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Bala na Cesta

Jovem armador Gegê aproveita bom momento do Flamengo no NBB para seguir em evolução

Fábio Balassiano

14/01/2013 11h00

George Frederico Torres Homem Chaia é daqueles rubro-negros de arquibancada mesmo. Sabe tudo da história do clube, ama futebol e já viveu muita coisa no cimento do Maracanã ou a quilômetros de distância (em 2009, ainda jogando na Espanha, viu pela televisão o título brasileiro na casa do amigo Lucas Bebê). Os anos se passaram, George virou Gegê e foi jogar no clube do seu coração (não é raro vê-lo no aquecimento ou em lances-livres olhando para a enlouquecida torcida). Um dos destaques do time de melhor campanha do NBB (10-0), o armador de 21 anos (faz 22 em 8/3) enfrenta hoje o São José no ginásio do Tijuca (20h) para manter a invencibilidade na competição e para mostrar que está cada vez mais pronto para brilhar em alto nível. Campeão da primeira Liga de Desenvolvimento pelo Flamengo no ano passado, chegou a hora, após passar uma temporada no Tijuca que o revelou, daquele menino que cantava para os craques do futebol ter o seu nome entoado pelos mesmos torcedores que o acompanhavam no Maraca.

BALA NA CESTA: Chega a surpreender esse começo de NBB pra vocês também? Ninguém gosta ou espera perder, mas vocês estão surpresos com esse 10-0 até então?
GEGÊ: Acho que é a prova que o trabalho tem sido bem feito, né. A cada dia que passa estamos evoluindo, a cada dia que passa estamos mais entrosados e o mais importante é que cada um está brilhando em uma partida. Aqui não dependemos de uma estrela, de uma força. Somos muito fortes coletivamente. É cedo pra ficar falando sobre playoff, título, essas coisas, mas esperávamos começar bem, começar forte mesmo. Está dando certo, e é muito legal.

BNC: O que vocês estão esperando desse jogo contra São José nessa segunda-feira no Tijuca? Você jogará contra o Fúlvio, armador que é uma das referências na posição por aqui.
GEGÊ: É um time forte, e não é a toa que são os atuais campeões paulistas. Eles têm feito boas campanhas no Paulista e também no NBB. Vamos nos preparar bem para enfrentá-los. Sobre o Fúlvio, é um dos melhores da posição por aqui, e será ótimo poder enfrentá-lo. Pude conversar um pouco com ele no Jogo das Estrelas do ano passado em Franca, e atuar contra ele será importante, mais uma forma de evoluir.

BNC: No ano passado você jogou no Tijuca no NBB e acabou vindo pro Flamengo para ser reserva do Kojo do NBB. Mesmo assim, tem conseguido bons minutos (18 minutos por jogo). Queria que você falasse sobre sua nova função e como é o dia-a-dia com o norte-americano.
GEGÊ: Só tenho a agradecer ao Tijuca por essa passagem que tive por lá. Foi no Tijuca que consegui me adaptar ao jogo de adulto, fazer essa transição que é sempre difícil entre o juvenil e o adulto. Sobre o Kojo, é um cara sensacional e com quem aprendo muito todos os dias. Parece clichê, mas é verdade. Não há guerra entre a gente, não há disputa alguma. O importante é o grupo, é o Flamengo vencer. Vim para o Flamengo para aprender, para crescer, e estou conseguindo isso tudo. Tenho jogado bastante, e isso é ótimo.

BNC: Vejo que, além do Kojo, você tem uma relação bem próxima do Benite, ala-armador titular da equipe. É por aí mesmo, certo?
GEGÊ: Sim, é isso sim. O Benite é meu companheiro de clube e um amigo que criei fora das quadras. É um cara que tem um ano a mais que eu, mas uma experiência de basquete muito maior que a minha. Procuro conversar com ele pra tentar aprender, pegar as coisas e pergunto sobre tudo. Não tenho vergonha, não. É um irmão que eu tenho aqui no Flamengo. Treinamos juntos várias vezes, conversamos demais sobre jogadas, sobre como podemos melhorar, como podemos efetivamente nos desenvolver. É um cara que me espelho muito.

