Após amistosos, Seleção Feminina fica um mês sem treinar - é sério
Dá uma preguiça danada escrever sobre este (recorrente) assunto, mas vamos lá. No dia 27 de maio a Confederação Brasileira de Basketball anunciou no site oficial a lista da seleção feminina adulta que viajaria para três amistosos no Canadá. Seria o começo da preparação para o Mundial da Turquia que acontecerá entre 27 de setembro e 5 de outubro.
O time se apresentou ao técnico Luiz Augusto Zanon em 19 de junho, treinou menos de uma semana, viajou e jogou contra as canadenses (e perdeu as três, como disse aqui) entre 26 e 28 do mês.
Em qualquer lugar do mundo (normal, claro) o time teria uma mísera folga e voltaria a se apresentar visando o Mundial da Turquia. A Austrália, por exemplo, treina sem interrupção desde o COMEÇO DE MAIO. Duas de suas principais estrelas, Liz Cambage e Lauren Jackson (esta recuperando-se de uma lesão no joelho – na foto à direita), optaram, inclusive, por não jogar a WNBA para treinar com a equipe nacional (e aqui não vai nenhuma crítica a Érika, Damiris e Nádia, por favor – só quis citar as australianas para mostrar a seriedade da Confederação local). A Espanha, por sua vez, fará três séries de treinos antes da apresentação geral do grupo, que terá uma pancada de amistosos a partir de agosto (veja mais aqui).
E sabem o que a seleção brasileira feminina está fazendo no momento? Nada. Sim, é isso mesmo que você leu. Nada. Depois dos três amistosos em solo canadense ainda não saiu sequer a convocação para a próxima fase de treino. Há um Sul-Americano antes do Mundial (começa em 14 de agosto no Equador) e até o momento nem lista há. De acordo com Zanon, com quem conversei ontem rapidamente, a perspectiva é que as convocadas sejam anunciadas e passem a treinar em 3 de agosto. Ou seja: de 28 de junho (data do último amistoso no Canadá) até a (prevista) apresentação das atletas terá se passado no mínimo um mês. O que estarão fazendo essas meninas neste período? Treinando em seus clubes? Alguém está monitorando? Ninguém da CBB saberá dizer.
Beira o amadorismo este tipo de coisa, vocês vão me desculpar (e disse isso a ele). Elogiei Zanon pela coerência na convocação de um grupo jovem, mantive o (ingênuo) otimismo de que as derrotas fariam parte de uma preparação mais ampla (aqui) e pensei que logo no começo de junho o time já estaria enfurnado em um ginásio treinando duas vezes por dia. Time, este, que é, repetindo, muito novo (ainda longe de estar pronto para os grandes duelos em âmbito mundial), que precisa de experiência em amistosos internacionais de bom nível e repetição em suas práticas diárias com o treinador. Algo que não irá acontecer dessa vez.
Tatiane Pacheco, Débora, Izabela e Leila (para citar apenas quatro exemplos) atuaram muito pouco na temporada de clubes que terminou há mais de três meses com o título de Americana na LBF, e precisariam estar alucinadamente sendo exigidas por Zanon para que mostrassem a evolução que demonstraram na temporada passada, quando o (bom) treinador teve tempo, amistosos e estrutura a disposição para que elas pudessem dar um mínimo salto de qualidade visando a Copa América que viria. Tempo, como se vê, existia. Se fosse no mínimo planejada e organizada, a Confederação teria previsto treinos desde o começo de maio até o torneio na Turquia. Mas a realidade é diferente, vemos agora.
O Brasil vai para um Mundial adulto repetindo os erros de preparação das seleções de base (mais aqui) e mostrando que na atual gestão da CBB, comandada por Carlos Nunes e Vanderlei (foto à direita), esse negócio de "treinamento" é supérfluo, bobagem, um ingrediente menor dentro do desenvolvimento de qualquer equipe.
Zanon e as meninas não têm a menor culpa em relação a isso, que isso fique claro. As duas partes (comissão técnica e atletas) são vítimas de uma Confederação Brasileira com visão arcaica, retrógrada e que dará menos de dois meses (completos) de preparação a eles para um Mundial adulto. Depois não adianta sonhar com resultado. Ainda não existe fórmula mágica para ter sucesso sem trabalho. Acho que só a Confederação Brasileira não sabe disso…
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