Técnico do Olympiacos, Giorgios Bartzokas exalta espírito coletivo do time
Não é fácil arrancar um sorriso do introvertido Giorgios Bartzokas. Para ele, estar na quadra é sinal de respeito. Respeito ao basquete, ao treinamento. Durante os 75 minutos em que comandou o treino de seu time antes da decisão contra o Pinheiros, no domingo, Bartzokas cansou seus atletas com as jogadas que faria no dia seguinte, em repetições que chegaram perto da perfeição no final. Técnico do Olympiacos desde a temporada passada, quando se tornou o primeiro grego a conquistar a Euroliga (em 2013, além do principal caneco europeu, ele foi eleito o melhor treinador do continente), o ex-jogador do Maroussi que teve que abandonar a carreira de forma precoce aos 28 anos devido a uma séria lesão no joelho.
Rodou por todas as categorias de base do basquete local, foi assistente e assumiu seu primeiro clube em 2006. Levou o modesto Larissa três vezes seguidas aos playoffs no Campeonato Grego, voltou ao Maroussi, onde foi eleito o técnico do ano em 2010 levando o time ao Top-16 da Euroliga com o mais modesto dos elencos (foi surreal mesmo!) e no ano seguinte foi ao Panionios, um clube médio que terminou o campeonato em terceiro. De lá foi contratado pelo Olympiacos, seu time do coração. Aos 48 anos, ele concedeu entrevista exclusiva a este blog e falou não só sobre basquete, mas também sobre o que ele conhecia do país.
BALA NA CESTA: Depois desse título, o primeiro da temporada, dá pra considerar o Olympiacos o campeão mundial de basquete?
GIORGIOS BARTZOKAS: Não sei se somos campeões mundiais, mas creio que essa união entre o basquete dos dois continentes é muito positiva, com a criação deste torneio. É uma competição muito importante e esta viagem é uma coisa que vamos nos lembrar para sempre. Não diria que [a diferença técnica] é muito grande. O Pinheiros tem um jogo muito organizado e metódico. A diferença foi o peso do banco. O Pinheiros deixa muito tempo sete jogadores em quadra.
BNC: Antes de falarmos sobre o Olympiacos em si, o que lhe vem a cabeça quando falamos do Brasil?
BARTZOKAS: Olha, eu sou fã do futebol brasileiro, fã mesmo. Consigo escalar times daqui, sei da força do Fla-Flu e no Olympiacos jogaram Rivaldo e Giovanni, dois craques. Fora do futebol, Oscar Schmidt e Marcel de Souza são os caras que eu mais conheço do basquete brasileiro, além dos jogadores que atuam na NBA e de Marcelinho Huertas, no Barcelona. Lembro bem dos jogos no Mundial de 1990, na Argentina, quando o Oscar e Panagiotis Giannakis, de quem depois eu seria assistente, protagonizaram duelos absurdamente incríveis. Não lembro bem dos números, mas foi um show dos dois, algo realmente inesquecível (Nota: Brasil e Grécia jogaram duas vezes naquele Mundial: no primeiro jogo, Oscar fez 35 pontos e Giannakis, 38; no seguinte, o brasileiro teve 44 e o grego, 30).
BNC: Foi impossível não notar no seu treinamento a sua insistência por picks consecutivos no ataque.
BARTZOKAS: (Me cortando) Ficou tão claro assim, é? É a maneira como gosto de jogar, sim. Mas uma coisa precisa ficar clara: eu só posso jogar assim, com este time, porque meus pivôs são rápidos para fazer o corta-luz na cabeça do garrafão e receber a bola embaixo da cesta depois dele. Além disso, é fundamental saber que nem sempre conseguiremos atuar assim, visto que é a defesa adversária que fornece ao ataque a maneira como ele deve atuar. De todo, você tem razão: gosto de explorar esses picks que você cita porque eles deixam meus jogadores em ótimas condições de finalizar e quase sempre desequilibram a defesa.
BNC: Falando um pouco sobre você, um técnico novo, de 48 anos com bons resultados e que em sua primeira temporada em um clube de expressão já ganhou a Euroliga. Nos treinamentos, a julgar pelo que eu vi, você parece bem rígido, bem duro com seu time.
