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Bala na Cesta

Reflexão importante: o que o título do Pinheiros na Liga das Américas ensina aos clubes do país

Fábio Balassiano

15/04/2013 11h25

Neste fim de semana, o Pinheiros se sagrou campeão da Liga das Américas, seu primeiro torneio internacional conquistado na centenária história de um dos clubes mais tradicionais do país. Veio para coroar um dos trabalhos mais consistentes/persistentes/insistentes da diretoria comandada por João Fernando Rossi e também uma das melhores estruturas e gestões esportivas do país.

Em primeiro lugar acho importante falar da parte esportiva, de quadra mesmo. O Pinheiros terminou o NBB4 perdendo para Brasília no quinto jogo em São Paulo. Perdeu a partida, a vaga na final e dias depois três titulares saíram (Marquinhos, Olivinha e Figueroa). Seria uma catástrofe se não fosse a tranquilidade do Rossi, ativo ao cubo nas redes sociais e ainda mais perspicaz na montagem do elenco para esta temporada. Conversei algumas vezes com ele e vi sua loucura por números e informações para formar o time deste campeonato. Foi cirúrgico na contratação de Joe Smith, correto ao manter os lesionados Shamell (MVP da Liga das Américas – na foto ao lado) e Bruno Fiorotto, preciso trazendo Márcio Dornelles para defender e ensinar ao jovem Lucas Dias, visionário ao manter Paulinho e Rafael Mineiro e inteligente ao fechar o elenco com jogadores ótimos de composição (role players, como se fala na NBA) como Fernando Penna, o paraguaio Araújo e André Bambu. Não sei se algum time tem, hoje, dez jogadores do mesmo nível para rodar em quadra como o da capital de São Paulo.

No ciclo de contratações entra o segundo mérito do Pinheiros. O da gestão segura, sem sobressaltos, sem loucuras. Depois de perder sua estrela maior (Marquinhos) e um dos melhores jogadores do NBB (Olivinha), o clube poderia ter alucinado o mercado, oferecido mundos e fundos para repor as peças desesperadamente. Mas não foi isso que a diretoria fez (sabiamente, aliás). Manteve-se fiel ao seu estilo de gestão austera (leia mais aqui no blog do site da LNB), a uma filosofia que é cultivada em todo clube ("o Pinheiros trabalha com uma norma de que todos os esportes de alto rendimento devem ser auto sustentáveis", disse Rossi ao veículo citado acima) e apoiou-se em sua brilhante estrutura.

Renovou contrato com seu parceiro de longa data (a Sky), focou no trabalho físico, um dos melhores do Brasil (o time está voando em quadra!), seguiu investindo pesado na base (uma de suas principais qualidades – a formação, tão em extinção no país…), deu espaço a jovens no começo da temporada (apareceram Lucas Dias, Leandro, Humberto, Pedro etc.) e soube dosar as energias simultaneamente em todas as competições que disputou (Paulista, NBB, Sul-Americana e Liga das Américas). Isso tudo, é bom lembrar, pagando em dia, sendo sustentável e sem nenhum problema de quadra, ginásio, goteira ou coisa do gênero. Trabalhando quietinho, de forma organizada, sem dar ouvidos para o destacado favoritismo de Brasília e Flamengo o time achou que chegaria longe. E chegou.

É um modelo esportivo que dá certo, que foca na formação, na saúde financeira e na persistência – e vem dando certo há mais de 100 anos. O Pinheiros é um dos que menos leva pessoas ao ginásio no NBB. Acho que o clube pode pensar maior a partir de agora, usando o Ibirapuera para jogos grandes e investindo pesado em comunicação para lotar a sua casa, mas sinceramente é o menos importante. Dentro de um panorama com clubes fechando, salários atrasados, dinheiros públicos de prefeitura custeando esporte de alto rendimento e verbas de futebol bancando o basquete, o que o Pinheiros faz em termos de gestão (financeira, esportiva, estrutural) é absolutamente magnífico em formação, educação e alto rendimento.

Apenas lembrando: o Pinheiros chegou à decisão do Paulista nos três últimos anos (título em 2012), foi vice em Liga Sul-Americana e Interligas (este, duas vezes), duas vezes semifinalista do NBB (2010-2011 e 2011-2012) e agora é o campeão da Liga das Américas. Não há coincidência no esporte. Há trabalho, planejamento, organização e seriedade. Tudo isso se aplica ao clube do Jardim Europa, de São Paulo. Se deu resultado agora, é porque a plantação foi feita lá atrás e cuidada com muito carinho e estrutura.

Que sirva de lição para os demais clubes do país.

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