Após fiasco no Mundial Sub-19, no detalhe todos os resultados do basquete brasileiro nos últimos 15 anos
Você leu aqui ontem que a seleção brasileira masculina Sub-19 não conseguiu se classificar para as quartas-de-final do Mundial que está sendo disputado em Praga, na República Tcheca. O time de Demétrius terminará da nona colocação pra baixo, aumentando o já imenso cartel de vexames da administração de Carlos Nunes.
Na Confederação Brasileira como presidente desde 2009, o gaúcho não implementou nenhum projeto relevante para o basquete, arrebentou os cofres da entidade (leia mais aqui, aqui e aqui), sucateou ainda mais as já sucateadas divisões de base e em quatro anos conseguiu apenas um resultado ótimo (o bronze no Mundial Sub-19 do Chile em que Damiris foi MVP). Tirando isso, é de nono pra baixo ou ausência nas competições Classe A nas categorias inferiores, o que comprova que os resultados internacionais são inversamente proporcionais ao dinheiro que sua Confederação tem recebido nos últimos anos (e verba pública, seja de Eletrobrás, seja de Ministério do Esporte, que, apenas para o Sub-19 masculino injetou mais de R$ 800 mil). Sendo mais claro: cofres do governo têm derramado uma fábula no basquete, e os resultados não têm vindo.
Se é um fato que a administração Carlos Nunes é caótica em termos financeiros e quase uma nulidade em termos de resultados internacionais consistentes, apontar o canhão apenas para ele é errado também. A Espanha é o que é (segunda força no masculino e agora campeã europeia no feminino) por um trabalho forte na base há quase 20, 30 anos (desde as Olimpíadas de 1984, em Los Angeles, que os espanhóis abriram o olho e fomentaram a iniciação desde a escola, com núcleos em todas as regiões do país e capacitação de técnicos nos melhores polos de basquete do planeta). Logo, a tragédia chamada basquete brasileiro não vem de quatro, cinco anos.
Por isso fiz um apanhado dos resultados internacionais nos últimos 15 anos (1998-2013), e os resultados são assustadoramente péssimos, trágicos mesmo. Coloco abaixo as competições Classe A (Mundiais Sub-19, Sub-19, Sub-21, Adulto e Jogos Olímpicos), a posição com um número e um NF quando a seleção simplesmente não participou da competição (NF = Não foi). Vejam as performances brasileiras como foram se deteriorando com o tempo (a da Sub-19 de Demétrius está como (9+ pois a posição final ainda não é conhecida, e a Sub-19 de Janeth ainda disputará o Mundial este ano).
Não sei se isso é o fundo do poço, porque os dirigentes da Confederação sempre nos surpreendem, mas acho que está meio óbvio que é necessária uma grande reflexão sobre o que está sendo feito no basquete brasileiro (ou o que não está sendo feito, né). Dirigentes de clubes, Federações, jogadores, técnicos, árbitros, todos deveriam se sentar em uma sala fechada, costurar ideias e propor algo para que a modalidade saia da lama em que se encontra há 15 anos. Insisto sempre na mesmíssima pergunta de quatro, cinco anos pra cá: Qual é o plano para recolocar o basquete em uma posição de destaque no esporte desse país?
O grande problema, e talvez uma analogia com o que se tem visto nas ruas do país seja permitida por aqui, é o estágio de letargia que vejo não só entre dirigentes e atletas, mas também na imprensa. Com raríssimas exceções, a "Comunidade do Basquete", usando um termo que odeio, perdeu a capacidade de se indignar, de se revoltar, de questionar as várias situações erradas que temos visto há anos. Os resultados são terríveis? "Perdemos nos detalhes". O balanço financeiro é uma tragédia? "Ah, mas quem liga pra isso? O negócio é bola na cesta, rapaz". Verbas públicas sendo derramadas em uma entidade que não tem um projeto sequer? "Ah, estamos melhorando aos poucos. Rio-2016 tá aí".
Como disse o sociólogo Manuel Castells ao O Globo de domingo, "o Brasil não vai parar de protestar". O país aparentemente acordou, está indignado, partiu para uma batalha no mínimo moral contra os desmandos que tem sofrido nos últimos anos (50, 60, 100 anos, sei lá eu). O basquete, por sua vez, ainda não bateu no peito e concluiu o famoso "estamos numa draga danada e precisamos mudar". Enquanto não houver isso, desculpe terminar assim, mais nonos lugares em Mundiais ou penúltimas colocações em Olimpíadas virão.
E ninguém vai poder reclamar que não estava no roteiro de gestões pavorosas que comandam a modalidade há anos.
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