BNC: E sobre o Neto, técnico de vocês aqui no Flamengo. Ele parece um cara bastante exigente.
GEGÊ: (Risos) Bastante exigente. É o papel de todo grande técnico, né. Não tem muito jeito. O mais importante que ele passa pra gente é que ainda não ganhamos nada, que ainda temos muita coisa pela frente. Ele foca bastante na questão da defesa, é um viciado nisso, e dá muitos toques pra gente sobre contra-ataque, como encaixar a melhor jogada. Está sendo muito bom trabalhar com ele nesta temporada. Ele cobra muito dentro e fora de quadra (parte física principalmente), e isso faz com que a equipe evolua.

BNC: Sobre você, ano passado você treinou com a seleção brasileira e queria saber um pouco de você em relação ao seu futuro, o que você planeja, essas coisas.
GEGÊ: Meu período na seleção foi fantástico. Aprendi muito, muito mesmo e vi como é difícil se manter naquele alto nível. Vi, também, o que devo fazer pra chegar lá. Foi realmente um período de muita aprendizagem com o Magnano e com os demais atletas. A realidade de lá é cobrança, cobrança, cobrança. Vi que o mais importante é se dedicar nos treinos e estar focado para sempre crescer.

BNC: E sua passagem pela Europa? Você foi junto com o Lucas Bebê e com o Ronald, de Brasília, mas acabou voltando. O que houve?
GEGÊ: Foi um período muito importante, mas ao mesmo tempo muito difícil. O Bebê é um irmão pra mim, um cara que tenho um carinho imenso. Passou por maus momentos por lá, e agora tem ido muito bem e merece todos os elogios. É hora de elogiar. O cara mudou. Tive o azar da crise, que bateu justamente na hora que cheguei lá. Neste momento, as ligas que jogávamos não ficaram mais tão atrativas, por questões financeiras, e como eu não tinha o passaporte europeu achei que não estava mais tão bacana pra mim. Tive um aprendizado imenso, mas achei que era uma hora boa pra voltar, com o NBB crescendo bastante, um momento bacana para retomar minha carreira aqui no Brasil.

BNC: Uma das coisas que os jovens mais falam comigo é sobre a dificuldade que há na transição do juvenil pro adulto. É o mais difícil mesmo? Por que quando você saiu do Tijuca não procurou um clube pra ser titular? É melhor ser reserva de um time que vai disputar títulos (o seu caso) ou ser titular de outro em que você tem mais minutos, mas menos chance de ir longe?
GEGÊ: Essa é sempre uma boa questão, e creio que todos nós jovens ficamos pensando nisso. Mas é muito raro ver um garoto que sobe pro adulto com 30, 35 minutos por noite. É raro, bem raro mesmo. Aos poucos vou ganhando meu espaço, quanto mais trabalho tenho certeza que o espaço vai chegando. Se por aqui não há os minutos que citei, há treinos contra caras de seleção, competições internacionais (Sul-Americana e Liga das Américas), um técnico de seleção e jogos de playoffs muito puxados. Posso ganhar mais do que se estivesse jogando em um clube sem tanta pressão. Esporte é feito de escolhas. Você nunca sabe o dia de amanhã. Eu fiz a minha, e espero que tenha sido a certa. Meu espaço está sendo conquistado aos poucos.

BNC: Pra fechar: você é rubro-negro doente, daqueles que iam ao Maracanã, em arquibancada, desde criança. É diferente jogar no clube do coração? Como é, pra você, ouvir a torcida cantando seu nome, vibrando a cada cesta?
GEGÊ: Cara, é um sonho, é diferente de tudo o que já aconteceu na minha vida. A paixão pelo clube de futebol não dá pra esconder. Posso, um dia, jogar em outro clube, em outra cidade, porque sou profissional, mas o Flamengo é meu clube do coração e é maravilhoso jogar aqui. Você vem jogar em um sábado à tarde, olha pra cima e vê os caras ali cantando, gritando, te apoiando o jogo todo. Eu fico todo arrepiado quando falo (ele mostra o braço neste momento), imagina ali dentro de quadra. Tem vezes, durante o aquecimento, nos lances-livres, que eu fico olhando pra eles, cantando mentalmente as músicas que eles estão cantando. É sensacional, muito sensacional mesmo!

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