BARTZOKAS: Não tão novo assim, mas vamos lá. Para trabalhar em alto nível não há outra maneira, não. Tem que se manter o foco lá no alto, a concentração sempre em alto nível. Todos aqui são profissionais, e merecem ser cobrados como tal. Dos mais novos aos mais velhos. Não há mudança no teor da cobrança entre ninguém por aqui, pode ter certeza. É no treinamento que melhoramos, e é por causa dele que, mesmo com um elenco bem jovem e de menos investimento em relação aos demais times da Europa, conseguimos conquistar a Euroliga ano passado.
BNC: E como foi chegar ao Olympiacos depois de temporadas em times de menor expressão?
BARTZOKAS: O Olympiacos é uma religião, é uma instituição tradicional na Grécia com quase 50% dos torcedores do país. Não sei se as pessoas têm essa noção por aqui (no Brasil), mas a pressão é imensa por lá quando falamos em basquete. Os jornais, as TV's, os sites que há cobrem o time e eu por vezes tenho que ficar em alerta para que minhas declarações não repercutam além da conta. Nós somos o time mais popular, e o Olympiacos é quase uma religião na Grécia. É o time mais popular do país. Qual seria o mais popular do Brasil?
BNC: Eu gostaria de dizer que é o meu, o Fluminense, mas não seria verdade.
BARTZOKAS: Sim, isso, o Fluminense, o Flamengo. É isso mesmo. Temos uma história no futebol, no vôlei do clube também. Sou Olympiacos desde criança, e você deve imaginar o orgulho que sinto ao dirigir o time de basquete. É um sonho realizado.
BNC: Entendi. Aí você chega ao clube do seu coração, o time de infância, e de cara torna-se o primeiro grego a ser campeão da Euroliga. Qual foi a emoção?
BARTZOKAS: É algo indescritível. Mas só conseguimos porque tivemos uma força mental muito grande. O time é disciplinado, sabe o que fazer. E todos respeitam meus métodos. Tive proposta para sair do Olympiacos, mas me sinto muito bem no clube, que entende, gosta e compartilha da minha filosofia de basquete coletivo, solidário. É algo que acredito não só no esporte, mas na vida também.
BNC: E quão difícil foi se transformar técnico de um time grande poucas temporadas depois de assumir equipes menores?
BARTZOKAS: Não, não. Difícil, não. Foi mais fácil porque você tem muita gente boa em torno de você – de assistentes a médicos, passando por jogadores. A pressão é imensa, mas o grupo que está ao seu lado é muito bom e ajuda também. O que aumenta mesmo é a pressão. São 10 milhões de gregos, a metade torce por nós, meios de comunicação em cima. Aí você imagina.
BNC: Sobre sua filosofia de jogo, reparamos que você adora utilizar nove, dez, até 11 jogadores por partida, como foi na última Euroliga. É algo que você acredita fortemente, não?
BARTZOKAS: Olha, o basquete é coletivo, e só dá pra vencer nessa modalidade jogando de forma coletiva. Nem Michael Jordan conseguiu ganhar campeonatos sozinhos, então como nós aqui conseguiríamos? Se temos 9, 10 jogadores em condição de atuar, por que não utilizar? A questão, para mim, é deixar o time o mais descansado possível, em melhores condições para defender e atacar com intensidade, velocidade e força física. Basquete, hoje, mais do que nunca é um jogo de equipe, e que não se ganha apenas com cinco atletas. Ter isso em mente é fundamental para vencer, seja no ataque, com jogadas que possibilitem a todos eles oportunidades de pontuar, ou na defesa, com todos participando da marcação. Este é um esporte altruísta, solidário, e com todos tendo que atacar e defender. É a essência do jogo e procuro passar isso ao meu time.
BNC: Por fim, como é seu método de estudo? Livros, palestras, clínicas?
BARTZOKAS: O que mais gosto mesmo é de ver vídeos de jogos dos meus times e dos adversários e ver treinos e jogos das categorias de base, onde posso conversar com técnicos das categorias de base. Lá é possível ver novas jogadas e movimentos que posso fazer na categoria adulta de forma mais crua, mais elementar. O mais importante é estar sempre antenado e aberto para novidades que aparecem. Não gosto de dar conselhos, pois isso é muito pessoal, mas se pudesse dizer algo é o seguinte: ame o jogo, e devore todo conteúdo possível para melhorar a cada dia.
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