos, em relação ao que o que acontece na modalidade por aqui. Não é diminuir o tamanho da derrota diante da Sérvia há dois dias, mas sinceramente acredito que há coisas muito mais graves para se discutir no cenário nacional do que os fatores que levaram o time de Rubén Magnano à eliminação nas quartas-de-final do Mundial.

Quer um exemplo? Muita gente tem falado sobre os próximos passos da seleção, que jogadores devem ser convocados pensando na Olimpíada do Rio de Janeiro e situações neste sentido. Aí parei, ontem, para fazer uma pequena lista e vi que não há 20 nomes "selecionáveis" para formar uma seleção. Pior, e isso já escrevi aqui quando da convocação de Magnano recentemente: há um hiato absurdo entre os veteranos Nenê, Splitter, Varejão, Huertas e Leandrinho e a nova fornada de ótimos jogadores. Bruno Caboclo, talvez o maior expoente desta geração, não tem 20 anos.

caboclo3A Sérvia que venceu o Brasil tem média de idade de 26 anos. Os europeus estão em ascensão técnica e física, portanto. O Brasil que perdeu da Sérvia, de 31. Os brasileiros estão, portanto, em declínio técnico e físico. A Sérvia trocou de time duas vezes nos últimos 6 anos. O Brasil mantém a base. E mais por falta de mão de obra qualificada do que por acreditar na continuidade de um trabaho.

É absolutamente inadmissível que em um país desse tamanho não seja possível fazer uma simples lista de selecionáveis com 30, 35 jogadores minimamente aptos a vestir a camisa da seleção brasileira. Se da quantidade se extrai a qualidade e hoje não há quantidade para extrair a qualidade é porque alguma coisa não tem sido feita para vermos o número de atletas de basquete deste país aumentar da mesma maneira que em outros esportes.

A verdade é que o basquete brasileiro está parado, travado, completamente anestesiado em termos de gestão há alguns anos. E no topo da pirâmide. Quem deveria dar o exemplo, estimular as federações e subsidiar os clubes com conhecimento e competições nada faz. Na vitória ou na derrota. Na alegria ou na tristeza. Com uma boa campanha em Mundial ou após uma eliminação vexatória na Copa América de 2013. Nada, zero, necas, traço. Escrevi sobre isso há um ano e não houve mudança alguma.

nunes3Vamos continuar, portanto, vivendo de atletas que surgem por conta do acaso. E caso estes atletas surjam na mesma época, por uma coincidência quase que transcendental, aí sim o Brasil poderá novamente ter um bom time. Como é o caso da geração atual recheada de jogadores talentosos que por uma obra do acaso têm praticamente a mesma idade. Depender do trabalho forte e contínuo na base, de planejamento integrado, de desenvolvimento, me parece utópico neste momento pois as cabeças pensantes são as mesmas.

Cobrar de Magnano, Splitter, Huertas e dos outros envolvidos na eliminação na Espanha é justo e faz parte do jogo. Esquecer que eles fazem parte de uma estrutura corroída, retrógrada, com uma falta de competência incrível e que só anda pra trás há quase duas décadas é um equívoco que este blogueiro não pode cometer e que quem gosta da modalidade não pode passar batido.

nunes2Apontar o dedo para a Confederação Brasileira de Basketball, a querida e famosa CBB, é algo que este espaço faz com uma frequência imensa e quase que solitariamente, o que é uma pena pois se mais gente cobrasse a chance de alguma evolução seria maior.

Alguns podem acreditar que é maravilhoso escrever mais sobre política no esporte do que sobre tática ou técnica ou que criticar Carlos Nunes, o presidente, e seus diretores seja excelente. Não, não é. É chatíssimo, na verdade. O problema é que, no Brasil, os resultados de quadra, ou campo, estão quase sempre ligados ao tipo de gestão que há por trás dos atletas e das comissões técnicas. Extrair esse fator das análises sobre o panorama em que se encontra o basquete é leviano, pueril e até ingênuo. Na entidade máxima do basquete nacional faz-se o mesmo há 30 anos. E no prédio da Avenida Rio Branco esperam resultados diferentes. Permitam-me dizer uma coisinha singela: não vai rolar. Agindo igual não vai sair nada distinto daquilo que é visto há décadas.

grego1Quem conhece e acompanha este espaço sabe que quase semanalmente eu faço um texto falando sobre a falta de capacidade administrativa deste núcleo que comanda a Confederação Brasileira desde o século passado. A dívida é crescente, os métodos são os mesmos, o nível intelectual para criação de novas ideias por parte dos dirigentes deixa a desejar, a popularização do esporte definha e os resultados, sem surpresa alguma, não têm aparecido. Nem camisa da seleção é vendida nas vésperas do Mundial para vocês terem noção. É uma bola de neve de problemas do tamanho do Brasil que dá até medo de pensar o que será o futuro quando as verbas federais diminuírem depois dos Jogos de 2016 em uma CBB que é quase sempre sustentada por grana do governo.

No momento da derrota, vale chorar as pitangas de mais uma eliminação da seleção neste século. O fundamental, porém, é não fechar os olhos e só acordar em 2016, com as Olimpíadas. Vale olhar, cobrar, analisar e ver o que está sendo feito, ou não, principalmente pela Confederação e também pelas Federações, LNB, LBF e clubes para uma análise mais profunda sobre a degradante situação em que se encontra a modalidade há tempos.

bra1Só olhando mais para ação do que para seleção o basquete vai sair da lama em que se encontra há anos. Seleção é consequência, é o resultado final de um trabalho sólido e organizado desde a base, e não um produto descolado da realidade do esporte.

Ufa, consegui escrever um texto inteiro sem utilizar parêntese a pedido dos leitores. Obrigado, turma! Valeu mesmo (!).

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