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Bala na Cesta

Fala, Leitor: Paulistas jogam mais e calendário do basquete nacional segue inchado

Fábio Balassiano

16/07/2013 11h40

Por Guilherme Giavoni

Tradicionalmente os torneios estaduais fazem parte do calendário esportivo brasileiro. No basquete isso não é diferente. De agosto até novembro ou dezembro, os estaduais servem de pré-temporada para o NBB e para outras competições, como a Liga Sul-Americana. Os estaduais também serviriam como oportunidade para que os pequenos times enfrentem os grandes, mas no fim das contas, na fórmula atual, eles acabam criando alguns problemas.

Em 2012, o Paulista de Basquete teve 15 participantes. O XV de Piracicaba desistiu em cima da hora e o Araraquara fechou as portas (agora sinaliza uma volta para o ano que vem, após a reforma do Ginásio Gigantão), sendo substituído pelo Jacareí, que até então iria jogar a Série A-2 e foi obrigado a montar outro time. Com isso o Grupo B ficou com um participante e duas rodadas a menos.

O Grupo A foi composto por Pinheiros, Paulistano, Palmeiras, São José, Suzano, Mogi, Metodista e Santos. Já o Grupo B tinha Bauru, LSB, Limeira, Jacareí, América, Rio Claro e Franca. Das 15 equipes do campeonato, apenas 5 (33%) não disputariam o NBB 5 (Santos, Metodista, Rio Claro, América e Jacareí) e nenhuma delas passou para a segunda fase do torneio estadual. O Rio Claro se classificou para a Copa Brasil e o XV de Piracicaba, campeão da A-2 também, mas não conseguiram o acesso. Mesmo assim podem aparecer na segunda divisão do NBB que deve começar em 2014.

Com a divulgação da primeira fase do Paulista pela FPB para a edição de 2013, está explícito que apenas o campeão da primeira fase do Paulista (que reúne América, Espéria, Rio Claro, Lins, São Caetano, Jacareí e Dracena) disputará o Paulista da Série A-1, que vai ter mais os dez times do NBB e o XV de Piracicaba. Ou seja, se o Rio Claro vencer a primeira fase, TODAS as equipes classificadas já disputam algum campeonato nacional (com a desistência do Suzano e de problemas com Lins – segundo a FPB – o Jacareí também conseguiu a vaga na maior fase do torneio).

Onde está, portanto, a tal festa do interior? O regulamento do Paulista ainda será muito semelhante ao do NBB. Um grupo único de 12 times disputando turno e returno para que os 8 primeiros passem aos playoffs. Por sinal, o Paulista 2013 começará no dia 1º de agosto e ainda não teve a tabela divulgada. "Artigo 5 – FASE DE CLASSIFICAÇÃO – As associações comporão uma única chave e jogarão em turno e returno, conforme tabela de jogos elaborada pelo Departamento Técnico da F.P.B.."

O crescimento do NBB é mais notável quando olhamos para o Paulista de 2009. O primeiro Novo Basquete Brasil havia sido realizado e essa edição do Paulista teve 14 times – 7 deles estiveram no NBB e 7 representavam "o interior do Estado", metade para cada lado. Neste ano teremos apenas Jacareí, Rio Claro e XV de Piracicaba como representantes extra-NBB, ou 25% dos times inscritos. 

Sobre o calendário

O regulamento também afirma que o campeonato deve acabar em dezembro, já durante a realização do NBB6, que já tem data para começar (9 de novembro). Juntando com a Liga Sul-Americana (que começa em outubro), poderemos ter aquela confusão de datas novamente, com um festival de jogos adiados e em sequência. E como Pinheiros e São José sofreram na temporada passada…

Ao invés de diminuir datas, o Paulista terá 22 jogos na primeira fase e se algum time passar apenas na 5ª partida dos playoffs nas três últimas fases, jogará ao todo 37 partidas, ao invés de 29 como foi no último Paulista (o São José fez 3 a 2 no Franca, no Bauru e no Pinheiros e jogou no grupo com mais times).

