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Bala na Cesta

Vitória de Bauru e confusão no Paulista

Fábio Balassiano

03/12/2013 11h48

ricardo1O primeiro jogo da decisão do Paulista Masculino ontem em Bauru teve um primeiro tempo tenebroso, um segundo médio e a vitória de Bauru por 81-78. Foi uma vitória até certo ponto "na marra", porque o Paulistano tinha o controle da peleja até o minuto final, quando os bauruenses, com decisiva atuação de Ricardo Fischer (19 pontos e 7 assistências deste que é um dos melhores do país sem dúvida alguma – na foto à direita), viraram e conseguiram importante triunfo na série. O jogo 2 será hoje às 20h, e a ESPN+ promete transmitir.

Estava com texto pronto para comentar sobre o paupérrimo nível técnico das duas equipes (e me admira muito que o Paulistano, do ortodoxo Gustavo de Conti, tenha chutado tanto de três pontos, com 29 para apenas 10 conversões, quanto de dois pontos, com 31 tentativas), mas não será possível. E não será possível por um motivo não muito nobre.

Durante a partida a torcida de Bauru (como todas desse país e em qualquer esporte, diga-se de passagem) provocou, xingou, tentou mexer com a cabeça dos atletas do Paulistano. Até aí, nenhum problema, chega a ser até normal, embora um estudo antropológico possa ser feito no Brasil pelo fascínio que torcedores por mães de atletas rivais. Alguns jogadores do time da capital, como Pilar (ex-atleta bauruense) e Kenny Dawkins (foto à esquerda) responderam às provocações, também sem violência. Aqui poderia ser aplicada falta técnica, como prevê o regulamento, mas é uma atitude comum na NBA (não é raro vermos atletas que matam os Knicks no Garden brincando com o provocador Spike Lee – veja um exemplo aqui).

dawkins1Tudo estava até certo ponto controlado até o final da transmissão da ESPN. Imaginei que os ânimos quentes ficariam só naquilo mesmo. Mas eis que li a nota que chegou da Assessoria do Paulistano. Reproduzirei de forma completa (e está no site do clube também):

"O Club Athletico Paulistano lamenta a agressão sofrida pelo atleta Kenny Dawkins ao final do Jogo 1 do playoff final do Campeonato Paulista 2013, no túnel de acesso entre a quadra e o vestiário do Ginásio 'Panela de Pressão', em Bauru. O atleta Lucas Tischer (foto à direita), do Bauru Basketball Team, agrediu Dawkins com um empurrão por trás e um tapa no rosto quando o jogador do Paulistano se dirigia ao vestiário ao fim da partida.

O jogador de Bauru correu em direção ao jogador e depois da agressão ainda o pressionou contra a parede, ameaçando um soco no rosto. Ele só foi parado quando o roupeiro do Paulistano, Djalma Silva, interveio entrando entre ambos, sendo também agredido de raspão na cabeça no processo.

O Club Athletico Paulistano continua com seu propósito de jogo limpo, na bola e decidido dentro da quadra, pelos atletas, que são os verdadeiros donos do espetáculo. Lamentamos e repudiamos veementemente atitudes anti-desportivas como a do atleta Lucas Tischer.  Torcemos e pregamos que a sequência do Campeonato Paulista seja de mais espírito esportivo. Club Athletico Paulistano".

Falei nesta manhã com a assessoria de Bauru, que negou tudo. Agora há pouco recebi o Comunicado Oficial do Bauru Basketball Clube. Vamos lá:

lucas1

"O Paschoalotto/Bauru Basket declara que em nenhum momento o atleta da equipe bauruense, Lucas Daniel Tischer, agrediu o jogador do Paulistano, Kenny Dawkins. No túnel de acesso aos vestiários, Lucas e Kenny iniciaram uma discussão que foi logo apartada por membros da comissão técnica e diretoria da equipe bauruense.

O que lamentamos profundamente foi a atitude antidesportiva do atleta Kenny Dawkins que a todo o momento provocou a torcida bauruense, inclusive disparando uma cusparada em direção às arquibancadas. Outros atletas como César e Mineiro insultaram a torcida bauruense, provocando ainda mais e estimulando a violência. Ressaltamos que o Paschoalotto/Bauru preza pelo jogo limpo e acredita que o basquete se faz dentro de quadra e não com acusações sem fundamentos".

Como se vê, são duas versões completamente diferentes de um único fato (razão pela qual não é possível tirar conclusão alguma e devemos tratar os dois esclarecimentos como 'versões'). Não sei, sinceramente, se há circuito interno no ginásio Panela de Pressão para que alguma imagem apareça, mas fica a tristeza por mais um episódio triste no basquete brasileiro. Mais uma vez é ele, exclusivamente ele, o basquete, que sai perdendo nessa história toda.

Enquanto os atletas, técnicos e dirigentes não entenderem que este tipo de notícia ruim só atrapalha (o texto, aqui no blog, seria APENAS sobre a partida e teve que ser cortada pela metade…) o esporte não vai sair do buraco (sim, porque está no buraco há quase 20 anos!).

Alguns ainda tentarão culpar a imprensa (a série, a independente, não a "parceirinha"…), mas não adianta dourar a pílula. Aconteceu alguma coisa em Bauru, isso está bem claro pra mim. Há, portanto, que se divulgar as versões (mesmo que a conclusão não se possa tirar). E lamentar. Lamentar profundamente por uma ação absurdamente covarde de um atleta contra um companheiro de profissão.

Climão pro jogo 2 de logo mais, hein…

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