O NBB termina em junho e começa apenas em novembro. São quase 5 meses de intervalo (a NBA, por exemplo, termina em junho e começa novamente em outubro, mas graças à pré-temporada o intervalo entre o fim e o começo dos jogos é de aproximadamente 3 meses). Com alguns estaduais começando em agosto, os jogadores têm pouco mais de um mês de férias. O nacional deveria começar antes, juntamente com a redução dos estaduais, já que várias equipes não jogam grandes torneios em seus respectivos estados (em 2012 no Carioca, por exemplo, havia apenas 4 agremiações e no Mineiro, o Minas inscreveu duas equipes).

Ainda neste semestre teremos a importante Copa América (de 30 de agosto a 11 de setembro, mas os convocados devem se apresentar bem antes para os treinos), que dá 4 vagas ao Mundial do ano que será disputado na Espanha. Além das datas apertadas entre os clubes, alguns atletas irão para a seleção, desfalcado suas equipes na primeira fase do Paulista, como Caio Torres, novo atleta do São José. A título de comparação, a boa Liga Nacional Argentina começará quase três semanas após o classificatório para o Mundial, mais precisamente no dia 27 de setembro. Claro que o Lanús, por exemplo, acabou tendo os playoffs nacionais e a Liga das Américas ocorrendo praticamente juntos, mas as datas argentinas proporcionam inclusive a realização de um Super 8, que acontece em dezembro.

Trocando a quadra pela grama

Vamos rapidamente comparar o basquete com o futebol. O Paulista é o único estadual com 20 equipes – só empata em número de times com o Brasileirão. Dos 20 times, apenas 9 não estão em divisões nacionais (8 se considerar que o São Bernardo jogou a Copa do Brasil sendo o atual Campeão Paulista da Série A-2), isso contando que Portuguesa, Guaratinguetá e Barueri, que estão na A-2, jogam os nacionais. Com esses três times na elite, apenas 20% das equipes do estadual estariam fora dos nacionais. Há 4 anos (2009), 15 de 20 equipes estavam em divisões nacionais. A discussão do papel dos estaduais de soccer no calendário fica para outra hora. O futebol ainda dará duas vagas para a Série D, a quarta divisão nacional. Antigamente o basquete também era assim, os melhores do estadual jogavam o Brasileiro da CBB.

Conclusão

Sem ver pelo lado financeiro e desconsiderando as cotas da TV (claro que as do futebol são infinitamente maiores), é difícil entender a razão da Federação Paulista de Basquete querer bater de frente com a Liga Nacional de Basquete. Em 2012, a FPB declarou que não permitiria o adiamento de partidas do seu torneio Sub-19 em razão da LDB, a Liga de Desenvolvimento do Basquete, torneio idealizado e realizado pela LNB e que neste ano terá o recorde de jogos.

É interessante ver que ainda temos muitas ações contrárias no basquete nacional. Não estou apontando o certo ou o errado, apenas que algumas federações e a LNB estão remando em direções contrárias. O estadual pode existir sim, como pré-temporada do NBB (que é o principal torneio nacional), com menos datas e talvez dividido entre Interior e Metropolitano como era há muitos anos. Isso contribuiria para que clubes e jogadores possam se organizar de forma melhor, evitando a remarcação de jogos e as maratonas de partidas.

O que não concordo é que no fim das contas as equipes paulistas joguem até 37 partidas a mais que o Basquete Cearense ou o Brasília, por exemplo, que não atuam em um estadual. Ou por volta de 20 pelejas a mais que Flamengo, Fluminense, Tijuca, Joinville, Vila Velha, Minas e Uberlândia.

Construindo um cenário forçado em que um time paulista, Pinheiros ou São José, por exemplo, jogue absolutamente todos os playoffs do NBB (com o regulamento da temporada 2012/2013 e 21 times em turno e returno), do Paulista até o quinto jogo e Ligas Sul-Americana ou das Américas até o Final Four (usaremos o regulamento do ano passado para dar o exemplo), chegamos a um número assustador. A equipe terá feito exorbitantes 102 partidas* em apenas uma temporada, com pouco mais de um mês de férias. Na NBA, com 3 meses de férias, o total de jogos até sétima partida dos playoffs  é de 104. No caso do Brasília, seriam apenas 65 jogos, bem menos que uma temporada regular completa da NBA. Está na hora de repensar todo esse calendário.

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